Muito divertido de guiar depressa

Conforto no limite do aceitável, no mau piso

Ford Puma ST (fotos de João Apolinário)

Traseira muito fácil de colocar em deriva

Condução muito divertida, nem parece um SUV

Molas e barras mais duras que no Fiesta

Jantes de 19" são de série

LED e a sua assinatura luminosa

Escape faz umas detonações entusiasmantes

Ford Performance fez mais um ST

A primeira vez que um ST aparece num SUV

Muito boa posição de condução

Excelente tato da caixa, mas alavanca curta

Ecrã multimédia bem destacado

Leitura fácil do painel de instrumentos

Bancos Recaro têm muito apoio lateral

Espaço razoável na segunda fila

Mala de boa capacidade tem 456 litros

Sob o piso da mala está a caixa mágica

Motor 1.5 turbo de 3 cilindros e 200 cv

Não é fácil fazer de um SUV um verdadeiro desportivo, pelo menos nos segmentos mais acessíveis. O Puma ST mostra como a Ford deu resposta à questão com um carro fabuloso de guiar. Ser SUV, é pura coincidência.

 

Era um dos carros que aguardava com mais curiosidade, nos últimos tempos. Conhecendo bem o trabalho dos engenheiros da dinâmica na Ford, esperava que o Puma ST pudesse ser um carro realmente especial. E não me enganei.

Fazer uma versão desportiva de um SUV não é tarefa fácil e poucas marcas se arriscam. A não ser as que vendem produtos caros, como o Alfa Romeo Stelvio Quadrifoglio ou Porsche Cayenne; ou muito caros, como o Lamborghini Urus.

Partir de um B-SUV e chegar a um desportivo que dê real gozo de guiar depressa, é uma questão a que ninguém quer dar resposta. Não tanto pela técnica envolvida, mas pela dificuldade em fazer o trabalho sem deixar escalar o preço.

A fama dos Ford ST

Os ST da Ford são carros muito especiais. Não pela potência máxima, mas pelo comportamento dinâmico. Prova disso é o Fiesta ST, que continua a ser a referência do segmento, apesar de estar no mercado há mais de três anos.

Mas fazer um ST com base num SUV era coisa que a Ford ainda não tinha tentado. Escolheu o Puma e não podia ter escolhido melhor. Das versões menos potentes do B-SUV da Ford já escrevi aqui no Targa 67 elogios que cheguem. É o B-SUV mais divertido de guiar, ponto final.

Mas quando a Ford se atira para uma versão desportiva, com o mesmo motor 1.5 turbo de três cilindros e 200 cv do Fiesta ST, as coisas mudam de figura.

Firme, mas controlado

E isso sente-se desde os primeiros metros. Nos piores pisos, a suspensão está no limite do aceitável em termos de conforto, mas a culpa é mais das jantes de 19” e dos pneus 225/40 R19, que das molas ou dos amortecedores sensíveis à frequência.

Firme, sim. Mas sempre com uma soberba sensação de controlo sobre as quatro rodas. Nenhum asfalto, por mais estragado que esteja, consegue “atirar” o Puma ST pelo ar ou fazê-lo perder a consistência.

A andar devagar, no modo Eco, o acelerador tem sempre resposta mais que suficiente, entregue de forma civilizada. Há sempre binário, desde os regimes mais baixos, fácil de explorar pela caixa manual de seis, que tem um tato mecânico e excelente precisão.

No ponto certo

A calibração dos comandos é outros dos pontos fortes dos engenheiros da dinâmica da marca. A direção tem o peso certo, imenso tato e promove uma perfeita comunicação do condutor com a estrada. Pena o raio de viragem ser grande, o que dificulta nas manobras.

Como nos outros Puma, a posição de condução é um pouco mais alta que no Fiesta, mas deve ser a mais baixa de todos os B-SUV. Os bancos Recaro na frente têm um encaixe excelente, o apoio lateral até é excessivo, dificultando um pouco o acesso. O volante tem a inclinação certa e regulações muito amplas, mas a alavanca da caixa devia ser mais alta.

Os modos de condução escolhem-se no volante (há um segundo botão para ir direto ao Sport) e são quatro: Eco/Normal/Sport/Race. E depois ainda se pode colocar o ESP em modo Sport ou desligá-lo, num outro botão da consola.

Modo Race e ESP Off…

Escusado será dizer que, depois de experimentar o Normal e o Sport, que fazem bem o seu papel, o resto do teste foi todo em Race, com ESP desligado. A estrada estava seca, não havia razão para ficar por menos.

O motor e o escape ganham vida no modo mais desportivo, largando detonações nas desacelerações bruscas, o que não serve para nada, mas dá logo um certo ambiente.

