Há dois anos, a Citroën não quis contratar Ogier, quando ele ficou desempregado após a saída da VW do WRC. Porque preferia apostar nos jovens. Ogier foi para a Ford e ganhou dois campeonatos, mas agora voltou. E venceu o Monte-Carlo em grande estilo.

O ano de 2017 foi de grandes mudanças para o WRC, com as alterações técnicas a tornar os carros mais rápidos e mais vistosos. Lembrando o tempo dos incríveis Grupo B. Tive o privilégio de acompanhar de perto o primeiro rali desta nova era dos ralis, o Monte-Carlo, acompanhando os concorrentes de helicóptero, um luxo e a melhor maneira de ver várias classificativas por dia. Foi um fim de semana memorável!

Apoiar os jovens

Na altura, entrevistei o líder da PSA, Carlos Tavares, e perguntei-lhe porque não tinha contratado Ogier, depois dele ter ficado apeado no seguimento da saída da VW do WRC. A resposta foi que a Citroën tinha ajudado Ogier quando era jovem e que pretendia continuar a apostar nos jovens. Durante dois anos, passaram vários jovens e menos jovens pela equipa, mas nenhum conseguiu resultados consistentes. Até o campeoníssimo Loeb voltou aos comandos do C3 WRC, em três ralis e até ganhou um deles, com a ajuda de uma ordem de partida para os troços muito favorável. Mas a Loeb não lhe apetece fazer muitos ralis por ano.

 “São seis vitórias em três carros diferentes” disse Ogier no final do rali

Este ano, Ogier está de volta à Citroën, onde começou o seu percurso no WRC e adivinhem o que ele fez no Monte Carlo que terminou hoje? Pois é, ganhou! “São seis vitórias em três carros diferentes” disse ele no final do rali, mostrando que não são só os jornalistas que gostam de estatísticas. Não foi sempre o mais rápido (só ganhou duas especiais, em 16) mas foi o que cometeu menos erros, num rali que passa do asfalto seco para o gelo vidrado, ao virar da próxima curva.

Motivar a equipa

Será fácil dizer que a Citroën ganhou porque tinha Ogier ao volante, mas é certo que nenhum piloto ganha com um carro que não presta. A Citroën tem evoluído muito o seu C3 WRC, nos últimos meses, talvez porque a eminente chegada do piloto seis vezes campeão do mundo também serviu de motivação a toda a equipa. Na M-Sport, onde ele ganhou os dois últimos campeonatos, sempre disseram isso mesmo, que Ogier “obrigava” toda a equipa a dar o máximo. Mesmo se o orçamento não era comparável ao das outras equipas, mesmo se o Fiesta não era o mais rápido. Só que Ogier dá sempre o máximo e erra muito poucas vezes.

Como ganhar o Monte Carlo

Este ano deu mais uma demonstração de como se ganha o Monte-Carlo “o rali que mais gosto de ganhar” dizia ele no final. Maximizar a performance, quando as coisas lhe correm de feição e minimizar os prejuízos, quando alguma coisa corre pior. Por exemplo nos últimos dois troços, em que se queixou da resposta do acelerador, que continuava a acelerar nas travagens. Ou quando percebeu que não tinha escolhido os melhores pneus, no terceiro dia.
Só que não cortou demais as curvas e não teve um furo, como outros; nem se enganou na estrada e teve que fazer inversão de marcha, como Neuville, que terminou o rali em segundo, a 2,2 segundos, a mais pequena diferença de sempre na história do Monte Carlo.

Conclusão

Este ano não estive lá, no Monte Carlo para acompanhar a prova, fiquei-me pelas aplicações do smartphone – que me dão resultados em tempo real – e por aquilo que fui encontrando no You Tube. Mas juro que vivi o desfecho do rali como se estivesse lá, como há muito não me acontecia. Como nos tempos em que era miúdo e acompanhava o rali de Portugal agarrado ao rádio. A excitação foi a mesma, quando à entrada para o último troço a diferença entre o Citroën C3 de Ogier e o Hyundai i20 Coupé de Neuville era de 0,4 segundos. Absolutamente fantástico!
A Citroën pode dar por bem empregue o investimento que fez na contratação de Ogier. O que poderia ter acontecido se tivesse tomado esta decisão há dois anos?…

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