Jeep Wrangler 4xe (fotos de João Apolinário)

Cinco portas e quase cinco metros de comprimento

Fechos de capót exteriores são um detalhe de charme

Pega interior ajuda a içar o corpo para o banco

A icónica grelha do Jeep original permanece

Tomada para carregar a bateria, mas apenas em AC

Pneus 255/70 R18 Bridgestone Dueller

4xe é o símbolo dos híbridos plug-in da Jeep

Luzes traseiras fazem lembrar os primeiros Jeep

Estribos laterais são realmente úteis para entrar

Motor de quatro cilindros a gasolina e dois motores elétricos

Modo elétrico em fora de estrada é surpreendente

Condução dá prioridade ao fora de estrada, onde o Wrangler está em casa

Suspensão muito confortável em todos os pisos

Posição de condução muito alta

Painel de instrumentos com leitura fácil

Ecrã tátil central com muita informação útil

Botões dos vidros elétricos no fundo da consola

Robustas alavancas da caixa e da transmissão

Espaço em largura não é muito, mas bancos são confortáveis

Bom espaço em comprimento, mas não em largura

Mala tem 533 litros, mas o acesso é complicado por duas portas

Versão 80th Anniversary como o atesta este autocolante

A febre dos híbridos “plug-in” chegou ao icónico Jeep Wrangler. O 4×4 que nasceu para a segunda grande guerra tem nesta última geração uma versão que permite entrar em qualquer terreno sem ninguém dar conta. Mas será que consegue cumprir a sua missão?

 

Comparar o atual Wrangler a qualquer outro SUV é pura perda de tempo. O Jeep continua a ter um chassis de longarinas e travessas, em cima do qual está a carroçaria, separada. E tem eixos rígidos, à frente e atrás. Além disso, é um carro grande, por fora e (relativamente) pequeno por dentro.

Em termos de capacidades de utilização fora de estrada, o Wrangler só se compara às melhores “pick-up”, que partilham os mesmo princípios. Tudo se consegue à base de mecânica e pouca eletrónica. Nada a ver com o luxuoso Defender que testei aqui no Blog TARGA 67 há pouco tempo.

Versão 80th Anniversary como o atesta este autocolante

Mas a entrada no mundo dos híbridos “plug-in” era inevitável, para reduzir as emissões anunciadas de CO2 e evitar as multas. Para os adeptos mais antigos do modelo, eletrificar o Wrangler pode parecer uma heresia. Mas será mesmo?…

Capacidades TT intactas

A marca afirma que todos os cabos de alta tensão estão tão bem isolados que se mantém a passagem a vau de 76 cm e os ângulos TT são, basicamente, os mesmos.

Por fora também pouco o distingue dos outros Wrangler, a não ser a sigla 4xe, que agora serve para as versões “plug-in” da marca e alguns sublinhados a azul. Olhando para a história do modelo, o verde escuro da unidade que ensaiei fica particularmente bem a um Jeep.

4xe é o símbolo dos híbridos plug-in da Jeep

Quem entrar num Wrangler pela primeira vez vai notar de imediato duas coisas: que os estribos fazem falta para chegar aos bancos e que as enormes dimensões exteriores não têm correspondência no habitáculo.

Pouco espaço no interior

Na frente, falta largura, o condutor vai encaixado entre a consola central e a porta. Atrás, o espaço em comprimento é razoável, mas a largura não é confortável para três adultos.

Bom espaço em comprimento, mas não em largura

A mala tem 533 litros, mas o mais estranho é que a parte superior com o vidro, abre para cima e a parte de baixo metálica, onde está ancorada a roda, abre para o lado.

A qualidade dos materiais é sobretudo utilitária, sem grandes requintes, mas também sem chocar pela simplicidade. A ergonomia dos múltiplos botões é imperfeita, para ser simpático. Os botões dos vidros elétricos estão no meio da consola.

Botões dos vidros elétricos no fundo da consola

Mas o ecrã tátil é fácil de ler e de usar, tendo bastante informação relativa à condução fora de estrada. O volante precisava de maior regulação em alcance, mas os seus botões são fáceis de usar e a pega é boa.

Um 4xe mecânico

Este sistema híbrido é totalmente diferente do usado pela Jeep no Compass. A tração às quatro rodas é mecânica, ao contrário do Compass, onde as rodas de trás são movidas apenas pelo motor elétrico.

Painel de instrumentos com leitura fácil

No Wrangler 4xe o motor elétrico de 145 cv está alojado na caixa automática de oito relações. É este motor que permite a utilização em modo 100% elétrico a velocidades até aos 130 km/h, com uma autonomia anunciada de 45 km.

Depois, há uma segunda máquina elétrica, um motor/gerador acoplado ao motor 2.0 turbo de quatro cilindros. Este segundo motor elétrico tem por missão substituir o alternador e motor de arranque e dar um “boost” adicional de 63 cv, em arranques e recuperações.

Ecrã tátil central com muita informação útil

A bateria de iões de Lítio está sob a mala e tem 17,3 kWh de capacidade, estando selada numa caixa de alumínio. Pode ser carregada numa tomada (AC) de 2,3 kW e demora 6h18, ou então numa wallbox de 7,4 kW e demora 2h30. Não pode usar um carregador rápido DC.

Modo elétrico

Comecei o meu teste em cidade com a bateria carregada, usando o modo elétrico. Apesar dos 2276 kg, o binário elétrico máximo no arranque, permite uma agilidade mais que suficiente no meio do trânsito, pelo menos em avenidas largas.

