A contagem decrescente para a chegada do ID.3 a Portugal continua. Altura para ver como a VW fará deste, o primeiro automóvel elétrico com neutralidade de CO2, em todo o ciclo de vida.

 

Pode não ser dos assuntos mais falados, quando se fala de carros elétricos, mas não há dúvidas que a neutralidade de emissões de CO2, durante todas as fases de fabricação de um carro elétrico é um tema fundamental.

Neutralidade de CO2 quer dizer que, começando na fabricação de componentes por fornecedores externos, passando pela produção final do automóvel, avançando para a utilização pelo comprador e terminando depois na reutilização e reciclagem, todo o ciclo se consegue fazer com um balanço de emissões de CO2 de zero.

Pode parecer uma tarefa impossível, mas a VW, desde que deu início ao projecto dos veículos elétricos ID, tem abordado o tema olhando para todos os passos e procurando soluções para os vários estados da fabricação de um veículo elétrico.

Emissões locais zero, não chega

A VW e outros construtores, sabem que não basta colocar à venda um veículo com emissões zero locais, ou seja, que não emite CO2 durante a condução. É preciso ir mais longe e garantir que todo o ciclo é neutro em emissões de CO2.

Sobretudo porque, à partida, é admitido que a fabricação de um carro elétrico produz uma vez e meia mais CO2 que um carro com motor térmico, devido essencialmente à construção da bateria.

Os 3 princípios básicos

Os três princípios básicos para este neutralidade de CO2 não são surpreendentes.

1reduzir ao máximo as emissões de CO2

2 – garantir que o fornecimento de energia para as fábricas vem de fontes renováveis

3 – prever soluções para compensar o CO2 que não se consegue impedir de emitir.

O primeiro princípio é o mais complexo, mas é também o que oferece mais oportunidades de evolução.

A VW divide o primeiro princípio, em quatro áreas distintas, ao longo da vida do automóvel.

A primeira está relacionada com os fornecedores externos de componentes para a fabricação dos seus modelos elétricos ID.

Fornecedores certificados

Tratando-se de empresas exteriores à VW, é preciso garantias de que o trabalho que fazem está otimizado para a redução de CO2.

Para isso, foi feita uma análise de todos os fornecedores e ponderada a sua percentagem de emissão de CO2.

A conclusão foi a esperada, o maior contributo de emissões de CO2 vem da fabricação da bateria (43,3%), nomeadamente das células.

No caso da VW, são fornecidas pela empresa Sul-Coreana LG Chem, que as produz numa fábrica na Polónia. Esta fábrica é abastecida por energia obtida de fontes renováveis.

Mas a produção do aço necessário à estrutura MEB dos veículos ID vem logo a seguir, com um contributo de 18,4% na produção de CO2 pela parte dos fornecedores.

A diferença que faz a energia “verde”

Segundo as contas da VW, a partir do momento em que se garanta que a energia usada para a produção das células seja renovável, é possível reduzir em 80% as emissões de CO2 da sua produção.

Quanto à produção do aço, a margem que se pode ganhar em redução de CO2 é de 70%, se for garantida a utilização de energia de fontes renováveis para a sua produção.

A segunda área diz respeito diretamente à fase de produção dos veículos ID, pela VW.

Falando da primeira fábrica que foi transformada para produção de veículos elétricos, a unidade de Zwickau, que fará 330 000 elétricos a partir de 2021, a redução da libertação de CO2 desde 2010 já atingiu os 66%.

O exemplo de Zwickau

A principal medida tomada para chegar a este resultado foi a compra de eletricidade certificada renovável.

Toda a energia consumida na fábrica tem origem hidráulica, eólica ou solar, sendo fornecida por uma empresa certificada.

Para gerar o calor necessário na fábrica, foi instalada uma pequena central de co-geração (electricidade e calor) alimentada a gaz natural.

Depois foram acauteladas outras situações relativas ao funcionamento das instalações, com otimização da utilização de recursos como a eletricidade, mas também o calor e a água.

Chegou-se ao detalhe de estudar qual a frequência de funcionamento mais eficiente dos ventiladores instalados na fábrica. Outro detalhe, o alumínio usado para fabricar as caixas dos motores elétricos é reciclado.

