Ford Mustang Mach-E GT (fotos de João Apolinário)

Crossover coupé elétrico, o Mustange de 2022

Spoiler mais longo na versão desportiva

O nome alternativo do Mach-E

Grelha negra com efeito 3D

Luzes de trás a lembra o Mustang clássico

Jantes específicas desta versão

Potência máxima de 487 cv no GT

Detalhe do para-choques traseiro

Qualidade está em bom nível no Mach-E

Painel de instrumentos mínimo

Comando rotativo da transmissão

Ecrã tátil de grandes dimensões

Materias de muito bom aspeto

Mala com boa capacidade

Bom espaço atrás para dois adultos

Bancos desportivos feitos pela Ford Performance

Maior velocidade de passagem em curva que o AWD de 351 cv

Condução mais empenhada para tirar tudo dos 487 cv

Dinâmica mais eficiente no GT

Para os que não ficaram convencidos com as versões menos potentes do Mustang Mach-E, a Ford preparou o GT. O elétrico americano de 487 cv leva a experiência de guiar um crossover elétrico para outro plano de performance. Para descobrir se o exercício resultou em pleno, nada melhor do que testar o Mustang Mach-E GT em estrada e em pista.

 

Ter uma versão mais potente e mais desportiva no topo da gama, parece continuar a ser uma boa ideia, mesmo quando se fala de modelos elétricos. O efeito continua a ser o de sempre: criar o desejo nos compradores, mesmo que depois acabem por comprar uma das versões menos potentes.

Se isso acontecer, a versão desportiva já fez o seu papel. Mas é também um instrumento para melhorar a imagem de marca de qualquer modelo, apesar de o nome Mustang não precisar disso… Ou talvez precise, tratando-se da versão elétrica.

Potência máxima de 487 cv no GT

Acresce que, no mundo dos EV é bem mais fácil fazer uma versão desportiva que no mundo dos motores térmicos. Substituir um motor de quatro cilindros turbo por um V8, como acontece no Mustang Coupé, é bem mais complicado e dispendioso do que mudar um motor elétrico por outro mais potente.

Com o bónus de que os compradores estão dispostos a pagar pela diferença de ter um GT, aumentando a margem de lucro dos fabricantes nestas versões elétricas desportivas. É bom para todos!

Melhor que o V8 a gasolina

O Mustang Mach-E GT é isso mesmo, a versão de topo da gama do crossover elétrico da marca da oval azul. A potência sobe dos 351 cv, do AWD para os 487 cv, deste GT, que tem ainda 860 Nm.

Luzes de trás a lembra o Mustang clássico

Posiciona-se acima dos 460 cv e 529 Nm do Mustang Mach 1 Coupé, com o seu V8 5.0 a gasolina. Esta versão a gasolina faz os 0-100 km/h em 4,4 segundos, para o GT elétrico bastam 3,7 segundos. Claro que nada substitui o som do V8 a passar das 7000 rpm… Ou será que já não é bem assim?

Alterações visuais

Mas os números não são tudo, continua a ser fundamental dar a uma versão desportiva um visual diferenciado, que o faça destacar do resto da gama como a versão claramente superior. Os compradores adoram isso.

Detalhes como as molduras dos guarda-lamas pintadas na cor da carroçaria, em vez de preto. A falsa grelha dianteira é aqui pintada num tom escuro, em vez de ser na cor da carroçaria e tem um efeito 3D. Claro que os para-choques têm desenhos diferentes e mais vincados, tanto na frente como atrás, incluíndo diferentes entradas de ar.

E nem falta o clássico spoiler no extremo do tejadilho, com maiores dimensões e formato mais estilizado. As jantes de 20” também têm um desenho exclusivo no GT e as maxilas dos travões são pintadas de vermelho. O tejadilho é em preto, para fazer o Mach-E parecer mais baixo e os retrovisores também são em preto, para dar o retoque final.

Bancos desportivos feitos pela Ford Performance

O ambiente do habitáculo também foi retocado no GT. Os bancos desportivos, desenhados pela própria Ford Performance, têm maior apoio lateral e revestimentos mais apelativos, tal como acontece com o volante. O ecrã tátil central, disposto ao alto, tem 15,5” e alguns gráficos também são exclusivos do GT.

Mecânica melhorada

Depois entramos naquilo que realmente interessa. O GT usa dois motores elétricos, um por eixo, sem veio de transmissão central, como é óbvio.

Comando rotativo da transmissão

A Ford não divulga a potência dos motores em separado, mas sabe-se que o motor de trás é o mais potente dos dois (demora só 0.5 segundos a entregar o binário máximo) e que o da frente é mais potente que no AWD.

Segundo dados não oficiais que consegui obter, o motor da frente terá passado de 60 kW para 130 kW, perfazendo um total de 358 kW combinados, o equivalente aos 487 cv.

Painel de instrumentos mínimo

Mas esta potência máxima só está disponível por períodos de cinco segundos seguidos, depois são precisos 15 segundos de intervalo, até se poder voltar a ter disponível a potência máxima.

