Durante o mês de Janeiro, o carro elétrico mais vendido em Portugal foi o Peugeot e-2008. Quais as razões para este sucesso, foi o que tentei descobrir neste teste. Acompanhe-me.

 

Feitas as contas aos carros elétricos vendidos em Portugal, no primeiro mês do novo ano e a Peugeot termina o primeiro “round” na frente. Entre os 424 carros 100% elétricos vendidos no país, 60 foram Peugeot e-2008, representando o modelo 15% do total.

A Peugeot liderou, pela primeira vez, nas vendas de carros elétricos, atingindo 21% de quota de um mercado que, é preciso dizê-lo, caiu para menos de metade, no que aos carros elétricos diz respeito.

Em Janeiro de 2020 venderam-se em Portugal 895 carros 100% elétricos, em Janeiro de 2021, as vendas caíram 52,6%, para os 424, valor que ficou abaixo até dos 684 de Janeiro de 2019.

Mas a verdade é que, num mercado a cair, a Peugeot e o e-2008 resistiram. Que razões podem existir para isso, em termos do produto e-2008, é o objetivo deste teste.

UM B-SUV ambicioso

Antes de ser elétrico, o 2008 é um B-SUV que conseguiu bater todos os outros veículos do segmento B, considerando todo o tipo de carroçarias, nas vendas de Janeiro de 2021.

O estilo que junta a originalidade, forte imagem de marca e uma agressividade contida, que lhe fica muito bem, é o primeiro passo para agradar.

Depois, o 2008 tem aspeto de ser quase um SUV do segmento acima, com o seu generoso comprimento de 4,30 metros.

Apesar de partilhar a plataforma CMP com o 208, o 2008 tem mais 70 mm de distância entre-eixos, criando mais espaço nos lugares da segunda fila. A mala de 405 litros é o argumento final para tornar o 2008 num familiar suficiente para muitas casas.

Interior único e original

Depois, o 2008 tem um interior que dá seguimento à originalidade do exterior. O volante muito pequeno, o painel de instrumentos digital elevado e as teclas piano para os atalhos do sistema de infotainment dão-lhe um ambiente único. A qualidade dos materiais acima da média do segmento faz o resto.

A posição de condução não é muito mais alta que a de um 208, mas é o suficiente para melhorar a visibilidade para fora e a leitura do painel de instrumentos, que assim fica menos tapado pelo aro do volante.

Até aqui, tudo o que disse se aplica a qualquer 2008, a diferença começa quando se liga o motor e nada se ouve. Nem um zunido distante. A insonorização está particularmente bem feita, como se comprova assim que se toca no acelerador.

A experiência elétrica

Os 136 cv (100 kW) de potência e, sobretudo, os 260 Nm de binário máximo agradam desde o primeiro arranque. Nem são os 0-100 km/h em 8,1 segundos que mais impressionam, mas a maneira ultra-suave como a força é entregue às rodas da frente e como estas a colocam no asfalto.

Tudo parece progressivo e natural, só quando se olha para o retrovisor e se vê os carros de motor de combustão a ficar para trás se percebe bem as vantagens do elétrico.

Pode escolher-se entre três modos de condução: Eco, para bater recordes de autonomia; Sport, para acabar depressa com a bateria e o modo Normal que serve para tudo. A potência máxima está limitada nos dois modos mais lentos, mas só até o acelerador chegar ao ressalto. Carregando a fundo, todos chegam aos 100 kW.

O modo “B” funciona… Bem

Em cidade, há ainda o modo “B” que se ativa na alavanca da transmissão automática de uma velocidade. Faz mais retenção quando se desacelera, regenerando mais depressa. Bem usado, evita muitas travagens, mas exige sempre que se use o pedal no final.

E a afinação do pedal dos travões nem é o forte do sistema, mostrando-se pouco progressivo: pouca ação no início do curso que obriga a calcar com mais força no final. A direção é leve e muito assitida, o que se compreende num carro que vai passar a sua vida às voltas na cidade.

A suspensão firme e o centro de gravidade baixo não deixam a carroçaria inclinar-se muito em curva, mas os pneus 215/60 R17 nem sequer são demasiado intolerantes no mau piso.

Notar que a versão elétrica do 2008 tem uma barra Panhard na suspensão traseira, o que lhe dá maior resistência ao acréscimo de peso provocado pela bateria e que se cifra nos 356 kg, face a um 2008 1.2 PureTech 130 a gasolina.

Divertido de guiar

Rápido nas reacelerações, bem controlado de suspensão e com boa tração, o e-2008 chega a divertir quando se passa ao modo Sport, para uma ou duas curvas feitas um pouco mais depressa. Mas convém não exagerar para não fazer subir os consumos.

Em cidade, o consumo que consegui, nos vários testes que fiz, foi sempre em torno dos 17,6 kWh/100 km, um valor razoável, tendo em conta o peso de 1548 kg.

Autonomia de 261 km

Com uma bateria de 50 kWh, mas onde apenas são usado 46 kWh, para a preservar, esse consumo equivale a uma autonomia de 261 km, em cidade.

Os 310 km de autonomia anunciados, segundo a norma WLTP, não ficam assim tão distantes e chega para vários dias de utilização citadina sem necessidade de carregar a bateria.

Pelos dados da Peugeot, a bateria demora 30 minutos a carregar 80%, num carregador rápido de corrente contínua e 100kW, que ainda são raros. O melhor é contar com o dobro, num carregador mais comum de 50 kW. Num carregador de corrente alternada de 3,7 kW, conte com 17 horas para uma carga completa, que se reduzem a 7h30 num carregador de 7,4 kWh.

Conclusão

Resta a parte mais difícil, o preço. Um e-2008 GT como este que ensaiei, sem opcionais, custa 36 270 euros. Um 2008 1.2 PureTech 130 GT com caixa automática, custa 26 771 euros. É uma diferença que, se comprado por uma empresa, pode ser diminuída. Para um particular continua a ser uma compra por impulso, o impulso de querer aderir já à transferência energética que se vai acelerar nos próximos anos.

Francisco Mota

 

Potência: 136 cv

Preço: 36 270 euros

Veredicto: 3,5

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