A contagem decrescente para o lançamento do VW ID.3 continua. A nove meses da chegada a Portugal, fique a saber como a plataforma MEB quer revolucionar o automóvel.

 

Hoje, há duas filosofias para as plataformas dos novos automóveis. De um lado, temos as plataformas multi-energia, que podem acolher todo o tipo de motorizações, desde os motores a gasolina e gasóleo, aos híbridos e elétricos.

Do outro lado, temos as plataformas dedicadas, as que apenas podem ser usadas para automóveis elétricos puros.

Alguns construtores defendem que a primeira opção é melhor, porque permite maior versatilidade e poupanças nas linhas de montagem, que já estão preparadas para produzir veículos com qualquer tipo de motorização.

Além disso, tem a vantagem de se poder alterar facilmente o volume de produção de cada versão, de acordo com a evolução do mercado.

Outros construtores, defendem que as plataformas dedicadas têm a vantagem de extrair o máximo de benefícios de uma estrutura otimizada para veículos elétricos.

Aproveitam melhor o espaço interior, “arrumam” os vários componentes elétricos de maneira mais racional e são mais flexíveis, em termos da variedade de modelos a que podem dar a base.

Qual a melhor opção?

Decidir qual o melhor caminho é delicado e está ligado a fatores como o nível de investimento que cada construtor quer fazer na eletrificação. Mas também ao tipo de infraestruturas ligadas à mobilidade elétrica que já tem a operar.

No caso da Volkswagen, a opção foi pela plataforma dedicada MEB (Modular Electric drive Matrix) que só pode ser usada para veículos elétricos, nunca poderá ser reconvertida para levar motores térmicos.

É uma aposta muito forte da VW na eletrificação do automóvel, um passo considerado tão importante como o foi o lançamento do Carocha ou do primeiro Golf.

É também o maior investimento de sempre na eletrificação, na indústria automóvel. O primeiro que tem a ambição de tornar o carro elétrico realmente acessível e adaptado a um alargado número de condutores.

Começou em 2016

Tudo começou em 2016, num plano de investimento de 30 mil milhões de euros na área da mobilidade elétrica, dos quais sete foram para desenvolver a MEB.

Foi preciso mudar a relação com os fornecedores, que passaram a ser parte ativa no desenvolvimento da família de modelos elétricos ID: a VW diz o que precisa, cabe aos fornecedores desenvolver soluções.

Também a adaptação das fábricas absorveu uma parte do investimento, a começar pela fábrica da VW em Zwickau, que passou a produzir exclusivamente carros elétricos, após um investimento de 1,2 mil milhões de euros.

Objetivos ambiciosos

Os objetivos estão à altura dos investimentos, estando planeado chegar à produção de um milhão de veículos elétricos por ano até 2025, incluindo os modelos das várias marcas do grupo que vão usar a MEB.

Já em 2020, está programada a produção de 100 000 veículos da família ID, chegando aos 22 milhões acumulados até 2028, considerando todas as marcas do grupo.

Numa primeira onda, até 2022, está previsto o lançamento de 27 modelos elétricos, chegando aos 70 em 2028.

São números sem precedentes, na curta história da eletrificação do automóvel e que dão credibilidade à VW quando afirma que quer revolucionar a indústria automóvel.

MEB: a ferramenta essencial

A ferramenta essencial dessa revolução é a plataforma para veículos elétricos MEB.

Em termos técnicos, é formada por uma base em aço estampado, como qualquer outra plataforma, por exemplo a MQB, que já serviu para colocar nas estradas 100 milhões de automóveis.

A grande diferença está nas proporções e na “arrumação” de todos os componentes elétricos.

O motor e a transmissão (de uma única velocidade) estão atrás, entre as rodas traseiras que recebem a tração.

Também atrás está a eletrónica de potência, que faz a conversão entre a corrente DC, da bateria e a AC, que alimenta o motor.

A bateria em forma de barra de chocolate, está sob o piso do habitáculo, dentro de uma caixa de alumínio que a protege em caso de acidente e dentro da qual está ainda o sistema de arrefecimento por líquido.