A maior bateria

A bateria é a mais potente da gama Mach-E, a Extended Range com 98,7 kW brutos a que correspondem 88 kWh úteis, que a Ford espera aumentar para os 91 kWh, em breve.

Bom espaço atrás para dois adultos

No GT, a autonomia anunciada é de 500 km, menos 40 km que no AWD de 351 cv. Pode ser carregada em carregadores até 150 kW, que ainda não são comuns. Nesse caso, a Ford anuncia uma carga de 10% a 80% em 45 minutos. Num mais vulgar carregador de 50 kW, deverá demorar cerca de 2h15.

A “magia” da Ford

Com mais potência, claro que outros componentes tiveram que ser melhorados, desde logo os travões, com o GT a receber um sistema Brembo, com discos ventilados de 385 mm nas quatro rodas.

Qualidade está em bom nível no Mach-E

A suspensão também foi modificada, sendo 10 mm mais baixa que a do AWD, passando a usar amortecedores com variação magnética MagneRide, molas mais curtas e firmes e uma barra estabilizadora de maior diâmetro atrás, para conseguir a habitual “magia” da Ford no que à dinâmica diz respeito.

Detalhe do para-choques traseiro

Claro que houve muito trabalho na “afinação” do software relativo aos motores e bateria. Nos modos de condução mais tranquilos, há menos binário disponível, que sobe até ao máximo nos modos mais desportivos. O GT tem os mesmo modos de condução do AWD, ou seja, o mais discreto Whisper, o intermédio Active e o desportivo Untamed.

O modo Untamed Plus

Mas acrescenta um quarto modo exclusivo, o Untamed Plus. Além de aumentar o som sintetizado, mesmo com o carro parado, este modo retarda a entrada do ESC, diminui a assistência da direção, muda o mapeamento do acelerador e sobe o amortecimento. E faz mais alguma coisa, como veremos mais à frente.

Ecrã tátil de grandes dimensões

Os pneus também são exclusivos do GT, feitos de propósito pela Pirelli com medida 245/45 R20 nas quatro rodas. A afinação da suspensão independente às quatro rodas é diferente para o mercado europeu, as unidades vendidas nos EUA são mais macias.

A mesma versatilidade

A versatilidade das outras versões não foi alterada no GT, que continua a ter muito espaço na segunda fila de bancos e 402 litros de capacidade na bagageira de trás, que tem acesso através de uma quinta porta. Existe ainda um “frunk”, sob o capót da frente, com mais 81 litros de volume, que serve para mais do que apenas guardar os cabos da bateria.

Mala com boa capacidade

Ao volante, a posição de condução é muito boa, pouco mais alta que a de uma berlina convencional, apesar de a bateria estar sob o piso do habitáculo. O volante está muito bem posicionado, tem as regulações certas e o novo banco desportivo é confortável e tem o apoio lateral que falta às versões menos potentes.

Críticas para o comando rotativo da transmissão, que obriga a desviar os olhos da estrada para escolher as posições P, R, N e D.

Materias de muito bom aspeto

O ecrã tátil de grande formato tem os vários ícones bem separados, sendo fácil de usar, apesar de a organização de alguns menus não ser a mais lógica. De resto, o pequeno painel de instrumentos acaba por ser útil, evitando ter que desviar os olhos para o ecrã central a toda a hora.

Amortecimento magnético

O amortecimento magnético tem dois níveis, que se vão alterando consoante o modo de condução escolhido. No modo Whisper, o Mach-E é razoavelmente confortável, sem ser propriamente um “tapete voador”.

A condução em cidade é muito fácil, as dimensões do Mach-E não atrapalham e a visibilidade é aceitável. Mas o pedal de travão não é muito progressivo na transição entre regeneração e travagem efetiva.

Em cidade, a andar tranquilamente, apenas o motor da frente é necessário, com a prioridade a ir para a suavidade da entrega de potência e para a insonorização, ambas bem tratadas.

O nome alternativo do Mach-E

A regeneração também pode ser regulada, desde logo através do botão “L” no centro do comando rotativo da transmissão e depois numa das páginas do infotainment.

Consumos não são baixos

No modo mais intenso, funciona como “e-pedal” e não exige muita habituação, aproveitando bem as desacelerações para enviar alguma eletricidade para a bateria.

Circulando em cidade, a média de consumos que obtive no meu habitual teste de consumos foi de 21,0 kWh/100 km, o que, fazendo as contas à capacidade útil da bateria de 88 kWh, resulta numa autonomia real em cidade de 420 km, um valor suficiente para usar o GT durante vários dias em cidade sem necessidade de carregar a bateria.

Crossover coupé elétrico, o Mustange de 2022

Em autoestrada, a 120 km/h estabilizados, o consumo foi de 23 kWh/100 km, o que equivale a 380 km de autonomia real. Passando ao modo Active, a suspensão continua a mostrar que, no compromisso entre conforto e controlo das massas, está mais perto do segundo.

Não é propriamente desconfortável, mas sente-se uma certa tensão quando se passa sobre lombas ou bossas. A insonorização está em bom nível.

Dinâmica diferente no GT

Mas as grande diferenças entre o GT e o AWD tinham que estar na dinâmica em condução rápida, usando estradas secundárias com bons encadeados de curvas e nenhum trânsito.

