28/12/2018. Fim do ano é altura de fazer o balanço dos últimos doze meses e de avaliar o trabalho feito. Uma vista de olhos à minha agenda das 52 últimas semanas traz recordações de alguns dos melhores carros testados durante o ano. Não só dos carros, mas também dos locais onde os testei: estradas entusiasmantes e pistas desafiantes contribuíram para momentos de condução que ficaram na memória.

Mas como escolher o Top 10?

A escolha é sempre o mais difícil, quando olho para a sequência dos carros testados e a aritmética me diz que o total se aproximou das duas centenas. Com um critério livre, feito com base nas memórias mais fortes e nos carros que mais me impressionaram, cheguei ao meu Top 10 de 2018. Este ano patrocinado em exclusivo por Targa 67, uma marca que chegou ao mercado no último trimestre do ano e que veio contribuir para alimentar a continua vontade de aprender sempre mais sobre novos modelos, novas tecnologias e esta indústria que apaixona todos os que olham para um carro e conseguem ver mais do que um mero meio de transporte.

O Top 10 2018 by Targa 67

Aqui fica então o Top 10 Targa 67 dos meus melhores ensaios de 2018, com uma dedicatória especial a todos aqueles que comigo partilham a paixão pelos automóveis e me acompanharam ao longo do ano. Com os desejos de um 2019 cheio de carros novos.

10 – Jeep Wrangler

É preciso coragem para lançar, em 2018, um carro novo com chassis de longarinas e travessas e eixos rígidos. Mas foi essa a escolha para a nova geração do eterno Wrangler e, depois de o guiar nas montanhas da Áustria, não foi difícil perceber porquê. A Jeep atualizou o seu modelo mais icónico, mas manteve tudo aquilo que o define deste os tempos da segunda grande guerra e que fez a sua fama. A experiência de condução nada tem a ver com a de um qualquer SUV, é muito mais autêntica e envolvente, mesmo quando isso quer dizer menos cómoda. A competência com que o Rubicon me levou montanha acima, fazendo todos os obstáculos parecerem fáceis, foi a prova disso.

9 – Hyundai i30 N

O primeiro verdadeiro “GTI” dos sul-coreanos seguiu a filosofia certa, a de se focar mais na emoção da condução do que propriamente na eficiência. Levei-o a algumas das minhas estradas preferidas e fiquei a conhecer um compacto desportivo que promove uma forte ligação do condutor com a ação, seja através da suspensão, da direção, do motor e até do escape, que me fez lembrar outros desportivos de há várias décadas. Claro que há margem de progressão e não tenho dúvidas que a Hyundai vai fazer isso mesmo. Mas o ponto de partida já é muito bom.

8 – Toyota Supra

Um dia passado entre o circuito espanhol de Jarama e estradas montanhosas não muito afastadas, chegaram para ficar com uma ideia muito precisa do que vale o novo Supra, apesar de o ter guiado totalmente camuflado, por fora e por dentro. A partilha do projeto com o BMW Z4 não podia ser mais proveitosa para a Toyota, que assim conseguiu fazer o que queria: um coupé de tração atrás e motor de seis cilindros em linha dianteiro. Muito preciso e progressivo, em pista; capaz de lidar com pisos menos que perfeitos, na estrada. Só faltou autorização para desligar o ESP e ver como será, para lá do limite da borracha…

7 – Mercedes-Benz Classe A

Ao fim de vários dias a dizer “Olá, Mercedes!” de cada vez que entrava no novo classe A, fiquei finalmente adepto dos comandos por voz. Por uma razão muito simples: este funciona!
A nova geração do Classe A impressiona pelo que oferece em muitas áreas, desde o conforto ao ambiente do habitáculo, aos novos motores e ao sistema de infotainment. E sem esquecer o sentido prático da utilização, que faz toda a diferença neste segmento.

6 – Renault Mégane R.S.

