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Teste 1 mês – Mustang Mach-E: como é viver com o elétrico da Ford

Ford Mustang Mach-E (fotos de João Apolinário)

Grande distância entre-eixos para a bateria de 98,7 kWh

SUV ou crossover, o Mach-E tem personalidade

Farolins em LED são "cópia" do Mustang Coupé

Tejadilho preto faz o Mach-E parecer mais baixo

Grelha fechada e cavalo a galope

Pneus 225/55 R19 são suficientes

A App Miio é uma das hipóteses de pagamento nos carregadores rápidos

Avariados ou "off-line", os carregadores rápidos podem causar surpresas

Usar um cartão de energia num carregador rápido é fácil

Carregamento em tomada doméstica é três vezes mais barato

Tablier com o "gigante" ecrã tátil ao centro

Boa posição de condução e bancos confortáveis

Bom espaço na segunda fila

Mala tem 503 litros de capacidade

A mala dianteira tem divisórias

O sistema estima o tempo para finalizar a carga

Fáceis de usar, os botões do volante

Rotativo para a transmissão não é prático

Rotativo para o volume funciona bem

Tomadas USB são sempre bem vindas

Os três modos de condução disponíveis

Mustang é quase uma marca. Só há um símbolo Ford

O apoio lateral dos bancos é reduzido

Tejadilho em vidro gera calor no habitáculo

Puxadores de portas escondidos

Chapeleira é uma fina tela com fixação frágil

Dois cabos para tomada doméstica e posto AC público

Código configurável para abrir a porta

Botão elétrico e puxador, nas portas da frente

Portas de trás não têm puxador

A dinâmica é muito divertida em estrada sinuosas

Fácil de guiar na cidade,e divertido na montanha

Pouco confortável sobre lombas

Desenho muito inspirado no Mustang clássico

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Mais um teste de 1 mês a um elétrico, aqui no Targa 67. Desta vez é o Mustang Mach-E, o crossover desportivo da Ford. Autonomia, carregamentos, performance, dinâmica: como é viver com o Mustang que troca o V8 por dois motores elétricos?

 

Conviver durante 1 mês com um carro, seja ele qual for, é um teste que se aproxima daquilo que será a experiência de propriedade. Durante um mês, guiei o Mustang Mach-E quase todos os dias e nos dias em que não o guiei, pedi a companheiros de trabalho para serem eles a contribuir para este teste prolongado.

A ideia era descobrir como seria o dia-a-dia com este elétrico, usando infra-estruturas diferentes. No meu caso, totalmente dependente dos carregadores públicos, ou seja, dos carregadores rápidos e do meu cartão da EDP.

Grande distância entre-eixos para a bateria de 98,7 kWh

No caso do João, a questão do carregamento foi mais dividida e utilizando como meio de pagamento a aplicação Miio, para ver como funciona. Já no caso do Adelino, a questão do carregamento foi resolvida na tomada doméstica da garagem.

São três maneiras de viver com um elétrico, com custos e ansiedades de autonomia bem diferentes. Mas o teste obviamente não se resumiu à autonomia. Havia muito mais para descobrir durante as quatro semanas em que o Mustang Mach-E esteve em teste no Targa 67.

Um sacrilégio?

Talvez porque a apresentação aconteceu no já longínquo ano de 2019, antes da interminável pandemia, hoje, a polémica à volta do Mustang elétrico praticamente desapareceu.

Em dois anos, os elétricos ganharam terreno, no mercado e na mente de quem se interessa por carros

Um Mustang que se alimenta de eletrões em vez de octanas, já não causa irritação, apenas curiosidade.

Decidir se a carroçaria é a de um SUV coupé ou de um crossover, talvez seja a maior dúvida quando se olha para ele. O estilo mistura as duas tendências, com um perfil em que o tejadilho pintado de preto o faz parecer mais baixo do que é na verdade.

