Quando uma marca quer puxar pela história de um dos seus novos lançamentos, mostrando que a nova geração tem um passado relevante, demonstrado pelos modelos que lhe antecederam, é certo e sabido que vai buscar exemplares dessas antigas gerações para os voltar a mostrar. Foi o que fez a Toyota, quando convidou um restrito grupo de jornalistas a testar o próximo Supra, ainda em fase de protótipo e totalmente camuflado. Eu estive lá e, depois de guiar o novo Supra a fundo, pude relaxar um pouco e observar de perto todos os antigos Supra, para comparar a evolução do conceito ao longo dos anos. Uma coisa é certa, desde a primeira geração que o Supra tem duas características que se mantiveram ao longo do tempo: motor dianteiro de seis cilindros em linha e tração atrás.

Por conveniência

E essas duas características são para continuar com a nova geração, feita em parceria com a BMW. Aliás, os homens da Toyota não têm problemas em afirmar que fizeram um casamento de conveniência: “uma das razões pelas quais nos associámos à BMW para este projeto conjunto Z4/Supra, foi porque a BMW é das poucas marcas que continua a produzir carros com tração atrás e motor dianteiro de seis cilindros em linha.” Claro que, agora, o motor deixou de ser Toyota, mas não me parece que a marca japonesa tenha ficado a perder com a troca. E claro que vai existir no catálogo da Toyota uma versão do Supra com motor de quatro cilindros, também da BMW.

Uma bela coleção

Como o primeiro ensaio foi feito na pista de Jarama e nas estradas secundárias da região, a Toyota teve que transportar um exemplar de cada uma das antigas gerações do Supra. Pelos vistos, o mais difícil de encontrar foi o primeiro, que era feito com base no Celica Liftback, por isso a geração A40 estava representada por um Celica e não por um Celica Supra, como estão se chamava o primeiro Supra e que tinha uma frente mais comprida e com um desenho diferente do Celica normal. Como se pode ver nesta imagem de arquivo:

Esse primeiro Celica Supra foi essencialmente feito para o mercado dos Estados Unidos, talvez por isso a dificuldade em encontrar na Europa um exemplar nas condições requeridas pela Toyota para esta mini-exposição.

E tudo começou com o Celica

A comparação entre o estilo exterior de cada modelo é bem ilustrativa das décadas em que cada modelo foi produzido e o mesmo se pode dizer dos habitáculos. Mas vamos aos dados e aos factos que ajudam a perceber a herança que o novo Supra tem que honrar.

O Supra entrou agora na sua quinta geração, a primeira data de 1978 e era feita com base no Celica. Vejamos como evoluiu o mais desportivo dos Toyota ao longo dos anos.

A40, feito para os EUA
1978 a 1981

Com o nome de código A40, o primeiro Supra era na verdade uma extrapolação do Celica Liftback, partilhando a carroçaria de três portas, na zona traseira, mas acrescentando 129,5 mm na dianteira, para poder acolher um motor de seis cilindros em linha, em vez do quatro cilindros que servia as outras versões do Celica. Ficou conhecido como Celica Supra e estava disponível com variantes de cilindrada de 2,6 e 2,8 litros, com potências entre os 110 e os 123 cv. Na versão mais potente fazia os 0-100 km/h em 10,2 segundos.

A60, ainda a partilhar
1981 a 1986

Partindo da terceira geração do Celica, esta segunda geração do Celica Supra seguia a mesma ideia do seu antecessor, mas aqui já sem necessidade de alterações estruturais, pois o motor de seis cilindros estava previsto desde início. Tinha guarda-lamas proeminentes, linhas quadradas e faróis escamoteáveis. Disponível com cilindradas de 2,0 e 2,8 litros, com potências entre os 125 e os 178 cv. O mais potente fazia os 0-100 km/h em 9,8 segundos

A70, ganhar independência
1986 a 1993

Esta foi a primeira geração do Supra feita em separado do Celica, agora era um modelo autónomo, mais refinado e luxuoso, com linhas modernizadas e arredondadas, como era norma nesta altura. Mantinha os faróis escamoteáveis, a bem da aerodinâmica. O motor de seis cilindros em linha tinha agora cilindradas de 2,0 e 2,5 litros, surgindo pela primeira vez um 3.0 turbo, que alargava as potências disponíveis dos 160 aos 276 cv. O turbo fazia os 0-100 km/h em 6,4 segundos.

A80, o supercarro
1993 a 2002

A grande subida de estatuto do Supra aconteceu nesta geração, em que o grau de sofisticação subiu em todas as áreas, da aerodinâmica, com faróis carenados e asa traseira alta, até à mecânica que empregava agora um seis cilindros em linha de 3,0 litros, disponível em versão atmosférica, de 276 cv e turbocomprimida, de 326 cv, o que fazia descer a aceleração 0-100 km/h aos 4,6 segundos, graças a uma estrutura que era 100 kg mais leve que a da geração anterior. Fechou a produção em 2002.

A90, chegam as sinergias
2019 a ?

Depois do projeto conjunto com a Subaru para a produção do GT86/BRZ, a Toyota volta a juntar-se a outro construtor para partilhar a produção de um desportivo. O novo Supra, que estará no mercado em inícios de 2019, utiliza a mesma plataforma em aço e alumínio CLAR da BMW, o mesmo motor 3.0 turbo de seis cilindros em linha e 340 cv e a mesma caixa de velocidades automática de oito, fornecida pela ZF. A marca ainda não revelou todos os números referentes a esta geração A90, apenas diz que atinge os 250 km/h limitados, mas não é difícil adivinhar que a aceleração 0-100 km/h será feita em pouco menos de 4,5 segundos.

Conclusão

Quarenta anos depois do primeiro Celica Supra, a verdade é que a fórmula do coupé de altas prestações, com dois lugares, motor dianteiro de seis cilindros em linha e tração traseira, continua a fazer sentido. Por mais SUVs que sejam lançados todos os dias, a verdade é que são carros como o novo Supra que nos fazem gostar de automóveis e sonhar com o dia em que vamos comprar um desportivo. Mesmo que esse dia demore a chegar.