VW ID.Buzz Pro (fotos de João Apolinário)

Três metros de distância entre-eixos

ID.Buzz tem dimensões próximas às da Multivan

Luzes de LED em posição alta

Seis anos depois do concept-car, surge a versão de produção

Luzes de trás prolongam-se para as laterias

Inspiração no VW Type 2 de 1949

Há sete cores principais e muitas combinações de dois tons

Boa visibilidade para a frente

Painel de instrumentos é partilhado com outros ID

Ecrã tátil tem os mesmos problemas dos outros ID

Cores berrantes disfarçam plásticos duros em todo o habitáculo

Estrado nivela com bancos traseiros, quando rebatidos

Sob o estrado, há caixas de arrumação

Cabos de recarga num compartimento na mala

Bancos de trás com imenso espaço, portas deslizam

Bancos têm rebatimento assimétrico e deslizam

Bancos da frente em posição alta

Autonomia limitada pelo peso e consumos altos

Aceleração 0-100 km/h em 10,2 segundos e velocidade máxima de 145 km/h

Muito confortável em quase todo o tipo de pisos

A ideia de fazer renascer o antigo furgão “pão de forma”, agora na era dos elétricos, foi manifestada pela VW em 2016. Foram precisos seis anos para o projeto se concretizar. Resta saber como o ID.Buzz se enquadra na oferta de elétricos da VW. E para o descobrir, nada melhor do que um teste completo no TARGA 67.

 

Em 2016 a VW apresentou um “concept-car” a que deu o nome de Budd-E, que fazia alusão a uma reencarnação do antigo furgão “pão de forma” para a era elétrica. No ano seguinte, 2017, o conceito evoluiu para o ID.BUZZ mas foram precisos mais cinco anos até que o projeto chegasse à produção em série na forma do ID.Buzz.

Seis anos depois do concept-car, surge a versão de produção

Foi um período de gestação muito longo, por um lado necessário para a VW avaliar a dimensão da procura de um modelo como este, por outro lado com os dois anos de atraso impostos pela pandemia. Mas o ID.Buzz chegou e já o pude testar em estradas portuguesas.

“Pão de forma” elétrico

A inspiração do desenho exterior alude claramente ao “pão de forma”, o VW Type 2 de 1949 a começar pelo formato furgão de passageiros. Quem o vê passar, sorri e acha graça, mas não desconfiam que possa custar 71 501 euros.

O ID.Buzz não é um monovolume dentro do conceito que conhecemos há alguns anos. É um furgão de passageiros, elétrico, que até tem uma versão comercial só com uma fila de bancos e sem vidros laterais traseiros. Até ganhou o prémio “Van Of The Year 2023”.

Inspiração no VW Type 2 de 1949

Tem 4,71 metros de comprimento, 1,99 metros de largura e 1,94 metros de altura, dimensões que não andam muito longe das registadas pelo furgão VW Multivan de chassis curto. O ID.Buzz até é ligeiramente mais largo e alto.

Pouco prático…

O enorme portão traseiro é de abertura vertical, obrigando a escolher bem o lugar de estacionamento, para o poder abrir. A mala é gigantesca e anuncia 1121 litros, podendo levar um estrado que fica nivelado com o banco traseiro, quando este se rebate. Dá para transformar a superfície numa cama, seguindo o imaginário do “pão de forma”.

Três metros de distância entre-eixos

O acesso à segunda fila de bancos é feito através de portas deslizantes de comando elétrico, típicas dos furgões e muito práticas. A deceção vem depois, com um banco traseiro normal dividido em duas partes assimétricas e cuja única versatilidade é deslizar 15 cm no sentido longitudinal.

Não há três bancos individuais, como nos melhores MPV e SUV. Nem opção por terceira fila de bancos e sete lugares. Isso deve ficar para uma versão mais comprida a lançar durante 2023.

Plataforma MEB

Claro que não falta espaço, mas o acesso, especialmente para os lugares da frente, obriga a subir um degrau e não há uma pega no pilar “A” para ajudar, como em algumas pick-up.

Bancos da frente em posição alta

A verdade é que o ID-Buzz é feito com base na mesma plataforma MEB dos outros elétricos da família ID, com bateria de 77 kWh úteis sob o piso e motor elétrico de 204 cv no eixo traseiro. O mesmo motor APP310 do ID.3.

Bateria carrega a 170 kW

A bateria também é a mesma, mas evoluiu para permitir aceitar carregamentos até 170 kW. Se encontrar um destes supercarregadores, a bateria demora 30 minutos para ir dos 5 aos 80%. O carregamento máximo em AC é de 11 kW e demora 7h30.

Cabos de recarga num compartimento na mala

A VW também estreia o “Plug & Charge” que dispensa cartões e aplicações para carregar: é só ligar o cabo de carregamento e deixar o ID.Buzz “identificar-se” junto do carregador. Isto, quando e onde o sistema estiver disponível.

Atenção ao tamanho

A posição de condução é alta, com boa visibilidade para a frente, apesar da presença de uma irritante bossa a meio do tablier, para o radar. O raio de viragem de 11,1 metros é curto e ajuda nas manobras. Mas é preciso atenção para não bater com a lateral interior à curva, quando se manobra em parques de supermercado.

