Durante alguns dias testei o e208 nas condições mais difíceis: o dia-a-dia normal de quem vive numa cidade. Saiba por que me fez começar a gostar de elétricos…

 

Primeiro os problemas. O maior de todos, neste momento, é a rede de carregamento muito pequena, muito pouco potente e em muito mau estado de conservação.

Falo, como é óbvio dos carros elétricos que começam a aparecer nos catálogos, ou melhor, nos sites das grandes marcas. Ainda são muito caros, o que é o outro grande problema.

Para já, dar 35 420 euros por um Peugeot 208, parece-me uma excentricidade. Quem o compra, não o compra porque não pode comprar um elétrico mais caro. Mas sim porque lhe agrada.

Depois de já o ter conduzido por curtos períodos de tempo, desta vez o teste teve a duração habitual de alguns dias, praticamente uma semana. E as conclusões surgiram em maior quantidade.

Original e apelativo

Como objeto, o e208 é algo que agrada à vista, tanto pela estética exterior, original e apelativa, como pelo ambiente do habitáculo, que pode levar os mesmos adjetivos.

O volante é muito pequeno e quase quadrado, para deixar ver por cima o painel de instrumento mas, para a minha posição de condução, ainda me obriga a baixar mais a regulação em altura do que gosto.

O painel em si tem um efeito 3D muito bem feito, fácil de ler e com um toque de futurismo que agrada ao primeiro olhar. Mesmo se o computador de bordo é limitado na informação que dá.

O monitor tátil central tem as teclas piano por baixo, muito fáceis de usar, com uma segunda fila por trás de acesso mais difícil. Uma delas dá acesso às informações da condução elétrica, que são poucas.

Os suspeitos do costume

Depois há as criticas habituais a todos os 208. Os comandos da climatização estão algures dentro do sistema de infotainment e o espaço nos lugares de trás não é muito, pior ainda neste elétrico ao nível dos pés.

A sensação de alta qualidade fica muito a dever ao desenho, pois só os plásticos do topo do tablier e das portas da frente são macios. Mas os outros têm bom aspeto.

“Start Engine” e os olhos vão direitos para o indicador de carga da bateria: está a 100% e indica 250 km de autonomia. Escolho o modo de condução Eco e arranco para o percurso citadino.

Condução de qualidade

Sem surpresa, a resposta do acelerador é imediata, mas muito fácil de dosear e sem excesso de binário. A direção não tem muito “feeling” mas é precisa e rápida, sem dar ao e208 algum tipo de nervosismo.

A suspensão leva uma barra Panhard extra no eixo de torção traseiro, como reforço face ao maior peso. E mostra-se muito confortável no mau piso. Provavelmente será mesmo o 208 mais confortável. Mesmo com pneus 205/45 R17.

Não é de estranhar, pois tem uma relação entre massas suspensas e não suspensas favorável neste campo, já veremos o preço a pagar no comportamento.

Muito fácil de guiar, com uma suavidade de operação excelente, boa visibilidade para a frente, dimensões exteriores contidas e sempre aquela sensação que basta uma leve pressão no acelerador para deixar os carros a combustão para trás.

Travões muito bem calibrados

Nem sempre fácil, a calibração do pedal de travão está muito bem feita, com uma passagem imperceptível entre regeneração e travagem efetiva. Gostei da posição “B” de regeneração extra, que permite diminuir velocidade sem tocar no travão, em muitas situações de trânsito.

A retenção não é excessiva, não é daqueles em que se levanta o pé do acelerador e depois é preciso voltar a acelerar até parar no semáforo.

Neste, que é o terreno de eleição de um elétrico como o e208, o consumo indicado pelo computador de bordo foi de 14,5 kWh/100 km. Com a bateria de 50 kWh, teria assim uma autonomia máxima teórica de 344 km. Mas a carga útil da bateria é sempre menor.

Seja como for, em cidade, não fica longe dos 340 km anunciados pela Peugeot seguindo a norma WLTP.

