As versões RS da Skoda não são novidade, mas num SUV Kodiaq, com motor Diesel de 239 cv?… No mínimo, inesperado.

 

É um barómetro muitas vezes usado por quem faz testes de automóveis: a reação dos transeuntes à passagem do carro a ser testado.

Por vezes, pode ser uma reação enganadora, pode refletir apenas a curiosidade por uma pintura numa cor berrante ou original. É preciso dar o desconto…

Mas o mais comum é ser a resposta a um desenho novo, diferente da norma, ou uma nova geração de um modelo com muita popularidade.

O tipo de expressões a que se assiste, dão logo uma ideia da receção que espera o novo modelo.

Depois há os carros muito caros, muito desportivos, muito grandes, muito luxuosos. Tudo o que é “muito”, chama a atenção, nem sempre pelos melhores motivos.

Um SUV Skoda com 239 cv

E depois há este Skoda Kodiaq 2.0 TDI RS, o maior dos SUV da marca, aqui pintado num apelativo azul “race” com acabamentos negros, que lhe dão um ar invulgarmente agressivo, para um Skoda.

Talvez por isso tenha despertado tantos olhares de surpresa, a quem o via passar durante os dias em que o estive a testar: “mas que Skoda é este?… será mesmo um Skoda?…”

A marca Checa do grupo VW está numa fase de expansão continuada há vários anos, com as suas fábricas no limite da produção. Uma unidade nova vai ser construída.

A hora é a certa para arriscar em modelos como este: uma versão desportiva de um SUV de 4,7 metros.

Não será para vender em grande volume, mas terá um efeito de cartaz publicitário para compradores das outras versões.

Mostra aquilo de que a Skoda é capaz, ou melhor, aquilo que a VW permite que a Skoda coloque no mercado.

Há uns anos, um produto destes seria impensável, na gama da Skoda. Agora, surpreende, mas não é minimamente descabido.

Detalhes de bom gosto

Os detalhes exteriores que fazem a diferença estão criteriosamente posicionados ao longo da carroçaria e incluem os habituais para-choques mais altos, as “saias” laterais, o spoiler por cima do vidro traseiro e vários acabamentos em preto brilhante, com destaque para a grelha e para as jantes de umas generosas 20”. E os escapes estilizados, na traseira. Falsos mas bonitos.

O tratamento RS continua por dentro, com dois excelentes bancos desportivos dianteiros, que fazem tanto pelo ambiente do interior como pela postura dos ocupantes.

Os acabamentos interiores juntam a vertente desportiva a um nível de qualidade acima do normal na marca.

Excelentes materiais em quase todo o lado, detalhes de bom gosto e uma ergonomia acertada.

O volante transmite um tato sofisticado, apesar de a sua base plana não ser do meu gosto, porque é inútil.

O monitor central de 8” é um dos melhores do grupo VW, fácil de ler e fácil de manipular.

O painel de instrumentos de 12,3”, digital e configurável, segue o mesmo caminho e ambos contribuem para o ambiente “caro” que se vive dentro deste Kodiaq RS.

Não deixa de ser prático

Claro que também lá estão as questões práticas que têm feito a fama da Skoda, como o desafogado espaço nas três filas de bancos (sim, tem sete lugares), mala com 520 litros e alguns detalhes que facilitam a utilização no dia-a-dia. Mas esses eram de esperar.

A maior cedência à racionalidade, nesta versão mais emocional do Kodiaq, é sem dúvida a escolha do motor.

Resistindo a ir buscar o 2.0 TSI numa das suas variantes mais potentes, a Skoda preferiu usar o 2.0 TDI na especificação mais expressiva, com dois turbocompressores e 239 cv.

Assim, consegue aceder a um binário máximo de 500 Nm às 1750 rpm e a prestações mais do que convincentes: 0-100 km/h em 7,0 segundos e 220 km/h de velocidade máxima. E assim, sem ter que pagar a fatura dos consumos do motor a gasolina.

Se o “papão” do Diesel poderá afastar alguns compradores, isso já é outra questão. Mas a Audi até fez o mesmo, com as novas gerações dos seus modelos “S”.

Muita força, mesmo…

Basta acelerar a fundo para ficar convencido com a escolha da Skoda: muita força, muito binário a baixos regimes e um crescendo nos médios que faz o conta-rotações correr para o corte, às 5000 rpm, com vontade de mais.

