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Crónica – Mangualde: elétricos já há, faltam as baterias

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7/4/2023 Numa cerimónia dominada pelos políticos, foi anunciado que a fábrica da Stellantis em Mangualde vai começar a fabricar furgões 100% elétricos em 2025. É um marco histórico para o país, mas é sobretudo uma garantia de emprego para mais de mil portugueses. Agora só falta a fábrica de baterias.

 

Presidente da República e Primeiro Ministro fizeram deles a cerimónia de anúncio oficial do início da produção de furgões 100% elétricos na fábrica da Stellantis em Mangualde. Claro que Carlos Tavares, o CEO do grupo, não podia deixar de estar presente, mas a “festa” foi dos políticos, que dominam como ninguém este tipo de eventos.

Só que, desta vez, os políticos até tinham razões para tomar conta dos acontecimentos, pois foram eles que pagaram parte dessa festa. Foi um “investimento de 119 milhões de euros, apoiado pelo PRR – Plano de Recuperação e Resiliência”, como dizem. Ou seja, a chamada “bazuca”, cuja execução ainda só vai a 17%, faltando apenas três anos até perder a validade. Há alguma pressa em gastar o dinheiro.

Um marco, mas não o primeiro

Para Portugal, é um marco histórico, pois é a primeira fábrica de automóveis nacional que entra na idade elétrica. Digo automóveis, sendo furgões, para não esquecer que o camião ligeiro Fuso e-Canter é fabricado no Tramagal “para o mundo”, desde 2017. E a CaetanoBus, que faz os autocarros de aeroporto E-Cobus desde 2014.

O início da produção dos Citroën ë-Berlingo, Peugeot e-Partner, Opel Combo-e e Fiat e-Doblò, nas versões comercial e de passageiros é um marco importante, porque o volume é bem maior, esperando a Stellantis fazer 50 000 unidades por ano, quando a produção estiver em velocidade de cruzeiro.

“Ganhámos” à Espanha!

A empresa detém 54% do mercado nacional deste tipo de veículos, os comerciais ligeiros elétricos, uma das razões pelas quais esta decisão faz sentido. Mais importante é que o mercado de Espanha é ainda maior e está mesmo aqui ao lado, mas a exportação será para todos os mercados europeus.

Desta vez, Portugal ganhou à Espanha na atribuição da produção de veículos elétricos, depois de ter acontecido o oposto quando o Grupo VW decidiu fazer o seu pequeno automóvel elétrico no país vizinho, reforçando depois a aposta com uma fábrica de baterias.

E a fábrica de baterias?

E é aqui que bate o ponto. Mangualde vai produzir furgões elétricos, mas ainda há a dúvida de saber de onde vêm as baterias. Não é um detalhe, pois é sabido que o valor de um carro elétrico está nas baterias, mais ainda quando se trata de furgões, que têm custos de produção mais baixos.

Neste momento, a Stellantis – em “joint-venture” com a Daimler e a Total Energies – prepara três fábricas de montagem de baterias na Europa. A subtileza da palavra “montagem” quer dizer que as células continuam a ser fornecidas por terceiros, a China, que domina o assunto.

A primeira fábrica fica em França e entra em produção ainda este ano. A segunda fábrica é em Itália, e estará “online” em 2024 e a terceira é na Alemanha, começando a trabalhar em 2025.

Na Península Ibérica

Falta decidir onde ficará a quarta fábrica, sendo que Carlos Tavares, já disse que deverá ser na Península Ibérica. As razões para essa primeira parte da decisão também as explicou e estão ligadas a Mangualde.

Em primeiro lugar, é sempre boa prática construir onde se vende, para poupar na logística. E os comerciais ligeiros elétricos têm nos mercado do sul da Europa uma região de prevista grande expansão.

Em segundo lugar, a quarta fábrica de baterias vai produzir unidades 20% mais baratas, com a química LFP (Fosfato de Ferro-Lítio) particularmente adaptadas a carros mais baratos como os comerciais. As outras três fábricas vão fazer as mais caras NMC (Níquel, Manganês, Cobalto), com maior densidade de capacidade.

Portugal ou Espanha?

A dúvida é saber se a Stellantis escolhe Portugal ou Espanha. Ambas as escolhas têm prós e contras, que foram identificados por Tavares.

Espanha é menos burocrática a tratar destes assuntos, Portugal tem a vantagem da proximidade da fábrica e também da produção de energia elétrica, com 60% de origem renovável.

Mas, como sempre, tudo se vai resumir a uma espécie de leilão, a um “quem dá mais” entre os governos português e espanhol, ambos disponíveis a dar uma forte ajuda. É ver quem tem a “bazuca” maior.

60 anos de Mangualde

A fábrica de Mangualde já viu muita coisa, em 60 anos de existência de lá saíram 1,5 milhões de veículos de todo o tipo. É uma unidade que está entre as mais eficientes da Stellantis e emprega 900 trabalhadores. Com esta decisão de fabricar veículos 100% elétricos, vão ser criados mais 450 postos de trabalho e a fábrica vai ser fortemente reformulada.

Conclusão

Carlos Tavares está sob pressão para resolver este assunto da fábrica de montagem de baterias. Disse agora que uma decisão tem que ser tomada “nas próximas semanas”, presumivelmente para não atrasar o início da produção dos furgões elétricos em Mangualde. Pois, se há coisa que Tavares não aprecia é que os planos não sejam cumpridos a tempo e horas.

Francisco Mota

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