Muito espaço a bordo

E a verdade é que não falta espaço no habitáculo, nem em comprimento, nem em altura ou largura. O piso alto, que obriga a levar os joelhos altos e as pernas desapoiadas, no banco de trás, foi uma crítica recorrente de quem se sentou na segunda fila. O lugar do meio também é desconfortável.

Bom espaço na segunda fila

Uma coisa é certa, a posição de condução agradou a todos os condutores, pela facilidade e amplitude de regulações e pela boa posição relativa do banco, volante e pedais.

A crítica mais frequente foi para o pouco apoio lateral do banco, sobretudo a andar mais depressa. O comando rotativo da transmissão, conhecido de outros Ford automáticos, não reuniu o consenso, sobretudo em manobras.

Um ecrã “à Tesla”

O gigantesco ecrã tátil central de 15,5”, posicionado ao alto como um tablet, não atraiu grandes críticas. Os botões virtuais são grandes e espaçados, por isso rápidos de usar.

Tablier com o “gigante” ecrã tátil ao centro

A zona baixa tem sempre os comandos principais da climatização visíveis o que facilita o uso, mas obriga a desviar os olhos da estrada. Além disso, para regular a distribuição de ar no habitáculo é preciso abrir uma página específica.

Um dos condutores criticou a organização dos menus e a exagerada dimensão do ecrã, que distrai o olhar da estrada, além de o achar demasiado próximo do condutor.

O enorme botão rotativo para o volume do som não é uma obra de arte, mas funciona

Contudo, a página dos três modos de condução contém botões virtuais muito pequenos para ligar o “e-pedal” e o som de propulsão. O primeiro devia estar no volante, por ser de utilização frequente.

Podia dar mais informação

Um dos condutores criticou a falta de informação sobre a eficiência energética, referindo que não existe um gráfico de consumos, indicação de consumo instantâneo nem indicação da velocidade média, após fazer “reset” a um dos computadores de bordo. A atualização da média de consumos também foi criticada por demorar muito tempo a atualizar.

O sistema estima o tempo para finalizar a carga

Pela parte positiva, foi elogiado o bom funcionamento do Apple Carplay e a existência de alguns botões físicos, para facilitar a adptação dos condutores menos habituados a lidar com ecrãs táteis.

Como se conduz?

Sobre a condução do Mach-E poderá ficar a saber tudo no vídeo que publiquei no canal YouTube do Targa 67.

Aqui, basta dizer que o desempenho em cidade foi elogiado por todos pela facilidade de operação, mas o conforto foi criticado, sobretudo nas lombas, onde o amortecimento se mostrou demasiado firme.

Em estrada, agradou o temperamento desportivo do Mach-E, provando que na Ford, não interessa qual é a energia que move os seus modelos.

A dinâmica é muito divertida em estrada sinuosas

Tratando-se de desportivos, como é o caso deste Mustang Mach-E de 351 cv, capaz de fazer os 0-100 km/h em 5,1 segundos, o prazer de condução está sempre presente. Mesmo com 2182 kg.

Fora o Porsche Taycan, a um nível de preço muito superior, não há, neste momento, nenhum modelo elétrico tão divertido de guiar numa estrada de montanha como o Mach-E. Mas isso são ocasiões raras para o comum dos condutores.

Carregamentos variados

Muito mais comum é lidar com os carregamentos. A primeira modalidade testada foi num carregador rápido, usando a aplicação para smartphone Miio. Esta, permite ligação a um cartão de crédito, ou pré-carregar um valor e ir gastando.

Nos primeiros dez dias, a utilização do Mach-E não foi muito intensa, mas bastante variada em termos de percursos e de condução. Completou apenas 220 km, o que fez descer a bateria de 93% para 49% de carga.

Pagar com uma App para smartphone é uma alternativa

A primeira carga rápida demorou 43 minutos e levou a bateria dos 49% para os 80% de carga (27,28 kWh). A parte boa deste carregamento pago através da aplicação, é que se fica logo a saber quanto se gastou. Neste caso, o preço foi de 15,39 euros e a autonomia subiu de 156 km para 301 km, num carregador de 50 kW.

