Jeep Compass 1.5 e-hybrid (fotos de João Apolinário)

Compass é rival do Qashqai

O desenho do Compass tem resistido bem ao passar dos anos

Versão Upland com adesivo no capót

Detalhe dos faróis LED do Compass

Os pneus são GoodYear Eagle F1 de medida 235/45 R19

Desenho convencional do interior do Compass

Painel de instrumentos digital

Ecrã tátil é fácil de usar

Botões físicos em rodapé do ecrã

Comandos da climatização em separado

Caixa de dupla embraiagem tem setor +/- para comando manual

Bom espaço em comprimento e altura, atrás

Bons bancos, só lhes falta mais apoio lateral

Detalhes da versão Upland

Qualidade de materiais é suficiente para o segmento

A caixa tem uma verdadeira alavanca

Botões do volante podem usar-se com luvas calçadas

Botão e-auto off mantém o motor a gasolina a trabalhar

Os 130 cv sabem a pouco quando se quer mais agilidade

O arranque é feito em modo elétrico

Dinâmica marcada pelo conforto de rolamento

É mais do que um “mild hybrid”, mas não chega a ser um “full hybrid”. O sistema e-hybrid da Jeep é um passo intermédio que anuncia algumas vantagens. Fui à procura delas, em mais um teste Targa 67, para perceber se a originalidade vale a pena.

 

Os Jeep 4xe são híbridos “plug-in” com tração integral, que têm feito uma carreira rápida e de sucesso, incluindo nos EUA. Claro que se posicionam no topo das várias gamas de modelos da marca, por isso era preciso outra opção mais acessível.

Sobretudo porque a Jeep já só tem na sua gama modelos eletrificados, um dos primeiros mercados em que isso aconteceu foi precisamente o português.

Compass é rival do Qashqai

Nascem assim os Jeep e-Hybrid, disponíveis nos modelos Renegade e Compass. São versões de tração apenas às rodas da frente e com um sistema “mild hybrid”. Mas é um “mild hybrid” diferente dos outros.

Neste caso, o “mild-hybrid” ou semi-híbrido surge numa segunda evolução que lhe permite funcionalidades até aqui inexistentes neste tipo de sistemas eletrificados.

Como funciona o e-hybrid

O grupo motriz inclui um motor 1.5 turbo de quatro cilindros a gasolina, com injeção direta de alta pressão (350 bar) e duplo variador de fase. Este motor funciona segundo o ciclo Miller, o que admite uma taxa de compressão alta de 12,5:1 para aumentar a eficiência. A potência máxima é de 130 cv e o binário atinge os 240 Nm.

Desenho convencional do interior do Compass

A parte elétrica é composta pelo habitual motor/gerador acionado por correia e acoplado ao motor a gasolina, fazendo também as funções de motor de arranque e carrega uma pequena bateria de iões de Lítio com 0,8 kWh de capacidade.

A novidade é a existência de um segundo motor elétrico de 48V com 20 cv (15 kW) e um máximo de 55 Nm (135 Nm às rodas) alojado dentro da caixa de dupla embraiagem e sete relações.

Regeneração assistida

Com esta configuração, o sistema faz a habitual recuperação de energia nas desacelerações e travagens. Mas também faz a chamada regeneração assistida, ou seja, usa o excesso de força do motor a gasolina, durante as acelerações, para acionar o gerador e enviar energia para a bateria.

A caixa tem uma verdadeira alavanca

Deste modo, garante-se que a bateria tem sempre carga suficiente para nunca haver diminuição das prestações máximas. E também permite usar uma bateria relativamente pequena e pouco pesada.

Mais funções

A presença das duas máquinas elétricas disponibiliza cinco funções em modo de condução 100% elétrico. A Jeep dá-lhe nomes como “e-queing” ou “e-creeping” mas tudo se resume a algo muito simples: sempre que as solicitações do condutor e do trânsito não são muito exigentes, o sistema é capaz de mover o Jeep só com o motor elétrico.

