Jaguar F-Type P300 (fotos de João Apolinário)

Um símbolo com 99 anos de idade

Perfil com cabine bem recuada e capót longo

Jantes de 20" prejudicam a dinâmica

Puxadores encastrados e automáticos

Linha traseira pouco mudou nesta segunda geração

O felino vai dar o salto para a eletrificação

Assinatura luminosa do F-Type MKII

Asa traseira móvel e num ângulo generoso

Escape de saída central para motor de quatro cilindros

Boa qualidade e escolha de materiais

Um ambiente de luxo e qualidade que ainda agrada

Painel de instrumentos não é muito fácil de usar

Patilhas da caixa automática de oito

Alavanca da caixa é muito ergonómica

Botão de escolha de modos de condução

Botões da climatização em separado

Novo infotainment é fácil de usar

Bancos desportivos com excelente encaixe e suporte lateral

Mala tem uns bons 338 litros

Motor 2.0 turbo de quatro cilindros no P300

Em bom piso, o F-Type é um sobrevirador nato

O tipo de piso condiciona muito a dinâmica

Este foi o último carro novo a combustão que a Jaguar lançou. A partir de agora, todos os novos Jaguar vão ser elétricos. É o fim de um ciclo. Um teste para recordar no futuro como eram os Jaguar de “antigamente”.

 

As coisas não têm corrido bem para a Jaguar nos últimos anos. O XE e XF são bons carros, tal como o F-Pace e o E-Pace, mas isso não chegou para atrair clientes suficientes. É o próprio CEO da JLR que o diz: “as pessoas experimentam os nossos carros, gostam mas depois vão comprar um BMW.”

Thierry Bolloré, que chegou há poucos meses à JLR, vindo da Renault, critica assim o posicionamento dos modelos atuais, que considera feitos à imagem dos BMW e conclui o óbvio: “os clientes preferem comprar o produto original.”

O felino vai dar o salto para a eletrificação

Por isso, está a implantar o plano “Reimagine” que acaba com todos os modelos atuais, menos o I-Pace, que vai durar mais algum tempo.

No seu lugar vão surgir três famílias de modelos, todos elétricos, todos feitos com base numa plataforma partilhada com um construtor externo, que ainda não foi anunciado. Será a BMW, com quem a JLR já tem uma parceria para desenvolver motores elétricos?…

O plano Reimagine

O plano é fazer menos carros por ano, mais caros e mais desejáveis. Ou seja, seguir a estratégia que tem feito o enorme sucesso da Land Rover, que quadruplicou as suas vendas na última década. A ideia de equiparar a Jaguar à Aston Martin, foi abandonada.

Para isso acontecer, Bolloré acredita que o mais importante é a estética. Um departamento que ficou sob a direção de Gerry McGovern, que já dirigia o gabinete de estilo da Land Rover e que tem no seu curriculum modelos tão bem sucedidos como o Evoque ou o Velar.

“Um Jaguar não é uma cópia de nenhum outro carro”

O mote dos futuros modelos será “um Jaguar não é uma cópia de nenhum outro carro”, uma máxima que foi usada nos tempos do clássico Jaguar E-Type, um desportivo que espantou toda a gente, quando foi apresentado no Salão de Genebra, há 60 anos.

Desenho futurista, nada de “retro”

Mas não se espere por modelos “retro”, os novos Jaguar vão impressionar pelo seu estilo futurista, tal como o E-Type em 1961, integrando apenas alguns códigos que os identifiquem como verdadeiros Jaguar.

Nos próximos cinco anos, a Jaguar vai lançar seis novos modelos elétricos e Bolloré, afirma que vão deixar toda a gente de boca aberta. Ele já viu os desenhos, deve saber do que fala…

Um símbolo com 99 anos de idade

Esta mudança de estratégia ditou o fim, a curto prazo, de todos os modelos a combustão da Jaguar. Ainda vamos assistir a algumas atualizações e “restylings” dos modelos atuais, mas o último modelo novo a ser lançado foi mesmo a segunda geração do F-Type.

F-Type MKII é o fim do ciclo

É o fim de um ciclo. O fim dos Jaguar movidos a motores a gasolina e também o fim de um estilo que, no caso do F-Type, resultou muito bem na primeira geração desenhada por Ian Callum. Foi buscar apenas algumas ideias ao clássico E-Type, colocando-as numa execução moderna fabulosa.

Esta segunda geração, recebeu uma frente totalmente nova, com um desenho menos expressivo e perdeu muito do seu apelo. Mas, ainda assim, tem uma personalidade forte que o destaca do seu arqui-rival, o Porsche 911.

Jaguar F-Type P300 (fotos de João Apolinário)

Por dentro, este F-Type tem o nível de qualidade e, sobretudo, de acabamentos e jogos de cores que o fazem parecer ainda melhor do que é. O ponto fraco é o espaço disponível neste dois lugares, resultado de uma plataforma em alumínio com 15 anos, lançada em 2006, no XK.