Por baixo, tem ainda uma placa de aço, que forma a proteção inferior.

Dinâmica promete

Na frente estão componentes como os radiadores da bateria, caixa de direção, ar condicionado e sistema de travagem, entre outros.

Com esta disposição, foi possível atingir dois alvos essenciais para obter um bom comportamento dinâmico: baixo centro de gravidade e distribuição de pesos de 50% por eixo.

A isto, juntam-se as suspensões independentes às quatro rodas e uma grande distância entre-eixos.

Muito modular

A nova plataforma estreia ainda a nova arquitetura eletrónica E3 e o novo sistema operativo VW.OS, que permitem aos modelos ID tirar o máximo partido da ligação permanente à Internet e receber atualizações de software por via remota.

A MEB tem ainda outras vantagens, como a possibilidade de utilizar diversos tamanhos de baterias, consoante o tipo de automóvel em que for utilizada. Pode também ter versões de tração apenas atrás, como o ID.3, ou tração às quatro rodas.

Para um grupo que engloba tantas marcas como o da VW, a MEB oferece a versatilidade de poder receber todo o tipo de carroçarias, alargando a oferta por vários segmentos e mantendo a identidade do estilo de cada marca.

Imenso espaço

Outras vantagens importantes são a relação entre o comprimento exterior e o espaço interior.

A VW afirma que o ID.3 tem o comprimento semelhante ao de um Golf e o espaço interior de um Passat.

A inexistência de um motor dianteiro, permitiu fazer avançar o habitáculo e aproveitar ao máximo o espaço para os ocupantes.

O piso plano também contribui para a facilidade de utilização e a posição de condução, ligeiramente mais alta, devido à presença da bateria, vai de encontro à tendência atual dos condutores, que apreciam a melhor visibilidade da estrada que isso proporciona.

E as baterias?…

Para qualquer construtor europeu envolvido na produção de um modelo elétrico, o fornecimento das baterias é sempre uma preocupação.

A VW já produz as baterias para os seus híbridos GTE e para o e-Golf e e-UP! na sua fábrica de Braunschweig, uma unidade que foi ampliada para a produção das baterias dos ID.

Além disso, está a dar o passo mais importante na sua unidade de Salzgitter, onde já tem a funcionar uma linha piloto de células de baterias de iões de Lítio.

Aqui estão a ser desenvolvidas as novas gerações de baterias, que vão permitir à VW diminuir a sua dependência de terceiros.

Uma nova fábrica vai começar a ser construída em 2020, com capacidade de produzir 16 GWh, ou seja, meio milhão de baterias por ano.

Entretanto está a desenvolver as baterias de eletrólito sólido, que prevê ter em produção a partir de 2025.

O objetivo da VW é ser autónoma, no que à fabricação de modelos elétricos diz respeito, contando com a fábrica de Kassel, para a produção de motores elétricos.

Abrir a MEB a outros construtores

Mas o grupo quer abrir a utilização da MEB a outros parceiros, de modo a aumentar a produção de modelos com esta plataforma e diminuir progressivamente os custos.

Para isso, estabeleceu um acordo com a Ford para o fornecimento de plataformas MEB.

A partir de 2023, a Ford irá produzir um modelo elétrico de grande volume na Europa, com um programa de 600 000 unidades em seis anos. Um segundo modelo está em estudo, o que pode duplicar o âmbito desta colaboração.

Mas a VW também quer partilhar a MEB com parceiros mais pequenos, tais como a e.GO, uma empresa alemã especializada em pequenos veículos elétricos,

O negócio para a produção de um modelo de baixo volume de produção já está fechado. O ID Buggy tem sido apontado como um exemplo do que é possível fazer a este nível.

Conclusão

Claro que existe sempre um risco. O risco de a procura de automóveis elétricos não acelerar tão depressa como se espera, o risco de uma recessão e alguns outros. Mas a abrangência da abordagem da VW ao tema dos carros elétricos e a maneira como quer disseminar a sua plataforma MEB, são os melhores indícios de que a revolução está já a acontecer.

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