O que fazer quando chega a hora de substituir um carro que foi um sucesso de vendas? É uma das perguntas mais difíceis da indústria, saiba como a Renault lhe deu resposta.

 

Foi lançado em 2013, vendeu 1,5 milhões de unidades e domina o segmento dos B-SUV na Europa. Mais, em Portugal, neste preciso momento, é o segundo carro mais vendido, atrás do Renault Clio. Estou a falar do Captur.

A Renault foi das primeiras a chegar ao segmento B-SUV, os que são derivados de modelos utilitários, neste caso do Clio.

Quando o fez, foi de forma convincente, ocupando rapidamente a liderança do segmento. No início tinha poucos concorrentes, hoje tem mais de vinte.

Seis anos depois, chega a altura de substituir o Captur, pois a plataforma do Clio passou a ser a CMF-B, pertencente a uma família que dará a base a 80% de todos os modelos do Grupo Renault até 2022.

Por isso, o Captur também tinha que mudar, por imperativos de racionalidade industrial, mesmo se as vendas não mostravam sinais de erosão: nunca pararam de subir.

A plataforma CMF-B

Mais leve, mais rígida, maior e muito melhor preparada para as novas soluções de conetividade e de ajudas à condução, a CMF-B foi também pensada para receber uma versão híbrida “plug-in”, que deverá chegar ao mercado em Julho de 2020.

É uma novidade no segmento e que recebe o nome de “E-Tech”. Usa um sistema único da Renault, juntando um motor a gasolina de 1.6 litros a dois motores elétricos, uma bateria de 9,8 kWh e uma caixa de velocidades especial atingindo uma autonomia em modo elétrico de 45 km, circulando abaixo dos 135 km/h.

Mas isso é o futuro, o mais próximo acontecerá em Janeiro, quando as versões “térmicas” do Captur chegarem ao mercado, equipadas com dois motores a gasolina: 1.0 TCe (100 cv) e 1.3 TCe (130 ou 155 cv) e um Diesel 1.5 dCi (95 cv ou 115 cv).

As versões menos potentes com caixa manual de cinco, as intermédias com manual de seis e as de topo com opção por uma EDC de dupla embraiagem e sete velocidades.

Mais espaço no interior

A nova plataforma permitiu um aumento do comprimento em 110 mm e da distância entre-eixos de 170 mm, valores substanciais que permitem aumentar o espaço para as pernas na segunda fila.

Mais do que isso, reposicionam o Captur no topo do segmento B-SUV, deixando um hipotético espaço para um futuro SUV mais pequeno.

O trabalho estilístico feito no segundo Captur conseguiu manter a herança do primeiro modelo, acrescentando uma boa dose de identidade própria.

A grelha de maiores dimensões, a linha de cintura mais alta e a traseira com farolins LED em forma de “C”, como na frente, resultam muito bem. Sobretudo ao vivo e em movimento.

Melhor qualidade

O interior também melhorou muito, não tanto como aconteceu com o novo Clio, pelas simples razão de que o Captur partia de um nível superior.

Mas a presença de materiais macios no topo do tablier, portas da frente e mesmo na consola central, fazem a diferença.

O painel de instrumentos passa a ter duas opções digitais, uma de 7” e outra de 10” e o monitor central é quase um tablet, com 9,3”.

Este interface com o sistema de infotainment tem a organização de menus conhecida do novo Clio, está ligeiramente orientado para o condutor, sendo fácil de usar.

Só tem um problema: a superfície não é anti-reflexo, o que o torna quase num espelho, em situações de muita luz.

A unidade ensaiada não estava equipada com o novo tejadilho panorâmico em vidro, mas imagino que o problema seja ainda maior, nesse caso.

Em termos de arrumação, os porta-objetos são maiores, mas a Renault insiste no porta-luvas de abertura em gaveta, que choca contra as rótulas do passageiro da frente, quando se abre.

Boa posição de condução

A posição de condução parece um pouco mais alta do que no modelo anterior, dando uma visão ótima sobre a estrada, em frente. Mas a zona vidrada lateral e posterior mais pequena, faz o oposto.

É o incentivo para usar a nova câmara de 360 graus, que se liga quando se engrena a marcha-atrás, mas também se pode ligar num botão, a baixas velocidades.

O banco de trás ganhou 170 mm no comprimento para os joelhos, e continua a ter a possibilidade de deslizar na longitudinal em 180 mm (mais 20 mm que antes) o que permite jogar com o aumento da capacidade máxima da mala, que é de 536 litros (mais 81 litros que antes, com o banco puxado à frente e o piso no nível inferior); ou o espaço para passageiros.

Mais ajudas, melhor conetividade

Depois, o Captur aumentou a oferta em termos de ajudas à condução, que se reúnem sob o nome “Easy Drive” e incluem o aviso de saída de estacionamento e a travagem de emergência com reconhecimento de peões e ciclistas.

A designação “Easy Connect” agrega todas as soluções de conetividade como o monitor “Easy Link” e uma aplicação para smartphone, a “My Renault”, que permite manter a ligação com o carro, à distância.

Primeiro contacto na Grécia

O primeiro contacto dinâmico com o Captur aconteceu nas estradas da Grécia, algumas de muito bom piso, onde o Captur mostrou grande estabilidade, sem oscilações parasitas da carroçaria.

Mas também por estradas em pior estado. Enquanto o pavimento foi irregular, mas sem buracos, a suspensão até o conseguiu processar bem, sem grandes solavancos para os ocupantes.

Na altura de passar por cima de tampas de esgoto desniveladas, ou bandas sonoras de plástico, a suspensão já não se mostrou tão confortável, sentindo-se pancadas secas que as jantes de 18” só conseguem piorar. É o preço a pagar por ter que controlar um centro de gravidade mais alto que o Clio.

1.3 TCe de 130 cv: o melhor

A unidade ensaiada tinha o motor 1.3 TCe de 130 cv, o tal que foi feito em colaboração com a Daimler, acoplado a uma caixa manual de seis relações.

Só tenho bem a dizer deste conjunto, que exibe muito boa elasticidade a baixos regimes (nota-se um leve acréscimo de força a seguir às 2000 rpm) e é muito suave e rápido a subir de rotações.

A caixa é também rápida e precisa, não exagerando nas relações mais longas de quinta ou sexta. Ainda sem ter guiado a versão 1.0 TCe, mas conhecendo esse motor do Clio, não arrisco muito se disser que, muito provavelmente, o 1.3 TCe será a versão mais equilibrada do Captur.

Num troço de montanha, de bom piso, foi possível pôr à prova a dinâmica do Captur numa condução mais rápida.

Escolhido o modo de condução Sport, no sistema Multi Sense, o acelerador fica mais sensível, mas a direção mantém-se quase sem alteração na assistência, o que é bom.

A carroçaria não inclina muito em curva, a frente tem uma resistência boa à subviragem e a traseira só muito provocada desliza uns milímetros, antes que o ESC entre em ação e reponha tudo no seu lugar.

Não é um comportamento entusiasmante, mas é preciso, sem grandes oscilações, mesmo em pisos ondulado e que inspira muita confiança. É o que se quer de um B-SUV.

Conclusão

A segunda vez do Captur resultou num B-SUV maior, reposicionado no topo do segmento. Com mais espaço no habitáculo, mais ajudas à segurança e melhor conetividade.
Para já, ainda não foram divulgados os preços, apenas há a indicação de que vão subir face ao modelo anterior. Depois de o guiar, percebo a razão.

Clicar nas setas para percorrer a galeria de imagens

Ler também, seguindo este link:

Novo Clio em teste: o carro que os portugueses vão comprar