Na multidão dos C-SUV, o Mazda CX-30 é um segredo mal guardado. Estilo, habitáculo e condução são pontos fortes. Mas o motor de 150 cv obriga a uma condução que já não se usa.
A Mazda chama Kodo à linguagem de estilo dos seus modelos, entre os quais o CX-30 é o mais recente. Um modelo importante, não só por se posicionar no coração do segmento C-SUV, entre o CX-3 e o CX-5, mas também por ter iniciado em 2019 uma nova nomenclatura: em breve teremos no catálogo da marca de Hiroshima o CX-20 e o CX-50.
Para 2021, a gama do CX-30 foi reorganizada em termos de equipamentos e de motorizações disponíveis. A unidade que usei para este teste foi o 2.0 e-SkyactivG de 150 cv a gasolina, com caixa manual de seis e tração às rodas da frente. Mas também há caixa automática e até tração às quatro rodas, o que é pouco vulgar no segmento.
2.0 “mild hybrid” sem turbo
O motor 2.0 de quatro cilindros, sem sobrealimentação, recebe um sistema “mild hybrid” que acrescenta um gerador/motor de arranque de 6 cv e 16 Nm, capaz de melhorar a função stop/start, ajudar o motor a gasolina no arranque e fazer regeneração.
A energia é acumulada numa pequena bateria de iões de Lítio com 0,17 kWh de capacidade, colocada sob o fundo da mala. Este sistema permite também otimizar a desativação de dois cilindros do motor, em situações de baixa aceleração, em piso plano ou levemente a descer.
A potência de 150 cv, chega às 6000 rpm e o binário máximo de 213 Nm só às 4000 rpm. Ao contrário da maioria das marcas, a Mazda preferiu continuar com motores atmosféricos com cilindrada mais alta, em vez de usar motores mais pequenos turbocomprimidos.
Desenho e qualidade premium
O CX-30 destaca-se da tal multidão de C-SUV pelo desenho muito original e pelas dimensões compactas, nomeadamente a pouca altura. Parece mais um Mazda 3 com suspensão alta do que um verdadeiro SUV, o que não espanta, pois partilham a plataforma e a mecânica.
Tanto como o estilo, impressiona também o habitáculo, feito com materiais de boa qualidade, bem escolhidos, bem montados e com um desenho minimalista de muito bom gosto. Entre o CX-30 e as propostas das marcas premium no mesmo segmento, não vejo grandes diferenças.
Na segunda fila há espaço suficiente para dois adultos ou três crianças, mas o CX-30 não é dos maiores do segmento. A mala tem uns corretos 430 litros de capacidade.
Ao volante
A posição de condução é baixa para os padrões do segmento, por exemplo comparando com o Nissan Qashqai. Há quem goste e quem não goste. Não se tem aquela visibilidade lá do alto, mas ganha-se em maior comunicação com o carro.
Volante com muito bom tacto e primorosamente posicionado, com boas regulações; alavanca da caixa manual com a forma certa (esférica) e plantada exatamente onde a mão direita vai à procura dela.
Também os pedais estão muito bem colocados, mostrando a preocupação da Mazda com a ligação homem-máquina.
Sem modos…
Tanto o painel de instrumentos como o “head up display” têm leitura fácil, mas o ecrã central, que não é tátil, é pequeno e pobre de conteúdos. Tem a seu favor o comando rotativo na consola, que é a maneira mais segura de interagir com qualquer infotainment.
Não vale a pena procurar o botão dos modos de condução, porque o CX-30 não os tem. Nem precisa, a calibração do acelerador, travões, embraiagem e assistência da direção está no ponto.
O quatro cilindros 2.0 entra em ação com um som muito baixo e sem quaisquer vibrações. A resposta a muito baixos regimes é relativamente lenta. Num mundo em que toda a gente se habituou a ter um turbo para lhe dar binário “grátis” antes das 2000 rpm, o Mazda começa por desiludir.
“Puxar” pelas rotações
Para se chegar aos 213 Nm máximos, é preciso puxar pelas rotações até às 4000 rpm. Por comparação, o motor 1.3 turbo de 140 cv do novo Qashqai tem 240 Nm logo às 1650 rpm, e nem é dos melhores.
Para manter um nível de resposta razoável, é preciso usar este motor 2.0 atmosférico “à antiga”, ou seja, mantendo o regime sempre um pouco mais alto. O contributo do sistema “mild hybrid” só se nota no “stop/start”, não parece dar grande ajuda nas recuperações.
Há um gráfico de fluxos de energia que mostra o sistema a funcionar, mas ao volante, a parte elétrica não traz nenhuma ajuda significativa. Contudo, o consumo que obtive em cidade foi de 7,4 l/100 km, o que não se pode considerar mau.
Uma “bela” caixa
Isso obriga a usar muito a caixa, o que está longe de ser um “castigo”. Na verdade, a caixa de velocidades manual de seis é um dos pontos fortes do CX-30. Tem um tato mecânico, é precisa e rápida, dando grande satisfação a quem gosta deste tipo de transmissões. Quando a Mazda a compara à caixa do MX-5, não está (só) a fazer marketing.
A suspensão, com eixo de torção atrás, na versão de tração à frente, é um pouco firme, como acontece hoje na maioria dos SUV e Crossover, para conter os movimentos laterais em curva. Nos maus pisos é onde isso mais se nota.
Dinâmica competente
Em autoestrada, destaca-se a tranquilidade com que tudo se passa, pois os ruídos aerodinâmicos e de rolamento são baixos e o próprio motor nunca entra em “gritarias”, mesmo quando se fazem subir as rotações.
Em estrada mais sinuosa, começa por agradar a boa precisão e consistência da direção. Sem nunca ser nervosa, tem a rapidez suficiente.
A altura contida da carroçaria permite-lhe controlar bem a inclinação em curva, com a suspensão a mostrar bom controlo nas transferências de massas mais violentas.
Há precisão na maneira como o CX-30 trata uma estrada com muitas curvas e até acede a provocações, se o condutor decidir colocar a traseira a deslizar ligeiramente.
Motor até sobe bem…
O motor sobe de regime com facilidade, dando sempre um pouco mais, à medida que o conta-rotações sobe. Mas sem nunca entusiasmar. A Mazda anuncia os 0-100 km/h em 9,1 segundos.
Claro que a aderência dos pneus 215/55 R18 acaba por definir os limites, mas o CX-30 agrada mais pela maneira como se deixa interagir com o condutor, do que pelos máximos de que é capaz, seja em performance, seja na dinâmica.
Com o preço base, para esta motorização, a começar nos 32 190 euros, o CX-30 está alinhado com a concorrência, depois tudo se decide na contabilidade do equipamento, que na Mazda é sempre favorável.
Conclusão
Os pontos fortes do CX-30 são o estilo, a qualidade do habitáculo e a suavidade de utilização. Pelo lado oposto, o motor atmosférico obriga a uma utilização que hoje já não se usa, com uso intensivo da caixa de velocidades para tirar o melhor daquilo que o 2.0 tem para dar. Se isso não o incomoda, vale a pena experimentar.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Mazda CX-30 2.0 e-SkyactivG 150 2WD
Potência: 150 cv
Preço: 32 188 euros
Veredicto: 3 (0 a 5)
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