Claro que a primeira diferença se sente nas prestações, com o modo Untamed ligado, os 487 cv fazem sentir-se em arranques claramente mais rápidos e decididos, apesar das 2,3 toneladas de peso.

A questão da potência máxima estar disponível apenas durante cinco segundos de cada vez, acaba por se sentir, com o GT a evidenciar menos fulgor ao final desse tempo.

Maior velocidade de passagem em curva que o AWD de 351 cv

Mas, em estradas sinuosas, isso não é um verdadeiro problema, pois as retas “desaparecem” muito depressa e, de qualquer maneira, nem sempre se pode ir de acelerador 100% a fundo.

Quando chega a primeira zona de travagem forte, percebe-se a razão da evolução para os travões Brembo, que mostram um poder de desaceleração bem mais forte que no AWD. E depois vem o melhor.

Comportamento mais eficiente

Basta dar o primeiro golpe de volante, para entrar depressa em curva, e logo se sente que o GT obedece mais fielmente às ordens do condutor. Os pneus do GT resistem muito mais à subviragem e proporcionam maior rigor que no AWD.

A carroçaria inclina-se consideravelmente menos, deixando o peso melhor distribuído pelas quatro rodas. A atitude na primeira metade da curva é muito mais controlada, precisa e neutra que no AWD.

Levando o ESP desligado, quando chega a altura de acelerar forte para sair da curva, o GT não sobrevira com tanta facilidade e a velocidades tão baixas como o AWD. A sua atitude é um pouco mais neutra, na maioria das situações.

Ford Mustang Mach-E GT (fotos de João Apolinário)

Por isso é preciso subir a parada e levar mais velocidade para dentro da curva e acelerar mais cedo e mais forte, para de lá saír. Claro que as derivas de traseira aparecem, mas a velocidades mais altas, pois há mais aderência e maior controlo das transferências de massas.

Quando sobrevira…

E quando a traseira do GT começa a deslizar, começa de forma mais abrupta, exigindo maior vigilância do condutor, para tomar as contra-medidas necessárias a tempo e horas.

Seja como for, nota-se claramente a maior participação do motor dianteiro a fazer retornar o GT a uma atitude neutra e segura. Se no AWD, a inércia tem um papel importante, no GT a suspensão controla muito melhor esse efeito.

Condução mais empenhada para tirar tudo dos 487 cv

Talvez a maior surpresa tenha sido o desempenho do GT em pista, depois de o ter testado no circuito espanhol de Monteblanco. Foi a ocasião de usar o quarto modo de condução, o Untamed Plus, que só está disponível no GT e só se deixa selecionar depois de a bateria ter atingido a temperatura de funcionamento adequada.

Surpreende em pista

A estratégia deste modo de condução é a de permitir ter a potência máxima sempre disponível, sem os intervalos do modo Untamed, claro que à custa de um maior consumo de energia, mas permitindo explorar completamente o GT em pista.

Grelha negra com efeito 3D

O circuito de Monteblanco, na província de Huelva, tem um piso de alta aderência, uma grande reta e curvas de todos os tipos, desde as muito lentas, a chicanes e curvas rápidas, a subir e a descer.

O GT mostrou-se muito à vontade neste terreno, com espaço para chegar perto dos 200 km/h de velocidade máxima e depois pedir tudo aos travões, que se mostraram à altura, apesar de se sentir bem o peso.

Spoiler mais longo na versão desportiva

A precisão de entrada em curva manteve-se, mesmo a velocidades de abordagem bem mais altas que na estrada e os pneus resistiram bem, num contexto em que foram severamente “castigados” pela aderência da pista, pelo peso do GT e pelo elevado binário.

Mais progressivo a andar depressa

Em pista, a dinâmica também se mostrou mais fluída, com a sobreviragem a surgir de forma mais consistente e menos repentina. O facto de estar a ser imposta muito maior carga à suspensão, também ajudou, mostrando que o GT foi realmente afinado para conseguir ter um bom desempenho em pista.

Dinâmica mais eficiente no GT

As curvas médias e rápidas foram aquelas em que o GT brilhou mais, pelo controlo de massas e pela facilidade de lidar com uma distribuição de binário que dá prioridade às rodas de trás. A rotação do carro em curva é progressiva e consistente, sempre com o motor de trás a dar uma ajuda.

A verdade é que o peso acabou por não ser uma preocupação excessiva e isso diz muito do acerto da suspensão. Quanto ao modo Untamed Plus, realmente deixou o GT manter o mesmo ritmo numa série de cinco voltas feitas bem depressa, sem nenhuma degradação de performance.

Conclusão

Claro que tudo isto tem um preço, que a Ford traduz por 84 055 euros, ou seja mais 8500 euros que a versão AWD de 351 cv. Se vale a pena? Depois de o guiar em estrada e pista, a resposta é positiva, desde que o comprador tenha vontade e oportunidade de dar uso ao desempenho superior do Mach-E GT.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

Ford Mustang Mach-E GT

Potência: 487 cv

Preço: 84 055 euros

Veredicto 4 (0 a 5)

 

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