Jerez de la Frontera, primeiro na estrada e depois na pista, ao volante da nova geração do Mégane R.S., agora só com carroçaria de cinco portas e com direção às quatro rodas. A conversa com os engenheiros mostrou o detalhe a que desceram para conseguir os resultados que depois pude confirmar nos testes da pista e da estrada. A emoção manteve-se, acrescentando maior facilidade de utilização diária, numa carroçaria que, aos meus olhos, ganhou em agressividade. Nem a caixa de dupla embraiagem conseguiu ser uma desilusão.

5 – Ford Fiesta ST

Três cilindros chegam para fazer um pequeno desportivo? O primeiro teste nas estradas do sul de França, entre elas a famosa Route Napoleon, mostraram que a questão nem se coloca. Os homens da Ford continuam a ser uns fanáticos do comportamento dinâmico, tirando da cartola mais um carro que tem tanto de eficiente e rápido a curvar, como de interactivo e divertido, na maneira como comunica com o condutor. Foi um dia a andar francamente depressa em estradas quase sempre desertas, que mostraram a única insuficiência do Fiesta ST, a resistência dos travões.

4 – Mercedes-AMG G63

Não estava nada à espera de gostar de um “monstro” desmesurado como o novo Classe G, que faz a geração anterior parecer um anão. A mesma potência do superdesportivo AMG GT metida debaixo do capót de um SUV, que mantém o chassis separado da carroçaria, tinha tudo para resultar em mais um carro bom para jogadores de futebol e árabes com mais dinheiro que juízo. Mas não. Os escapes de saída lateral, a frente a levantar ligeiramente quando se acelera a fundo e uma dinâmica quase “normal” fazem da experiência de condução do G63 algo de extraordinário.

3 – Alpine A110

Não sou grande apreciador de estilos nostálgicos, mas esta “cópia” do antigo Alpine A110 convenceu-me, sobretudo quando o coloquei lado a lado com um A110 original, no Autódromo do Estoril. E quando o levei para a pista para umas voltas a fundo, gostei ainda mais. Leve, ágil, simples e muito divertido de guiar, seja certinho, seja mais atravessado, a provar que não é preciso ter centenas de “cavalos” debaixo do pé direito para gravar umas memórias saborosas ao volante.

2 – Ford GT

Amarelo e estacionado no “paddock” do circuito de Jarama, com a porta aberta para cima, à minha espera para o guiar. Não há dias muito melhores do que aquele em que fui testar o Ford GT ao circuito espanhol. Apesar de ter começado com a desilusão de não o poder levar para a pista, ocupada por outro construtor durante todo o dia. Mas um instrutor com conhecimento e coragem, levou-me a um antigo troço de ralis da zona, onde o GT me mostrou a sua verdadeira génese de carro de corrida. Aqui não é só “conversa fiada”, é mesmo genuíno. A ligação do condutor com a mecânica e com a estrada é perfeita. Cada movimento humano tem o esperado efeito na dinâmica, sem folgas, mas sem nervosismos. O teste foi muito curto (e rápido!…) mas foi aquele que mais apreciei durante todo o ano. Só que, não posso esquecer a deceção que é entrar no habitáculo e ver que a imaginação dos estilistas se ficou pela carroçaria.

1 – Aston Martin DBS Superleggera

Este foi o dia em que me imaginei na pele do meu agente secreto preferido. A começar pela arquitetura inesperada do hotel onde fiquei, nos Alpes da Baviera. O DBS Superleggera é uma peça de desenho irresistível, um daqueles carros em que os olhos não param de descobrir detalhes fabulosos e formas sedutoras. E o melhor é que isso não é nada, face à condução. Com mais de 700 cv e apenas tração atrás, havia aqui matéria para um resultado capaz de criar calafrios, mas isso seria ignorar o minucioso trabalho de afinação da suspensão e da transmissão. Em estradas mais lentas e sinuosas ou nas mais fluídas e rápidas, este foi o carro que me proporcionou os momentos de condução em estrada mais marcantes. Aqueles que me basta fechar os olhos para os conseguir reviver, quase minuto a minuto: a sensação de aceleração do V12 biturbo, as passagens de caixa quando as ordenei e aquele som orgânico do escape que se entranha pelos ouvidos e faz os neurónios dançar. Dos carros que guiei este ano, foi o meu Nº1.

Francisco Mota