Autoestrada foi uma surpresa

Um trajeto em autoestrada, feito a velocidades entre os 100 e os 120 km/h deu um consumo de apenas 13,7 kWh/100 km, o que foi surpreendente, pois as oportunidades de regeneração são teoricamente menores que em cidade. Talvez as descidas tenham sido mais que as subidas…

Uma escapadela para uma estrada secundária que mais parecia um troço de ralis, serviu para tirar outras conclusões, usando agora o modo de condução Sport, o único em que os 136 cv máximos estão disponíveis, que permitem acelerar dos 0 aos 100 km/h em 8,1 segundos.

Pedal da direita a fundo e o e208 salta para diante com muita decisão. Ouve-se apenas um distante zumbido do motor a puxar as rodas da frente e sente-se o controlo de tração a entrar ao serviço, se a aceleração for mesmo a fundo.

Velocidade limitada

Em retas muito compridas, a aceleração começa a perder ímpeto quando se chega a velocidades mais altas (a máxima é limitada a 150 km/h) mas nas mais curtas, as zonas de travagem chegam bem depressa.

Com 1530 kg (mais 290 kg que a versão 1.2 PureTech de 130 cv) o e208 não mostra dificuldades na travagem, nem se nota o peso na altura de reacelerar.

Mas estes dois momentos mostram que a suspensão é relativamente macia, para o peso, deixando a carroçaria oscilar um pouco e perdendo um pouco de precisão.

A entrada em curva é rápida e precisa, mas é outro momento em que se nota o peso, sobretudo porque o ESP entra em cena relativamente cedo, para evitar qualquer indício de subviragem. Não chega para retirar todo o gozo à condução.

Mas também sabe divertir

Uma travagem um pouco mais provocadora, tardia e já com o e208 a iniciar a curva, é capaz de fazer deslizar ligeiramente a traseira, ajudando à rotação do carro.

Mas não se pode exagerar, caso contrário o ESP toma conta da ocorrência. Em estrada menos que perfeita, com bossas e depressões, a suspensão mostra os seus limites de controlo, perdendo-se precisão no movimento das massas.

Percebe-se que este e208 GT não é um desportivo radical, houve uma necessidade compreensível de manter um nível de conforto elevado, que acaba por ser aquilo a que a maioria dos condutores dão valor.

Só por curiosidade, o consumo registado nesta condução mais desportiva foi de 45,8 kWh/100 km, o que reduziria a autonomia para pouco mais de 100 km.

Onde recarregar?…

Com a bateria a chegar aos 50%, a autonomia restante anunciada era de 150 km, um bom valor, considerando que nunca me preocupei em bater recordes de consumo e nunca desliguei o A/C.

E depois chega a parte de recarregar a bateria. Os dados da Peugeot são de que num carregador normal de 7,4 kW, são precisas 8h00 para uma carga completa, tempo que desce para as 5h15m, numa tomada trifásica de 11 kW.

Num carregador rápido de 100 kW, chegam 30 minutos para atingir os 80% de carga, mas como esses ainda são raros no nosso país, o mais provável será ter que usar um de 50 kW, esperando cerca de uma hora para ter os mesmos 80%.

No meu caso, procurei na navegação os pontos de carga mais próximos mas não tive muita sorte. O primeiro estava ocupado, o segundo estava avariado, o terceiro estava ocupado por um carro de motor térmico e o quarto, semi-rápido, tinha sido tomado de “assalto” pelos TVDE…

Conclusão

A utilização diária em cidade de um elétrico como o e208 é um exercício de condução muito apelativo. Fácil de guiar, rápido e com uma boa regeneração, que lhe permite uma autonomia capaz de fazer andar o e208 durante alguns dias sem necessidade de recarregar.

Volto ao princípio, o grande problema, neste momento, é a rede pública de carga. Se está a pensar comprar um elétrico e não quer passar grande parte do tempo à procura de um posto livre e a funcionar, o melhor é mesmo ter possibilidade de carregar a bateria em casa, durante a noite.

Francisco Mota

Preço: 35 420 euros

Potência: 136 cv

Veredicto: 4,5 (0 a 5)

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