Projetos de compensação

Mas tudo isto não chega para atingir a neutralidade carbónica, continua a existir uma percentagem de produção de CO2 que é inevitável.

Para compensar as emissões de CO2 inevitáveis durante a produção, a VW apoia projetos de conservação da floresta, acompanhamento de longo termo de comunidades locais e proteção da biodiversidade.

Medidas em linha com os objetivos de desenvolvimento sustentável preconizados pelas Nações Unidas.

A ação mais conhecida da VW é o Katingan Mentaya Project, localizado no Bornéu, na Indonésia.

São 149 800 hectares de floresta tropical que está a ser reabilitada, garantido que a comunidade de orangotangos local, que representa 10% dos existentes no país, tem melhores condições de vida.

Em paralelo, são melhoradas as condições de vida de 34 povoações, através de um desenvolvimento sustentável, que inclui criação de emprego, financiamento, educação e saúde.

Recargas com eletricidade “verde”

Quanto à utilização do automóvel elétrico pelos compradores, o trabalho que está a ser feito é também de certificação de fornecimento de energia com origem em fontes renováveis.

Para os compradores que o desejarem, na Alemanha a distribuidora de eletricidade Elli, empresa do grupo VW, fornece energia de origem 100% renovável, a chamada VV Naturstrom, certificada pelas entidades responsáveis.

Também nos postos de carga rápida da Ionity (consórcio de que o grupo VW faz parte) a electricidade disponível é de origem renovável, desde que disponível no país de instalação. A Ionity terá 400 destes postos a funcionar na Europa até ao final de 2020.

Reutilização, a segunda vida

Também no capítulo da reutilização, estão a ser criados postos de recarga feitos com base em módulos de baterias de automóveis que já não podem aí cumprir a sua função, por terem descido abaixo da barreira dos 70% de capacidade.

Essas baterias servem para alimentar os postos de carregamento itinerantes, a instalar em locais de convergência ocasional, como por exemplo junto de eventos desportivos ou culturais.

Mas também servem para complementar a oferta da rede elétrica pública em horas de maior procura; ou até como postos de substituição em casos extremos de “black-out” da rede geral.

Reciclagem é o último passo

Finalmente, a questão da reciclagem está igualmente a ser trabalhada. Desde 2009 que a VW desenvolve tecnologia de reciclagem de baterias de iões de Lítio, altura em que lançou o projeto de pesquisa e desenvolvimento Lithorec.

Agora, esse trabalho está a dar frutos, estando a ser instalada no perímetro da unidade fabril de Salzgitter uma fábrica piloto de reciclagem de baterias.

Os compromissos da VW

Todas estas medidas se inserem no compromisso de cumprir o acordo climático de Paris e tornar a VW numa empresa neutral em termos de CO2 até 2050. O ID.3 será o primeiro modelo a atingir esse objetivo.

Até 2025, o plano de produto inclui o lançamento de 70 novos modelos elétricos, num volume estimado em três milhões de veículos por ano, construídos em oito fábricas, instaladas na Europa, China e EUA, que estarão a laborar em pleno até 2022.

O roteiro para chegar a esse objetivo passa por cinco etapas com as quais a VW se comprometeu:

1Descer as emissões de CO2 da sua gama de modelos dos 123 g/km, em 2018, para os 99 g/km, em 2020

2 – Entre 2010 e 2025, haverá uma descida de 45% nas emissões de CO2 nas fábricas.

3 – Entre 2015 e 2025, a pegada de CO2 de cada veículo ao longo da sua vida útil, será reduzida em 30%.

4 – Para 2023, está estimado que as emissões da gama desçam até aos 74 g/km.

5 – Em 2030, a produção total da VW contará com 40% de modelos elétricos.

Conclusão

O nível de investimento e de comprometimento que a VW está a anunciar para a eletrificação da sua gama de automóveis, não tem paralelo na indústria. A aposta num novo paradigma é muito forte e sem ambiguidades.

Agora resta esperar para começar a ver os resultados, sobretudo a resposta do mercado ao início da comercialização do ID.3.

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