Há carros assim, que se encaixam perfeitamente na vida de cada um. Não precisam de ser caros, luxuosos ou super-desportivos. Só precisam de acertar nas necessidades do momento e tornar a condução numa diversão a todo a hora. Nunca pensei dizer isto de um Up!…

Quando a VW apresentou o primeiro Up! aos membros do júri do Car Of The Year, num evento exclusivo em Wolfsburg durante 2011, tínhamos lá para guiar todas as versões e ainda uma surpresa no final: uma voltinha ao quarteirão num Up! “desportivo”. A voltinha era mesmo uma voltinha, uns dez minutos à volta do Autostadt, mas deu para perceber que a ideia não tinha nada de ridículo, pelo contrário. Claro que o protótipo não tinha nenhum nome específico nem decoração desportiva, era só mais um Up! branco, com motor mais potente e suspensão mais firme. Na altura, foi-me pedido para não falar nem escrever sobre o carro, porque na VW “aquilo” estava longe de estar aprovado.

GTI sete anos depois

“Aquilo” materializou-se agora, sete anos depois, no Up! GTI que andei a testar em Portugal há poucos dias. Com as impressões de condução do fugaz contacto com o tal protótipo já bem arquivadas na memória, não posso dizer que sabia extamente o que me esperava. Na verdade, foi mesmo uma das maiores surpresas dos últimos meses!
O que não surpreendeu foi o aspeto deste micro-GTI, pois a VW sabe “embrulhar” muito bem os seus desportivos. Lá estão os frisos vermelhos na grelha e na tampa da mala. As jantes de liga leve e as listas pretas na parte baixa dos flancos. Procure uma foto do primeiro Golf GTI e vai ver de onde vem a inspiração. O mesmo por dentro, onde não falta o tecido em xadrez, mais frisos vermelhos e uns bancos com aspeto desportivo.

Como no primeiro GTI

As comparações com o Golf GTI de 1976 continuam no esquema da suspensão e na potência máxima, que aqui é de 115 cv e no Golf era de 110 cv. Claro que o peso do Up! é maior, mas não muito, ficando-se pelos 1070 kg. Mas vou ter que parar com o ataque de nostalgia, porque o resto é bem diferente. “Fast forward” para 2019 e o que tenho aqui?…

Um motor de injeção direta 1.0 de três cilindros, turbocomprimido e uma caixa manual de seis. No papel, nada de especial.

Mas basta rodar a chave (não tem botão para arrancar o motor) e ouvir o som para perceber que aqui há mesmo algo de especial. Na verdade, o som é “falso”. Fiz a experiência: fechar a porta e ouvir o som do tricilíndrico no habitáculo e depois sair do carro e ouvir o mesmo motor do lado de fora: nada a ver!… O som que o condutor ouve é produzido por um sintetizador sincronizado com o pedal do acelerador e emitido pelos altifalantes. Mas está tão bem feito e a banda sonora que toca é tão convincente que iria jurar estar a bordo de um Porsche.

Tão fácil de guiar!

Depois engreno primeira, numa caixa muito suave, precisa e rápida e dou um pouco de acelerador. O motor responde com enorme prontidão e suavidade, nem parece sobrealimentado. Em cidade, faz o trânsito diário sem a mínima queixa e a caixa até está bem escalonada, não se “pendura” nos 200 Nm de binário.

O volante é grande, tem a base cortada, tem a coluna demasiado inclinada e não regula em alcance.

A direção tem o tato suficiente para ser divertido de apontar o Up! para a próxima curva e ver a frente obedecer. O problema é mesmo o volante ser grande, ter a base cortada, ter a coluna demasiado inclinada e não regular em alcance. Não é perfeito, mas consegue arranjar-se um compromisso. Os bancos podiam ter mais apoio lateral, mas as acelerações esperadas também não são por aí além. Para despachar as críticas e ir ao que interessa, tenho que dizer que a antiquada arquitetura elétrica do Up! não comporta um monitor central tátil. O que lá está parece um clássico. E a lotação é de quatro, não há cinto para um quinto passageiro.

É mesmo muito pequeno

A vantagem de ser um carro pequeno (3,6 metros) é que não é preciso muito espaço para brincar com o Up! GTI. Basta um par de curvas, umas rotundas e já me estou a divertir!
A suspensão não deixa o GTI inclinar tanto como os outros Up!, controla muito melhor os movimentos da carroçaria e consegue até ser mais confortável, para quem acha que conforto é manter o corpo direito e não levar pancadas. Só nas tampas de esgoto desniveladas – uma especialidade nacional – o GTI perde um pouco a compostura. De resto, tem um pisar muito mais refinado que os outros Up! Na verdade, nunca julguei que um Up! pudesse fazer isto.

Pode afundar-se o acelerador que o controlo de tração não deixa fugir nenhum “cavalo”, mesmo nas curvas fechadas

Como sempre, o segredo está no equilíbrio. Os pneus são apenas 195/40 R17, não demasiado largos para não colar o carro à estrada. Apesar de o ESP não se desligar, deixa uma margem para o condutor fazer a traseira rodar e facilitar a entrada em curva, depois entra em ação de forma progressiva. O mesmo para a tração. Pode afundar-se o acelerador que o controlo de tração não deixa fugir nenhum “cavalo”, mesmo nas curvas fechadas. A resposta do motor a baixos regimes melhora a partir das 2000 rpm, subindo depois com vontade até ao corte nas 6500 rpm.

O sintetizador de som faz tudo isto parecer ainda mais rápido e emocionante e ainda bem, mas os 0-100 km/h demoram só 8,8 segundos.

Lá vem o exagero…

A vontade de exagerar na velocidade de entrada em curva é imediata, mas o GTI suporta bem os abusos, não se deixando entrar em subviragem precoce. O acesso a uma condução rápida e divertida é realmente muito fácil e frequente. Dei por mim a inventar pretextos para sair com o Up! GTI e dar mais uma voltinha, só pelo prazer de o guiar.
Em algumas coisas é um carro à moda antiga: sem pneus sobredimensionados, sem caixa de dupla embraiagem, sem modos de condução. Apenas com um “set-up” bem feito, que serve para tudo. O tal equilíbrio de que falava, faz com que nunca se sinta falta de potência, está sempre a divertir, nunca sabe a pouco.
Claro que em autoestrada, durante uma quantas horas de viagem, o sintetizador de som acaba por moer um pouco a cabeça. Mas a estabilidade é maior do que se poderia esperar, num carro tão pequeno.

Conclusão

Pequeno por fora e grande por dentro, o Up! continua a ser um dos citadinos que melhor aproveita o espaço interior. Mesmo nesta versão de três portas, o acesso aos lugares traseiros não é um problema e há lá espaço para dois adultos. A mala tem capacidade suficiente e a utilização em cidade é muito fácil, também porque a visibilidade para fora é excelente.
Por uma vez na VW, nem os cifrões são verdadeiramente um obstáculo. Por menos de vinte mil euros já é possível comprar um Up! GTI, abdicando de alguns opcionais. E o melhor de tudo é que o consumo, em condução despreocupada em cidade, com umas boas aceleradelas pelo meio, não sobe da casa dos 6,0 l/100 km. Para a minha vida do dia-a-dia, o Up! GTI encaixava que nem uma luva. Só é pena o estilo do Up! já estar tão ultrapassado. A decisão de fazer este GTI devia ter aparecido em 2012.
Potência: 115 cv
Preço: 18 665 euros
Veredicto: 4,5 (0 a 5)

Clicar nas setas para ver a galeria de imagens

Ler também: VW Polo GTI DSG, só falta um bocadinho assim