Os aquários têm um efeito tranquilizante para quem os observa, pelo menos é nisso que os japoneses acreditam. Mas daí a meter um aquário num carro…

 

Para nós europeus, um aquário com peixinhos é sobretudo um “hobby” para apreciadores. Exige dedicação, algum trabalho, mas dá as suas recompensas. É uma maneira de estar perto de um habitat que é estranho aos seres humanos, sem necessidades de mergulhar nas profundezas das águas.

Seja como for, um aquário é algo que necessita de algum suporte técnico, um sistema que se acomoda numa habitação ou num local público.

Os japoneses são, há muito, apreciadores dos efeitos terapêuticos dos aquários: quem ficar algum tempo a olhar para um aquário, recebe uma espécie de energia positiva, que tranquiliza a mente.

Evitar a logística

Mas, como a logística de ter um aquário verdadeiro a funcionar convenientemente acaba por exigir a atenção de um ser humano, há muitos anos que os japoneses resolveram a questão de uma maneira engenhosa.

Lembro-me bem de uma viagem que fiz ao Japão há bastante tempo e do meu espanto ao ver, no hall do hotel de luxo onde fiquei hospedado, uma televisão a emitir um programa muito especial.

Na verdade, não era um programa, era apenas a filmagem, com a câmara fixa, do movimento dos peixes dentro de um aquário.

Alguém tinha montado uma câmara de filmar em cima de um tripé, apontou a objetiva a um aquário real e deixou a gravar durante horas. Depois, foi só emitir as imagens em “loop” na tal televisão e o hall do hotel passou assim a ter um aquário “verdadeiro”, sem os incómodos dos verdadeiros.

Outra vez, em Frankfurt

Lembrei-me disto quando me sentei ao volante do Honda “e” exposto no salão de Frankfurt da semana passada.

Dois companheiros de trabalho, que estavam no banco de trás, olharam para o enorme painel digital que ocupa toda a largura do tablier do “e” e pediram-me para tocar no botão que tinha escrito “Aquarium”.

Foi o que fiz, e o monitor transformou-se num dos tais aquários japoneses falsos/verdadeiros, com os peixinhos a nadar e tudo.

É difícil descrever a reação que esta inesperada imagem provocou a nós os três, jornalistas com muitos anos de experiência…

Honda “e”: o que é?

O Honda “e” (o “e” é mesmo minúsculo, por isso o coloco entre aspas, para não se confundir com um e) é muito mais do que um citadino com um “filme” de um aquário no tablier, claro.

A marca japonesa está a criar um novo segmento, o dos citadinos elétricos Premium. Um carro destinado a quem o quiser ver como um produto de luxo ou, pelo menos, como uma nova tendência.

Ao contrário da maioria dos veículos elétricos, que se focam no sucessivo aumento da capacidade das suas baterias, para atingir cada vez mais autonomia, o “e” oferece apenas 220 km de autonomia máxima. É pouco, para os padrões atuais e poderia pensar-se que seria fatal para as aspirações deste elétrico citadino.

Elétrico, citadino e Premium

Mas a Honda quer vender o “e” a quem aprecie outras coisas que o carro tem, além de ser elétrico. Como os retrovisores exteriores, substituídos por câmaras que transmitem a imagem para dois ecrãs de 6”.

Estão bem colocados junto dos extremos do tablier, muito próximo da posição convencional, não obrigando a grande adaptação. Resta saber como resistem aos reflexos, fora do ambiente de um salão.

Os clientes também vão gostar do painel digital que ocupa toda a largura do tablier, e onde pode ser visto o aquário. É composto por dois monitores táteis de 12,3” para dar ao passageiros do lado a hipótese de se entreter com as funcionalidades existentes.

Outro ponto interessante é uma App para smartphone, que permite manter o contacto com o “e” à distância, controlando informações como a carga restante na bateria, ou a evolução do carregamento, se for deixado ligado à corrente. Tem também chave digital.

Inteligência Artificial

Outra “feature” interessante é o comando por voz do sistema de infotainment, que utiliza Inteligência Artificial para ir aprendendo a falar com cada condutor, da maneira mais eficiente possível.

Liga-se dizendo “OK, Honda!”, o que faz lembrar o Mercedes-Benz Classe A e o seu semelhante “Hey, Mercedes!”.

Para evitar a “ansiedade da autonomia” os homens da Honda estão a colaborar com várias empresas especializadas em distribuição de electricidade, para encontrar novas soluções.

Uma delas é transformar os candeeiros da rua em pontos de carregamento. Devidamente adaptados, claro, não estamos aqui a falar em fazer uma “puxada”. Imagino a papelada a que uma solução destas obrigaria, num país como o nosso.

Na vida real…

Falando de coisas mais imediatas, a Honda fornece duas “wallbox”, de acordo com a rede que o cliente tenha disponível. Se for monofásica, há uma wallbox de 7,2 kW, para quem tenha corrente trifásica, há outra de 11 kW.

Esta, consegue carregar 100% da bateria de 35,5 kWh em pouco mais de quatro horas, desde que haja corrente de 32A. A Honda diz ainda que a bateria pode ser carregada até 80% em 30 minutos, presumivelmente num PCR (Posto de Carga Rápida) de 100 kWh.

O Honda “e” está disponível em duas versões com dois níveis de potência: 136 cv ou 154 cv, ambos com binário máximo de 315 Nm. Isto permite fazer a aceleração 0-100 km/h em 8,0 segundos. Mas é melhor não tentar este exercício muitas vezes, para não esvaziar a bateria.

Conclusão

No salão, foi possível ver que a Honda fez um trabalho de decoração dos interiores que resulta bem, usando aplicações em madeira no tablier e outros materiais de boa qualidade.

A posição de condução pareceu boa, mas o espaço não é muito amplo. Agora resta esperar até ao Verão do próximo ano, altura em que o “e” estará à venda por 29 497 euros. Mas o melhor é não fazer as contas à relação entre os euros e os km de autonomia.

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