A apresentação nacional à imprensa do novo SUV da Audi, o Q8, que vem para dar luta ao BMW X6, Mercedes-Benz GLE Coupé e Range Rover Sport, foi feita no museu do importador, a SIVA. Além da estrela do dia, infelizmente pintado num anónimo branco que lhe retira toda a elegância, estavam lá alguns dos modelos do museu, que tinham sido arrumados a um canto, para dar espaço ao evento. Ao fundo da sala encontro um VW Iltis, totalmente recuperado nas suas cores de guerra, o verde tropa. Fiquei a saber que o seu restauro foi uma obra do centro técnico da SIVA, mas em que todos os trabalhadores da empresa deram o seu contributo, por mais pequeno que fosse. Um dos altos responsáveis da empresa declarou com orgulho que tinha participado no restauro dos bancos. Uma belíssima acção de “team building” que certamente ficará na memória de todos os que nela participaram.

O que há de comum entre o Iltis e o Q8?

O interessante da presença do Iltis e do Q8 sob o mesmo teto é que existem laços entre os dois. Não acredita? Ora vejamos… Recuperando um pouco a história do Iltis, tratou-se da resposta do grupo VW a um concurso público na Alemanha, para o fornecimento às forças armadas de um pequeno veículo de transporte, uma espécie de cópia do Jeep. Isto aconteceu nos anos setenta e o Iltis acabaria por ser o escolhido, sendo produzido entre 1978 e 1988.

Até poderia ter-se chamado Audi, mas o Grupo achou que VW seria politicamente melhor aceite, e tiveram razão

A parte da ligação ao Q8 vem de quem o projetou e desenvolveu. Pois é!… Foram mesmo engenheiros da Audi que pegaram num anterior veículo do mesmo tipo, o Munga, produzido pela DKW, uma das marcas que deu origem à Audi, e desenvolveram o Iltis. A transmissão às quatro rodas usava alguns componentes do Audi 100 da altura e o motor era um 1.7 de quatro cilindros, a gasolina com 75 cv. Até poderia ter-se chamado Audi, mas o Grupo achou que VW seria politicamente melhor aceite, e tiveram razão. Apesar da sua simplicidade, do teto de lona, das portas de tirar, a verdade é que o Iltis até ganhou o rali Paris-Dakar, quando a prova era uma verdadeira aventura africana e não a atual corrida desenfreada.

O SUV em super-luxo

O Q8 é um produto completamente diferente, destinado a disputar vendas entre os SUV de luxo, com um desenho inovador (para os padrões da Audi), um interior luxuoso e super-equipado e, para já, com um motor 3.0 V6 Diesel de 286 cv, caixa automática e tração às quatro rodas. Nesta versão de lançamento chama-se Q8 50 TDI, com o “50” a indicar o nível de potência, segundo uma lógica inventada pela Audi que ninguém percebe. Fica acima do 45 TDI, que terá 231 cv e será lançado mais tarde e abaixo do SQ8 4.0 BiTDI de 435 cv. O 50 TDI custa 110 mil euros, mas, mesmo assim, a SIVA espera vender 60 por ano, sabendo-se que o X6 e o GLE Coupé juntos só vendem 100.

Tudo se liga ao primeiro quattro

Tentei encontrar mais algum ponto em comum entre o Iltis militar e o Q8 SUV coupé de luxo e, para minha surpresa, consegui! Segundo os estilistas da Audi, os alargamentos dos guarda-lamas do Q8 são inspirados nos do primeiro Audi quattro, o que ganhou nos ralis dos anos oitenta. Quanto ao Iltis, foi o carro que deu o seu sistema de transmissão integral precisamente a esse primeiro quattro.

Conclusão

Duvido que muitos dos engenheiros que trabalharam no projeto do Q8 tenham conhecimento de que foram os seus antecessores que fizeram o Iltis e que, de algum modo, lançaram no mercado aquele que pode ser visto como o primeiro TT do Grupo VW. Em certa medida, ainda que muito ténue, o Iltis é o “pai” de todos os SUV que o grupo produz atualmente.