Quanto custa a energia

Considerando um consumo em cidade de 15 kWh/100 km, cada 100 km percorridos custam 8,46 euros. Para comparação, um BMW X4 M40d, com motor Diesel de 340 cv, anuncia um consumo médio de 7,2 litros/100 km o que, aos preços atuais do gasóleo, custa 10,1 euros.

Avariados ou “off-line”, os carregadores rápidos podem causar surpresas

Ou seja, usar um carregador rápido coloca os custos com energia do Mach-E próximo de um modelo comparável com motor Diesel, para uma utilização mista.

Em casa é mais lento…

Por isso, nos dias seguintes, o Mach-E mudou de mãos, para ver o que acontece quando se carrega a bateria numa tomada doméstica. Para começar, é preciso usar o cabo apropriado, que facilita a consulta do carregador, pois fica junto da tomada.

O primeiro “choque” veio do tempo indicado para levar a bateria dos 48% aos 100%, nada menos do que 26h00. Foi um dia de imobilização do Mach-E para ter a bateria no máximo, o que se compreende pela lentidão do processo.

Carregamento em tomada doméstica é três vezes mais barato

Mas, a partir daqui, o “modus operandi” dos carregamentos mudou completamente. Começando o dia com a bateria a 100%, os percursos diários somavam cerca de 120 km, envolvendo trânsito urbano e suburbano.

No final do dia, a bateria tinha consumido cerca de 25% o que nem exigiria ser carregada. Mas, para garantir uma carga máxima no dia seguinte, o Mach-E foi ligado à tomada doméstica durante a noite e, no dia seguinte, estava novamente a 100%, passadas cerca de 12h00.

… mas é 3 vezes mais barato

Com esta rotina, a ansiedade desaparece por completo, tanto mais que, com o passar dos dias, a autonomia máxima indicada com a carga máxima da bateria de 98,7 kWh, foi sendo atualizada, subindo de 389 km para 409 km e depois para 415 km, no final de mais dez dias de utilização.

Os custos destes carregamentos podem ser estimados a partir da fatura da eletricidade doméstica. O preço indicado é de 0,1569 euros por kWh, sem IVA. Ou seja, uma carga diária de 25% da bateria equivale a carregar 22 kWh, no caso da bateria deste Mach-E, o que tem um custo total de 4,24 euros.

Carregar a bateria em casa fica 3 vezes mais barato que num carregador de 50 kW

Durante este tipo de utilização (urbano e suburbano) o Mach-E gastou entre os 15 kWh/100 km e os 18 kWh/100 km o que é muito bom para o peso de 2182 kg.

Fazendo novamente as contas, considerando o carregamento feito em casa, cada 100 km ficam entre os 2,89 euros e os 3,47 euros. Ou seja, cerca de três vezes mais barato que num carregador rápido.

Com cartão é mais simples

O terceiro turno deste teste de 1 mês voltou a depender de carregadores públicos. A diferença é que o pagamento foi feito com um cartão EDP.

Usar um cartão de energia num carregador rápido é fácil

É preciso pedir o cartão, mas o processo é muito mais simples que a utilização de uma App (basta encostar o cartão ao monitor do carregador) mas a informação dos custos só aparece mais tarde, na fatura da eletricidade.

Problemas com a rede pública

A utilização de postos públicos de 50 kW, expõe o utilizador a uma série de problemas, que aconteceram neste teste. Num desses carregadores, numa estação de serviço citadina, a ligação entre o carregador e o carro “caiu” três vezes.

Os carregadores públicos têm problemas de fiabilidade

Estando dentro do carro, à espera que a carga se faça, é preciso atenção para perceber que isso aconteceu. Estando do lado de fora, basta olhar para a mudança na cor de uma luz indicadora que está perto da tomada do carro.