Versão Upland com adesivo no capót

Situações como o para-arranca, o arranque a frio, o estacionamento ou quando se larga o pedal de travão e o carro começa lentamente a avançar, são desempenhadas apenas com o motor elétrico.

Claro que o motor elétrico também fornece um acréscimo de binário em recuperações e mesmo em acelerações fortes, o chamado “e-boosting”. Tudo isto se pode ver num gráfico do painel de instrumentos, que mostra o contributo do motor a gasolina e do motor elétrico, a cada momento.

O “Qashqai” da Jeep

Testei este sistema “mild-hybrid” no Jeep Compass e-hybrid, na versão de equipamento Upland, para descobrir quais as vantagens face a um “mild hybrid” convencional.

Os pneus são GoodYear Eagle F1 de medida 235/45 R19

Na Stellantis, o Compass é um SUV do segmento “C”, o mesmo do Nissan Qashqai, para dar um exemplo. Usa uma plataforma de origem FCA, tal como o motor mas num estilo que só podia ser Jeep.

Dinâmica marcada pelo conforto de rolamento

Apesar de ter sido lançado em 2016 e de ter recebido um restyling em 2021, o Compass continua a ter um aspeto muito atual e muito Jeep: grelha de sete entradas com sublinhado cor de cobre, suspensão alta (200 mm de altura ao solo), pintura em duas cores e jantes pretas resultam muito bem numa carroçaria com 4,4 metros de comprimento.

Atualizações

Por dentro, a últimas atualizações trouxeram um ecrã tátil mais reativo e fácil de usar que deixa de fora os comandos da climatização, mais abaixo. A caixa tem uma alavanca convencional e há alguns porta-objetos.

Ecrã tátil é fácil de usar

O painel de instrumentos é digital mas o computador de bordo nele inserido é pouco intuitivo. Os botões no volante são grandes, podendo ser usados com luvas calçadas.

Ao volante

A posição de condução é mais alta que a média do segmento, talvez para dar ao condutor do Jeep uma sensação de SUV genuíno. Os bancos da frente são confortáveis, mas falta-lhes mais apoio lateral.

Bons bancos, só lhes falta mais apoio lateral

O volante tem regulações suficientes, mas o aro é muito grosso e tem diâmetro exagerado. Na verdade, não é fácil atingir uma posição perfeita ao volante, porque o posicionamento relativo de banco, volante, pedais não é o melhor.

Muito espaço

Para chegar aos lugares de trás é preciso fazer subir o corpo, mas há muito espaço em comprimento e altura. O túnel central é muito baixo, o que facilita o uso do lugar do meio, não fosse estreito, alto e duro.

Bom espaço em comprimento e altura, atrás

A qualidade dos materiais é suficiente. Apenas no topo do tablier e das portas da frente se encontram materiais macios, todos os outros são duros, alguns com aspeto demasiado simples.

Painel de instrumentos digital

A mala tem 438 litros de capacidade e um fundo móvel, sob o qual há imenso espaço. A versão Upland tem portão elétrico, que se fecha através de um botão colocado na parede interior esquerda da mala: é preciso “fugir” depressa depois de o pressionar.

Arranque elétrico

O arranque é feito apenas com o motor elétrico, a não ser que a rampa da garagem seja íngreme, o que obriga o 1.5 turbo a entrar em ação.

O arranque é feito em modo elétrico

Com o motor a frio, notei algumas hesitações e soluços, provocados pela transição entre o motor a gasolina e o elétrico e também pela caixa de dupla embraiagem. A quente, isso praticamente desaparece.

Detalhes da versão Upland

O modo 100% elétrico entra facilmente em cena em muitas situações de trânsito, o que é único entre os “mild hybrid”. Usando o acelerador com muita suavidade, é possível chegar aos 30 km/h sem ligar o motor a gasolina. Claro que, durante muito pouco tempo de cada vez.