Furgão de passageiros com portas traseiras deslizantes

É preciso nunca esquecer que se está ao volante de um furgão, deve usar-se muito os retrovisores e calcular bem as manobras. Pela dúvida, recuar e tentar outro ângulo. É muito menos prático de guiar que um ID.4, por exemplo.

O sistema de travagem autónoma, para evitar toques em manobras e estacionamentos é muito brusco, mas evita dissabores.

As mesmas questões dos ID

O interior segue o mesmo estilo dos outros ID, aqui com cores mais berrantes, para forçar a ligação nostálgica. Mas as cores não escondem plásticos que são todos duros, em todo o lado.

Boa visibilidade para a frente

O ecrã central tátil também é o mesmo dos outros ID, com os mesmos problemas de utilização, nomeadamente a falta de lógica nos sub-menus e a falta de iluminação nos “sliders” que regulam o volume do som e a temperatura do habitáculo.

O comando da transmissão continua a ser rotativo, mas deixou de estar na continuidade do pequeno painel de instrumentos e passou para a coluna de direção. Menos original, mas muito mais ergonómico.

Bem calibrado

Os modos de condução disponíveis são: Eco/Comfort/Sport/Individual mas não se pode dizer que mudem muito a resposta do acelerador ou a assistência da direção. O que significa que o modo Eco é mais do que suficiente para andar em cidade.

Aceleração 0-100 km/h em 10,2 segundos e velocidade máxima de 145 km/h

Mesmo com jantes de 19”, com pneus mais largos atrás que à frente (235/55 R19 e 255//50 R19) o conforto é muito bom, não só sobre passadeiras elevadas como bandas sonoras e buracos pouco profundos. Não admira, pois o peso de 2484 kg, coloca a relação entre massas suspensas e não suspensas do lado do conforto.

O efeito de regeneração tem dois níveis, o nível “B” está bem afinado para condução em cidade, não sendo demasiado agressivo quando se tira o pé do acelerador. Mas não imobiliza o ID.Buzz.

Muito gastador

A direção está bem assistida e o pedal do acelerador não é nada brusco, mas tem força quando se lhe pede. No meu habitual teste de consumos em cidade, registei um valor de 19,3 kWh/100 km, que não é nada baixo e que equivale a uma autonomia em cidade de apenas 399 km.

Muito confortável em quase todo o tipo de pisos

Em autoestrada, rolando a 120 km/h estabilizados (o máximo é de 145 kmh) e com o A/C sempre desligado, o consumo subiu aos 26,5 kWh/100 km, o que é ainda menos brilhante, até porque o coeficiente aerodinâmico de 0,285 é baixo. Mas o peso não perdoa, resultando numa autonomia de só 290 km.

Não é, por isso, o carro ideal para uma “road trip” como o antigo “pão de forma”, que andava devagar mas não tinha problemas de autonomia. Contudo, o ID.Buzz é muito silencioso em autoestrada, com muito poucos ruídos aerodinâmicos e quase nenhuns de rolamento.

Super pneus

Ainda fiz uma passagem por uma estrada secundária com algumas curvas, para confirmar que os 10,2 segundos na aceleração 0-100 km/h são suficientes para um andamento despachado.

Condução segura e previsível. Comandos bem calibrados

Em modo Sport, ficam disponíveis os 310 Nm de binário máximo e as reacelerações são sempre rápidas o suficientes para um furgão de passageiros. Mas sente-se sempre o peso, sobretudo nas travagens.

A dinâmica é correta, sem demasiada inclinação lateral e com os pneus claramente sobredimensionados a garantir que as 2,48 toneladas não ganham nenhum tipo de inércia alarmante.

VW ID.Buzz Pro (fotos de João Apolinário)

muita aderência e a atitude é quase sempre neutra. Acelerando forte à saída de curvas lentas, com piso menos aderente, sente-se a tração atrás a rodar ligeiramente o carro até chegar o ESC. Tudo com enorme sensação de controlo.

Conclusão

Que o ID.Buzz chama as atenções e traz à memória o “pão de forma” original, disso não tenho dúvidas, depois de ver a reação de quem o via passar na rua. Mas restam outras dúvidas. O mercado dos furgões de passageiros elétricos é minúsculo e vocacionado para instituições, públicas e privadas, que procuram preço mais baixo e aspeto mais discreto. A via do desenho nostálgico também está longe de ser um opção garantida, como a própria VW sabe da má experiência que teve com as duas gerações do New Beetle. Além disso, o formato de furgão do ID.Buzz não oferece nada de significativo a mais do que um ID.4, que tem a vantagem da fisionomia SUV, hoje dominante no mercado. Muito “giro”, sem dúvida, mas pouco mais do que isso.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

Volkswagen ID.Buzz Pro

Preço: 71 501 euros

Potência: 204 cv

Veredicto: 2,5 (0 a 5)

 

Ler também, seguindo o LINK:

Vídeo – VW ID.4 será melhor elétrico que ID.3?