Ainda assim foi possível carregar uns 123 km para completar a viagem necessária. Mas sem nenhuma informação acerca da quantidade de kWh comprados.

Ansiedade da autonomia

Outra experiência negativa, que pôs à prova a minha resistência à famosa ansiedade da autonomia, aconteceu noutro carregador instalado numa área de serviço de uma autoestrada.

Depois de validado o cartão no monitor do carregador, de ligado o cabo e de estabelecida a comunicação entre ambos, o carregador anunciou que estava com um problema e não carregou.

Fácil de guiar na cidade,e divertido na montanha

Felizmente, a autonomia ainda foi suficiente para ir até à próxima área de serviço, mas viajando a 90 km/h, com A/C desligado e pé direito extremamente leve. Deu para ficar a saber que, abaixo dos 20% de carga, a bateria entra na “reserva”, com o número a passar de branco a amarelo.

Cheguei à segunda área de serviço com 18% da carga da bateria e 79 km de autonomia. Seguiu-se um carregamento de 39,52 minutos que levou a bateria aos 51%, comprando 28,54 kWh de energia.

Os custos deste carregamento só se ficam a saber mais tarde, com a próxima fatura da eletricidade doméstica. Está lá um campo que indica o custo unitário e a despesa total.

Custos, só na fatura da eletricidade

Na fatura está especificado o custo da eletricidade, a taxa OPC (Operador do Ponto de Carga) e a taxa IEC (Imposto Especial de Consumo de Electricidade). No total, a carga de 28,54 kWh, feita em 39,52 minutos, custou 12,16 euros.

Grelha fechada e cavalo a galope

Com esta tarifa e usando o cartão EDP, considerando o consumo em cidade, que rondou os 15 kWh/100 km, conclui que o custo por cada 100 km é de 6,39 euros, inferior em 24% ao primeiro carregador rápido, o que mostra também a diferença de preços entre carregadores públicos.

E as autonomias reais?

Fazendo as contas à autonomia, considerando a capacidade desta bateria, e gastando 15 kWh/100 km em cidade, a autonomia máxima é de 586 km.

Mas a experiência mostra que, para quem depende dos carregadores públicos, se torna desconfortável andar com menos de 100 km de autonomia na bateria. Se o carregador mais próximo estiver avariado, começa o “stress” de procurar outro.

Autonomia real em cidade é de 586 km, descendo para os 488 km, em estrada

Em autoestrada a 120 km/h, o consumo de 18,0 kWh/100 km resulta numa autonomia de 488 km.

Aqui, a questão da “reserva” é ainda mais crítica, pois se o carregador mais próximo está “offline”, avariado ou simplesmente ocupado (o que raramente aconteceu neste teste, pelo menos na autoestrada) tudo se torna mais complicado.

Pouco confortável sobre lombas

Mas este teste de 1 mês mostrou que, utilizado com alguma contenção, este Mustang Mach-E AWD de 351 cv e bateria de 98,7 kWh consegue autonomias muito boas, que tornam a sua utilização fácil, mesmo para quem não tem um ponto de carga privativo.

Conclusão

A maior conclusão deste teste de 1 mês divide-se em duas, mas ambas relacionadas com o carregamento. Por um lado, quem tenha uma garagem (ou lugar de garagem) com acesso a uma tomada, mesmo doméstica, pode fazer um dia-a-dia sem nenhum tipo de ansiedade.

Para quem dependa dos postos público, terá de “estudar” bem a rede disponível nas zonas onde utilizar o Mach-E, para ter sempre um plano “B”. Contudo, com as autonomias disponíveis, isso está longe de ser um problema diário.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

Ford Mustang Mach-E AWD

Potência: 351 cv

Preço: 66 787 euros

Veredicto: 4 (0 a 5)

Ler também seguindo o LINK:

Teste – Ford Mustang Mach-E: pode um SUV elétrico ser um Mustang?