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Crónica – Reino Unido acaba com incentivos a elétricos. E por cá?…

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29/7/2022. O Reino Unido anunciou que vai acabar com os incentivos à compra de carros elétricos, depois de já o ter feito em relação aos híbridos “plug-in”. Consideram que os elétricos já têm idade para andar pelo seu próprio pé. E em Portugal, como estamos?…

 

Em 2011, o Reino Unido, como muitos outros países, introduziu um incentivo para a compra de veículos elétricos e híbridos “plug-in” num valor que podia chegar a um máximo de cinco mil libras (5 600 euros).

A ajuda aos “plug-in” foi entretanto retirada, e o apoio aos elétricos foi sendo gradualmente reduzido, com condições cada vez menos vantajosas.

Na sua última versão, a ajuda resumia-se a um desconto de apenas 1500 libras (1 700 euros), exclusivamente atribuído a quem comprasse um carro 100% elétrico e com um preço de tabela que não podia exceder as 32 000 libras (35 600 euros).

Calcula-se que existam 24 modelos diferentes à venda no Reino Unido que cumpram estes requisitos. Mas. logicamente, a ajuda não chegava aos elétricos mais caros.

Por exemplo, um Tesla Model 3, que no Reino Unido custa a partir das 42 990 libras, não recebia qualquer ajuda do Estado. E não deixou de ser o modelo elétrico mais vendido no mercado local por causa disso.

Não é precisa ajuda

Agora, o governo acabou com qualquer tipo de ajudas à compra de veículos elétricos. E a lógica desta medida é muito difícil de contrariar.

Dizem os governantes britânicos que, apesar dos sucessivos cortes nas ajudas à compra de elétricos, que se têm vindo a verificar desde 2011, as vendas não têm parado de subir no Reino Unido.

Portanto, poucos são os compradores de carros elétricos que realmente precisam do apoio do Estado para o fazer, é a conclusão do gabinete do Nº 10 de Downing Street.

Gastar o dinheiro noutro lado

Segundo o comunicado oficial, em vez de dar descontos aos compradores de carros elétricos, o governo vai empregar os 300 milhões de libras alocados a esse efeito em incentivos para táxis elétricos e “plug-in”, motos elétricas, comerciais ligeiros elétricos, camiões elétricos e veículos elétricos adaptados ao transporte de pessoas em cadeira de rodas.

A notícia deste corte não gerou grandes reações, nem há qualquer indício de que tenha tido o mínimo efeito nas vendas de carros elétricos. A realidade já ia à frente dos incentivos há muito tempo.

Em Portugal é ao contrário

Por cá, o cenário é o oposto. O “bolo” total de ajudas à compra de veículos elétricos tem subido nos últimos anos. Em 2017 valia 2,3 milhões de euros, para 2022 vale 10 milhões, mas agora inclui carros de passageiros, comerciais, motociclos, bicicletas e até carregadores de baterias para condomínios.

Ao contrário do Reino Unido, o preço de tabela do carro elétrico pode ir até aos 62 500 euros

Para 2022, foi estabelecido que haveria ajuda para a compra de 1300 automóveis 100% elétricos, com uma comparticipação estatal de 4000 euros por cada um.

Mas, ao contrário do Reino Unido, o preço de tabela do carro elétrico pode ir até aos 62 500 euros, o que me parece perfeitamente desajustado, face à oferta de carros elétricos atual, que começa em valores muito mais baixos.

A minha pergunta é muito simples: será que um comprador de um Tesla Model 3 (custa a partir de 54 990 euros em Portugal) precisa mesmo de receber 4000 euros de apoio do Estado?…

Quanto aos comerciais ligeiros, foram abertas candidaturas para apenas 150 carros, com um apoio de 6000 euros para cada um. Aqui passa-se o oposto, poucos apoios num setor que muito precisa deles para fazer a transição energética.

Vendas em Portugal “explodiram”

Mas será que estes apoios ainda fazem algum sentido? Vejamos as vendas de carros elétricos em Portugal em 2021. No total, foram vendidos 13 260 unidades, o que representou uma subida de 69% face ao ano de 2020.

A marca que vendeu mais carros elétricos em Portugal em 2021 foi a Peugeot, com o e-2008 a ser o preferido da sua oferta, um carro que custa pouco mais de 36 000 euros.

Parece-me que as conclusões são fáceis de tirar. As ajudas do Estado à compra de carro elétrico não chegam a beneficiar 10% dos carros vendidos. E, num Peugeot e-2008, a ajuda representa cerca de 11% do custo do carro.

Conclusão

O Reino Unido achou que os elétricos já têm idade para andar pelo seu próprio pé e canalizou os incentivos para outras áreas mais necessárias. Por cá, parece que os responsáveis do Fundo Ambiental ainda não perceberam que o mercado de carros elétricos já não precisa da sua ajuda. No mundo da eletrificação, há tantas áreas onde os 10 milhões de euros seriam melhor empregues…

Francisco Mota

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P.S. – A Crónica à 6ª feira vai de férias em Agosto e volta na primeira semana de Setembro. No seu lugar regressa a crónica “Coisas que Irritam”, que animou a Silly Season há 12 meses. Para quem se lembra aqui fica o Link para a última:

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