28/02/2020. A morte anunciada dos salões automóveis já andava a pairar há alguns anos. Mas ninguém esperava que fosse um vírus chinês a acabar com o de Genebra. Como gerir esta crise?…

 

Dois dias depois de a organização do salão de Genebra garantir que ia mesmo abrir as portas da edição deste ano, o governo da Suiça decretou que estavam proibidos todos os eventos em que se esperasse a afluência de mais de 1000 pessoas.

Como se estimavam em meio milhão os visitantes, é lógico que o salão de Genebra tinha que ser cancelado.

Aliás, mais do que mil pessoas já lá estavam, a finalizar a montagem dos stands das marcas. Como será feita a desmontagem, sem poderem estar mais mil trabalhadores ao mesmo tempo dentro dos pavilhões, é coisa que ninguém sabe.

Três dias antes da ante-estreia, a organização teve poucas horas para reagir e emitir um comunicado em que anunciava o cancelamento da edição 2020 do salão, que teve a sua primeira edição em 1905.

O COVID-19 foi “fatal”

O COVID-19 foi a única entidade capaz de fazer cancelar o salão de Genebra, que se tinha organizado ininterruptamente desde 1946.

Para já, apenas foi garantido que, quem já tivesse comprado bilhete, seria reembolsado do valor, se bem que ainda não se saiba como.

A organização diz esperar que as marcas, que fizeram investimentos de milhões para estar presentes, possam compreender que se trata de um caso de saúde pública e de uma imposição governamental. Mas o caso é bem complicado.

Veremos como se vai desenrolar este novelo, ou esta novela, se as marcas assumem todo o prejuízo, se a organização vai devolver os pagamentos que recebeu das marcas e em que moldes.

Mais noites sem dormir

Acredito que o estatuto do salão de Genebra, como o mais prestigiado e influente da Europa, possa ser uma ajuda para resolver a montanha de problemas que este cancelamento ergueu.

Mas imagino que os organizadores vão passar (mais) umas noites sem dormir, até terem tudo resolvido. Se o assunto meter seguradoras, então será ainda mais demorado.

Para quem defendia que o modelo dos salões automóveis estava ultrapassado, por exemplo as marcas que começaram a deixar de estar presentes nos salões, estes são dias de profundo alivio.

Mas, nos departamentos de comunicação das marcas que tinham tudo preparado para a abertura das portas na próxima terça-feira, neste preciso momento reina o estado de sítio. A situação, ao nível do marketing, é de emergência total.

O caos total?…

Estava tudo programado. As apresentações de novos modelos tinham hora marcada para ser retirado o pano de cima dos novos carros.

Os colarinhos brancos tinham os discursos afinados e o alinhamento definido. De repente, todo o planeamento ruiu como um castelo de cartas. O que fazer agora?

Como fazer o anúncio das novidades que já não vai ser feito em Genebra?
Planos de lançamento de novos modelos passavam precisamente por este dia “D” de Genebra e agora isso deixa de existir.

Como resolver o problema? Que plano “B” pode ser alinhavado durante o fim-de-semana para começar a executar na segunda-feira?

Passar tudo para o Digital?

A divulgação digital das novidades parece ser a solução mais lógica. Mas imagine-se as dezenas de novidades que estavam previstas ser mostradas no salão, a ser disparadas nos sites oficiais das marcas.

O retorno nunca será o mesmo, mas algumas marcas já anunciaram que vão mesmo fazer conferências de imprensa digitais.

Passar o salão para as redes sociais? Será uma hipótese? Bombardear o Facebook, Instagram e You Tube com notícias, fotos e vídeos dos carros que se queria mostrar no salão, poderá ser uma opção.

Mas sem organização e com tantas novidades para mostrar, as marcas vão atropelar-se umas às outras e ninguém vai conseguir nenhum retorno.

O Salão Fantasma

Uma solução seria fazer apenas um dia de salão, à porta fechada. Explico.
Limitar o número de funcionários dos pavilhões e de participantes de cada marca ao mínimo indispensável e recrutar um pequeno grupo de fotógrafos e de equipas de filmagem, de modo a ficar abaixo dos 1000 indivíduos.

Depois seria fazer uma única reportagem e divulgá-la a todos os meios de comunicação que tinham previsto ir a Genebra. Uma espécie de salão fantasma. Impossível, claro!…

Para os órgãos de comunicação que tinham previsto fazer a reportagem no local, ou mesmo à distância, também se coloca um problema: de repente, ficam sem matéria para ocupar o espaço que tinham reservado. A pior angústia de um jornalista.

Conclusão

Seja qual for a solução encontrada pelas marcas para resolver a questão da divulgação dos modelos que tinham “guardado” para Genebra, esta ficará para a a história como o maior simulacro de um mundo sem salões automóveis. Veremos qual é o saldo.
Francisco Mota

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