A Lynk & Co, a nova marca da chinesa Geely, portanto irmã da Volvo, lançou uma “bomba” de comunicação, ao dizer que os seus carros vão ter garantia vitalícia. Esqueça os sete anos da Kia, ou os trinta anos anti-corrosão da Mercedes-Benz, a nova marca desenvolvida em Gotemburgo vai oferecer garantia dos seus automóveis para toda a vida. Para o modelo de negócio tradicional, isto seria um suicídio, mas a Lynk & Co é tudo menos tradicional, anunciando muitas coisas novas na maneira de lidar com os seus futuros clientes, que ainda só podem comprar carros na China. A chegada à Europa e EUA só está prevista para o final de 2018, sendo que a fábrica está localizada na China.

Como funciona isto?

Mas voltemos ao modelo de negócio, para perceber o que vale este anúncio da garantia vitalícia. A marca não quer vender carros, vai tentar “ceder” os seus modelos mediante uma assinatura, uma subscrição, como hoje se faz de uma revista ou de uma conta no Spotify: enquanto o cliente pagar a mensalidade, pode usar o carro, quando deixar de pagar, entrega-o. Sem mais complicações, sem entradas, sem taxas adicionais, sem valores residuais. Nada. Ou seja, a marca nunca deixa de ser a proprietária do carro, na verdade, apenas o aluga. Portanto, a questão da garantia nem se aplica, nestes casos, que a marca quer que sejam a maioria dos seus clientes, repito, por isso se associou aos especialistas de compras pela internet da Alibaba. Claro que, se um cliente quiser mesmo comprar a pronto ou com financiamento, também o poderá fazer, mas isso não vai de modo nenhum ser promovido, desde logo porque vai ser usada uma política de preço fixo, sem descontos; e o negócio será feito através da Internet. Não vão existir concessionários da Lynk & Co, apenas algumas boutiques onde, quem não quiser fazer a transação pela internet, se poderá dirigir para ter um interlocutor humano.

Novas gerações

A Lynk & Co diz que as novas gerações querem distância dos concessionários tradicionais, mas a verdade é que, sem eles, portanto fazendo o negócio direto com o cliente final, sempre vai buscar mais alguma margem… Mas, e a manutenção, como será feita? A resposta, dos visionários da marca diz que vai ser tudo muito fácil: o cliente marca um dia no site da marca e alguém virá buscar o seu carro, para fazer a manutenção e depois entregá-lo de volta. Mas onde vai ser mudado o óleo, as pastilhas e tudo o resto?

A plataforma é a mesma CMA que serve de base também ao Volvo  XC40 e aos futuros V40 e eventual S40.

A ideia inicial é ser estabelecido um acordo com as atuais oficinas da Volvo, para fazerem manutenção e reparação dos Lynk & Co, uma vez que a plataforma dos seus modelos é a mesma CMA (Compact Model Architecture) que serve de base também ao XC40 e aos futuros V40 e S40. Mas Alain Visser, o vice-presidente da companhia, já disse que, se não for possível chegar a um acordo com os concessionários da Volvo, não exclui a hipótese de fazer contratos com oficinas de outras marcas, ou de marca nenhuma, o que implica um mínimo de formação para alguns mecânicos e as eventuais ferramentas especiais necessárias. Não parece uma ideia de execução imediata.

Vamos fazer uma “vaquinha”?

Mas há mais. Os clientes vão poder comprar um carro em sociedade, existindo depois uma App que determina quanto dinheiro cada um terá de pagar mensalmente, de acordo com o tempo que usou o carro, em relação aos seus “sócios.” Além disso, qualquer um deles poderá sub-alugar o carro, quando nenhum dos sócios precisar dele, através de outra App, ao estilo da AirBnB. A conetividade é outra das bandeiras da Lynk & Co, que anunciou que todos os seus modelos vão estar sempre ligados à internet e que isso também fará parte do pacote, quando o cliente fizer a assinatura. Para garantir que a sua “cloud” vai funcionar como deve ser, associou-se aos especialistas da Ericsson.

Não há opcionais, há coleções

Outra das novidades é a ausência de opcionais. O cliente poderá escolher entre oito cores e nada mais. A marca diz que as novas gerações já não dão valor a muitos dos opcionais disponíveis em algumas marcas, que só se interessam em ter segurança, um bom nível de equipamento e conetividade. Mas a verdade é que a ausência de opcionais poderá fazer descer os custos de produção e de logística até 25%, o que certamente será muito apreciado pelos donos da Geely. Para resumir, Alain Visser diz que os Lynk & Co, vão ser como smartphones com rodas. Na verdade, com tanta revolução no modelo de negócio, chega a ser estranho que o automóvel em si seja o mais convencional possível: estrutura em aço, motor dianteiro a gasolina de três ou quatro cilindros, com turbocompressor e uma versão híbrida.

Conclusão

Também aqui, a simplicidade parece ser a maneira de não falar na redução de custos, esperando que os clientes cedam ao charme de uma marca de automóveis que se apresenta como uma marca de roupa cara. Até vai ter coleções ao estilo outono/inverno, com novas cores a serem lançadas no início de cada estação. Estou genuinamente curioso em saber como um mercado tão conservador como o automóvel, vai reagir a tanta inovação.