O exercício é acompanhado por um som de escape alto e extrovertido, gerado por um sintetizador que o liberta por um altifalante.

É um “postiço” exagerado, a força do motor não precisava de tanto espalhafato. Mas pode ser desligado.

A caixa que acompanha o motor é uma DSG de sete velocidades, suave em “D”, rápida e perspicaz, em “S” e obediente quando comandada pelas patilhas agarradas ao volante, que só têm o problema de serem muito pequenas.

Amortecedores ajustáveis

A suspensão tem amortecedores ajustáveis, com boa separação entre os modos Comfort, Normal e Sport. Os modos de condução ainda acrescentam o Eco/Snow/Individual.

O primeiro, permite enfrentar as ruas de pior pavimento com uma serenidade típica de uma suspensão muito bem calibrada. Apesar das enormes jantes, os pneus (235/45 R20) não mancham o conforto, que é muito bom.

A utilização em cidade é muito fácil, com a posição de condução alta a dar uma excelente visão do trânsito e os sensores e câmara traseira a cuidarem do resto, nas manobras. O Kodiaq nunca se sente um SUV demasiado grande.

Em autoestrada, as oscilações típicas dos SUV altos estão muito bem controladas, os ruídos aerodinâmico e de rolamento são contidos e a reserva de potência sob o pé direito dá sempre imensa confiança, para alguma mudança de faixa que tenha de ser feita mais depressa.

No painel de instrumentos há até um indicador da potência instantânea, em KW, e da pressão dos turbos.

Única questão desagradável na autoestrada é que o Kodiaq RS paga classe 2, pois tem tração às quatro rodas.

Com todo este visual e as promessas que o motor faz, nada mais certo do que procurar uma estrada secundária, para lhe conhecer a dinâmica desportiva.

Bem equilibrado

A primeira impressão vem da direção, que mostra o equilíbrio certo entre rapidez, tato e leveza.

Tem uma afinação própria, mais substancial que nos outros Kodiaq, mas isso é bem vindo, tendo em conta as performances de que é capaz.

O acerto da suspensão também é único do RS, mais firme mas mantendo a tendência subviradora, como se pode perceber  no seguinte teste.

Numa curva média e prolongada, entrando com o Kodiaq bem equilibrado nas quatro rodas e depois começando a acelerar progressivamente, é o eixo da frente que primeiro sai da linha.

É preciso exagerar na velocidade para isto acontecer, o que está apropriado para um SUV que mantém a vocação familiar, pois a correção é instintiva: basta desacelerar.

Para um condutor mais experiente, há a opção de inverter um pouco esta atitude, travando depois de começar a virar, para colocar a traseira numa ligeira deriva.

Não havendo opção de desligar o ESP, a manobra sai melhor em modo Sport e os travões do RS (ventilados nas quatro rodas) facilitam tudo isso.

Mas não é radical

Não se espere, contudo, que a tração às quatro rodas leve este indício de sobreviragem muito além.

O sistema usa uma simples embraiagem multidiscos central, que a Skoda afirma ser capaz de enviar até 85% de binário para uma só roda.

Mas isso só acontece em situações extremas de condução em neve ou gelo, e com a intervenção da travagem seletiva por roda.

Uma coisa é certa, a tração para extrair o RS das curvas lentas é sempre muito boa.

Em modo Sport, os amortecedores DCC (Dynamic Chassis Control) limitam bem a inclinação lateral da carroçaria, que se mostra bem controlada, mesmo quando aparece uma bossa a meio de uma curva rápida.

Mas não se espere desta versão um comportamento desportivo radical, pois, mesmo em Sport, a suspensão mantém um bom nível de conforto, ou seja, não vai atrás da última décima de eficácia.

No final do teste, incluindo todo o tipo de condução, o computador de bordo marcava 8,0 l/100 km, o que é um bom valor, considerando os 1913 kg de peso e as performances disponíveis.

Para isso contribui a caixa, que faz “bolina” quando se desacelera em ritmo de cruzeiro e a tração que, nessa situação, passa apenas potência às rodas da frente.

Conclusão

Apesar do completo equipamento de série, das afinações específicas, da performance, do espaço e da facilidade de utilização diária, os 74 968 euros que este Kodiaq RS custa atiram-no para um patamar que não se associa a um produto da Skoda. E isso ainda vai demorar a mudar.

Potência: 239 cv
Preço: 74 968 euros
Veredicto 3 (0 a 5)

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