Confortável

Em cidade, a direção mostrou-se muito assistida e com muito pouco tato, o raio de viragem também não é pequeno, o que não facilita as manobras. Mas a visibilidade para diante é boa.

Detalhe dos faróis LED do Compass

A “joint-venture” entre a suspensão independente às quatro rodas e os pneus 235/45 R19 consegue um conforto muito bom, mesmo em maus pisos.

Numa condução citadina, a disponibilidade do motor a baixos regimes é aceitável, mas não impressiona.Talvez porque o peso ascende aos 1575 kg.

Caixa de dupla embraiagem tem setor +/- para comando manual

O pedal de travão está bem calibrado, mas a intensidade da regeneração é baixa. Não é preciso mais, porque a bateria é pequena e anda facilmente acima dos 50% de carga.

Consumos baixos

No meu habitual teste de consumos de cidade, sempre com o A/C desligado, obtive um valor de 6,3 l/100 km. É um consumo muito bom, para um SUV deste tamanho e mostra como este novo sistema “mild hybrid” é eficiente.

Botões do volante podem usar-se com luvas calçadas

Em autoestrada, o conforto de marcha mantém-se, os ruídos de rolamento e aerodinâmicos não são exagerados e o controlo da carroçaria em lombas é suficiente. Existe alguma oscilação que denuncia um Centro de Gravidade que não pode ser muito baixo.

Comandos da climatização em separado

Mas o motor continua a não agradar, mostrando falta de força e falta de vontade em subir de regime. Como é lógico, em autoestrada o sistema híbrido tem menos intervenção, mas os consumos não subiram muito.

Rolando a 120 km/h estabilizados, o computador de bordo marcou 6,9 l/100 km, o que continua a ser um bom valor, sobretudo porque a aerodinâmica de um SUV de 1819 mm de largura e 1629 mm de altura, não pode ser brilhante.

Dinâmica pouco envolvente

Tendo apenas tração à frente e pneus GoodYear Eagle F1, não estavam reunidas as condições para um teste em estradas de terra. Mas levei o Compass e-Hybrid para uma estrada secundária de asfalto, para lhe perceber a dinâmica.

Botão e-auto off mantém o motor a gasolina a trabalhar

Existe um botão no tablier que diz “e-auto off” e que mantém o motor a gasolina sempre a funcionar. Evitam-se os tais “soluços” de que falei mais atrás e o motor parece ligeiramente mais decidido.

Mas os 0-100 km/h tardam 10,0 segundos, acompanhados por uma subida de ruído do 1.5 turbo que não é das mais melodiosas. A velocidade máxima é de 193 km/h.

130 cv sabem a pouco

Numa condução mais rápida, os 130 cv sabem a pouco, não há outra maneira de o dizer. Até porque os pneus têm imensa aderência, o que faz sempre a potência parecer ainda menor quando se acelera a fundo.

Os 130 cv sabem a pouco quando se quer mais agilidade

A suspensão tem um acerto muito macio, por isso a tendência subviradora aparece cedo, quando se arrisca uma entrada em curva um pouco mais rápida. E não há nada a fazer a não ser desacelerar, pois a traseira está “colada” ao chão.

Este Compass não foi feito para este tipo de condução. É uma opção que respeito, sobretudo porque é confortável. Mas não lhe ficava mal um pouco mais de tato na direção.

Conclusão

O sistema “mild hybrid” e-Hybrid provou uma boa eficiência traduzida em consumos baixos. Mas a sua disponibilidade é fraca, a qualquer regime. A dinâmica não entusiasma, em condução mais rápida, mas a suspensão é confortável. Tudo somado, este teste mostrou que o Compass e-hybrid proporciona uma condução “à Jeep”: relaxada e sem demasiada pressa.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

Jeep Compass 1.5 e-Hybrid Upland

Potência: 130 cv

Preço: 42 686 euros

Veredicto: 3 (0 a 5)

 

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