Modo elétrico em fora de estrada é surpreendente

Claro que os 4,88 metros de comprimento obrigam a fazer contas de cabeça em locais mais apertados, mas os 1,894 m de largura nem são um enorme problema. A facilidade de dosear o acelerador é uma boa ajuda, nas manobras, mas os 12,3 m de diâmetro de viragem, nem por isso.

Posição de condução muito alta

A direção é muito assistida e tem 3,24 voltas, de topo a topo, o que exige alguma mão-de-obra para circular em cidade. A posição de condução muito alta é desconcertante, quase deixa ver os cantos dianteiros do carro.

Regeneração em dois níveis

O sistema de regeneração tem dois níveis de intensidade. O mais baixo deixa o Wrangler rolar e aproveitar a considerável inércia, o que é bom em vias rápidas. Para o trânsito mais intenso, há uma posição Max Regen que aplica uma retenção que desacelera o Wrangler até um máximo de 0,25g.

Tomada para carregar a bateria, mas apenas em AC

Esta função, que não é comum a muitos “plug-in” ajuda muito a controlar o Jeep com precisão, pois varia com a velocidade: mais intensa a baixa velocidade e vice-versa. Está muito bem calibrada.

A bateria esgotou-se ao fim de 44 km, praticamente o anunciado, mas que não é um valor fabuloso, tendo em conta o que os melores PHEV conseguem. Depois, o sistema acorda o motor a gasolina e passa ao modo híbrido.

Em modo híbrido

Neste modo, há muitas ocasiões, sobretudo a baixa velocidade, em que o Wrangler ainda consegue progredir só em modo elétrico. Ainda assim, o consumo que registei em cidade, com a bateria descarregada foi de 9,9 l/100 km.

A icónica grelha do Jeep original permanece

Continuando para a autoestrada, sem carregar a bateria, o consumo subiu ligeiramente aos 10,7 l/100 km, circulando a 120 km/h estabilizados. Neste terreno, nota-se mais a génese do Wrangler.

As bossas e depressões da autoestrada fazem abanar bastante a carroçaria, mais que num SUV do mesmo tamanho, apesar de ter molas helicoidais. A direção obriga a pequenas correções quase constantes e o ruído do motor não é propriamente uma melodia.

Uma falha de conforto: não há um apoio para o pé esquerdo. E não faltava espaço para isso.

Curvas para fazer devagar

Em estrada secundária, fica ainda mais evidente que o Wrangler não foi feito para andar depressa em estradas com muitas curvas, apesar de conseguir acelerar dos 0 aos 100 km/h em 6,4 segundos, o que não é nada mau. Mesmo nos regimes mais altos, o motor continua a mostrar força.

Fechos de capót exteriores são um detalhe de charme

Juntando os 272 cv do motor a gasolina à potência dos motores elétricos, a potência máxima combinada é de 381 cv,  com 637 Nm, os valores mais altos da gama, mas a velocidade máxima está limitada aos 177 km/h. O que me parece uma boa ideia.

Guiado um pouco mais depressa, usando o modo manual da caixa de velocidades automática, através do setor +/- da alavanca, é lógico que a direção parece um pouco vaga e imprecisa e que a frente entra em subviragem bastante cedo.

Robustas alavancas da caixa e da tranamissão

Mantendo a posição 2H de tração atrás, é preciso entrar devagar em curva e depois acelerar progressivamente, para que a traseira consiga fazer rodar ligeiramente o Wrangler.

Em piso molhado, é mais cauteloso passar ao modo 4H Auto, para evitar ficar demasiado dependente do ESC. A roda traseira interior à curva tende a perder tração quando de reacelera forte, antes de chegar o controlo de tração.

Tudo muda na terra

Mal se deixa o asfalto e se procura um caminho de terra, o Wrangler entra em casa. A suspensão, que já se tinha mostrado confortável no asfalto, aqui é ainda mais, passando por cima de rochas soltas com alguma indiferença.

A baixa velocidade, é possível ter apenas o motor elétrico a puxar, mesmo se a bateria diz estar descarregada. E a experiência vale realmente a pena. Não só pelo silêncio, como pela precisão que o binário elétrico traz à condução fora de estrada.

Motor de quatro cilindros a gasolina e dois motores elétricos

As queixas que tinha da direção no asfalto, aqui convertem-se em elogios, com muito poucos safanões a chegar às mãos. A facilidade com que este Wrangler lida com os obstáculos é ainda melhor. Dosear o acelerador em modo elétrico é um exercício milimétrico.

Obstáculo superado

Usando a posição 4H Part-time bloqueia-se o diferencial central e a tração chega sempre a cada uma das quatro rodas. Em modo híbrido e passando à posição 4L, a gama baixa (redutoras) sobe a outro nível de força e de binário transmitido às rodas.

Condução dá prioridade ao fora de estrada, onde o Wrangler está em casa

Num cruzamento de eixos muito severo, com rodas no ar e tudo, o controlo de tração apenas teve que trabalhar por breves segundos até que as rodas assentes no chão fizessem o Wrangler avançar com precisão e suavidade.

Conclusão

No final deste teste, a minha conclusão é que o sistema híbrido “plug-in” soma capacidade e controlo ao Wrangler, não lhe retira nada de relevante em termos da experiência de condução. E também não lhe altera o ADN, que continua muito focado nas capacidades em fora de estrada. Talvez poucos compradores lhes deem uso, mas estão lá e dão credibilidade ao produto.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

Jeep Wrangler 4xe

Potência: 381 cv

Preço: 74 800 euros

Veredicto: 3,5 (0 a 4)

 

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