Mesmo com mais 78 kg para puxar que no Fiesta ST, o motor de 200 cv tem bastante força nos regimes médios, mais que nos máximos, onde deixa de ser brilhante. Ao contrário de outros motores na gama, este não tem nenhum apoio semi-híbrido.

Launch Control

O que esta unidade que testei tem é o Pack Performance, incluindo um “launch control” que experimentei assim que encontrei uma reta longa e sem trânsito. Chamada a função no menu do painel de instrumentos, começa uma espécie de contagem decrescente.

Basta meter primeira, embraiagem a fundo, acelerador a fundo, o motor estabiliza às 4200 rpm e depois é só largar a embraiagem e continuar com o pé direito no fundo. O Puma ST coloca toda a potência no chão e obriga a mão direita a ser rápida com a caixa, para não falhar as passagens para segunda e terceira.

Talvez não seja uma experiência tão espetacular como numa transmissão de dupla embraiagem, mas funciona e permite ao Puma ST anunciar os 0-100 km/h em 6,7 segundos, só mais 0,2 segundos que o Fiesta ST.

Curvas nunca são demais

Mas o melhor estava para vir. Face ao Fiesta ST, o Puma ST tem molas mais altas, mas mais rígidas e barras estabilizadoras mais grossas, para controlar as massas colocadas num plano mais alto.

O Pack Performance – opcional por 1118€, mas obrigatório a meu ver – tem no autoblocante mecânico o seu item mais importante. Passar 290 Nm ao chão só pelas rodas da frente fica assim mais fácil.

O Puma ST aceita andar todo o dia tranquilamente pela cidade ou autoestrada, apesar de não ser o cúmulo da economia. No trânsito citadino, marcou 9,4 l/100 km, na autoestrada, a 120 km/h, desceu aos 7,0 l/100 km.

Mas basta acelerar a fundo um vez, passar de caixa e reacelerar para ficar com a “pica” de o levar para estradas com curvas dignas desse nome.

A travagem pareceu-me melhorada em relação ao Fiesta ST, mais potente e mais resistente. Quando se trava forte, a carroçaria mantém-se estável; e quando se dá o primeiro golpe de volante, a frente obedece sem fazer perguntas.

Aderência e tração

É a parte boa de ter pneus tão grandes e desportivos como os Michelin Pilot Sport 4S: aderência da frente não lhe falta, a subviragem só aparece como penalização de um erro de condução, tipicamente uma entrada em curva demasiado otimista.

Quando se volta ao acelerador, é a vez do autoblocante fazer o que deve e pôr toda a potência no chão sem a mínima perda de motricidade, nem mesmo nas curvas mais apertadas, com desníveis no interior e acelerando a fundo.

Na verdade, o autoblocante nem precisa de ser muitas vezes posto à prova, pois o binário disponível permite usar a terceira velocidade, onde à partida a segunda pareceria preferível.

Nem parece um SUV

Numa condução mais rápida e empenhada, o amortecimento ganha outra fluidez, desaparece a firmeza, dando lugar a um controlo brilhante das massas. As molas e as barras estabilizadoras não deixam inclinar o Puma ST em curva e a ideia de que estou a guiar um SUV, pura e simplesmente desaparece.

Muito eficiente, muito previsível e muito sereno, mesmo a andar muito depressa. Mas as habilidades do Puma ST não se ficam por aqui.

Acrobacias

Querendo fazer rodar o carro na entrada em curva, basta levar um pouco de velocidade em excesso, aliviar o acelerador e ver a traseira deslizar de maneira perfeitamente proporcional, progressiva e na altura certa.

Mesmo em curvas mais rápidas, ou muito rápidas, o Puma ST dá confiança para se fazer isto e deixar a traseira deslizar, para fazer pequenas correções de trajetória ou apenas pelo divertimento que isso dá. Nem é preciso grandes contramedidas, basta endireitar o volante ou dar um pouco de contrabrecagem.

Talvez para provar que é um SUV, nestas condições nota-se uma maior carga sobre a suspensão traseira, o único indício de que não estou ao volante de um Fiesta ST.

Conclusão

A eficiência junta-se assim ao divertimento num B-SUV que, simplesmente não tem concorrentes diretos. Se isso é uma coisa boa ou não, já é outra questão. Quem terá interesse em comprar um “GTI” em formato SUV? Por mais divertido de guiar que seja?

A Ford acha que tem a resposta: alguém que adora a condução do Fiesta ST, mas precisa de mais espaço para a família, tanto na segunda fila de bancos como na ampla bagageira. Espero que tenham razão, pois o Puma ST merece ser guiado por quem gosta realmente de pequenos desportivos.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

Ford Puma ST

Potência: 200 cv

Preço: 36 338 euros

Veredicto: 5 (0 a 5)

Ler também, seguindo o LINK:

Teste: Ford Puma, és mesmo tu? Estás tão diferente…