Posto de comando

A posição de condução é muito boa, baixa, com o volante no ângulo certo e uma consola com os botões necessários e suficientes para operar a máquina.

O ecrã tátil é fácil de perceber e de usar. A alavanca da caixa automática é… uma alavanca. Ergonómica, que se usa com maior facilidade do que os “interruptores” que estão agora na moda.

Alavanca da caixa é muito ergonómica

Ao volante, a sensação que se tem é de que o capót “nunca mais acaba” e que o carro é muito largo. O condutor vai sentado quase em cima do eixo traseiro, bem ao estilo “sixties”.

Esta unidade que testei é o P300, ou seja, tem 300 cv extraídos de um motor de quatro cilindros em linha sobrealimentado. É a base de gama e isso nota-se.

Motor é o ponto fraco

A baixos regimes, em cidade, a aceleração é linear, mas um pouco amorfa. A caixa automática dá uma ajuda e carregando no botão para aumentar o som do escape a experiência ganha em sensações auditivas.

A suspensão da unidade que guiei não tinha amortecedores ajustáveis, mas tinha umas enormes jantes de 20” que fazem aumentar as massas não suspensas. Resultado?…

Motor 2.0 turbo de quatro cilindros no P300

Em piso imperfeito, o Jaguar salta mais do que devia, prejudicando o conforto. E mesmo quando o piso é bom, basta ter algumas ondulações de baixa frequência para que o peso das jantes interfira no controlo de massas. O F-Type, bamboleia mais do que devia.

Em cidade, a assistência da direção não é tão forte como hoje é hábito, mas isso não me incomoda nada. A caixa é suave e os travões têm bom tato.

O meu teste de consumos em cidade resultou no valor de 11,8 l/100 km.

A visibilidade não é excelente e estacionar obriga a fazer “contas de cabeça” para não riscar as jantes. O meu teste de consumos em cidade, sempre como A/C desligado, resultou no valor de 11,8 l/100 km.

Fora da “jaula” urbana

Tirando o felino das ruas e libertando-o nas estradas (uma analogia destas é “obrigatória” num teste de um Jaguar…) esperava que o motor de 300 cv subisse de regime com vigor e levasse o P300 para um bom nível de performance.

Mas o que posso dizer é que o motor cumpre apenas os mínimos. Apesar de anunciar 400 Nm desde as 1500 rpm, não mostra entusiasmo a nenhum regime e sofre com os 1628 kg do carro. Ainda assim, a Jaguar anuncia 5,7 segundos nos 0-100 km/h, o que me parece um pouco otimista.

Botão de escolha de modos de condução

Os três modos de condução disponíveis são Ice/Normal/Sport e não têm grande diferença entre si. Usando o modo Sport em estradas secundárias, ganha-se um acelerador um pouco mais reativo.

Sobrevirador nato

Em estradas imperfeitas, a suspensão controla mal as transferências de massas, tirando precisão ao F-Type numa condução rápida. É necessário fazer correções contínuas e voltar a meter a frente onde se quer. Nem parece um desportivo.

A experiência melhora um pouco quando a estrada tem piso perfeito e se desliga o ESC. Finalmente, vem ao de cima o trabalho de acerto dinâmico de Mike Cross, o “mago” da dinâmica de muitos Jaguar do passado recente.

O tipo de piso condiciona muito a dinâmica

Corajosamente, Cross acertou o F-Type como um sobrevirador nato. Isto quer dizer que, numa curva de raio constante, acelerando de forma progressiva, a tendência do F-Type é saír de traseira.

A deriva não é exagerada e nem precisa de muita correção, basta continuar a acelerar e aliviar um pouco a pega no volante.

Poucos deportivos têm esta atitude em estrada e são ainda menos os que fazem isto de forma tão benigna, tão fácil de controlar. Qualquer condutor com alguma experiência se vai sentir um piloto profissional a controlar o “drift”.

Tudo fácil

A frente mantém-se sempre na linha certa e a caixa de oito não sobe sozinha para a relação acima quando se atinge o “red-line”, é mesmo preciso dar mais uma patilhada. Por vezes a resposta não é tão rápida como gostaria, mas não é um problema.

Em bom piso, o F-Type é um sobrevirador nato

Também a direção se mostra menos rápida do que poderia esperar de um desportivo, mas isso faz parte do pacote, para não tornar o F-Type demasiado nervoso e difícil de guiar depressa.

Mistura de emoções

No final da sessão de condução na montanha, a conclusão foi uma mistura de duas coisas. Por um lado o excelente acerto dinâmico em bom piso, divertido e fácil de controlar. Por outro lado, a deceção do motor P300, que não tem a força necessária para dar ao F-Type um nível de performance  a condizer.

Novo infotainment é fácil de usar

Na autoestrada, de volta à base, o P300 mostrou a sua faceta de “grande turismo”, capaz de despachar quilómetros com conforto, poucos ruídos e um consumo de 9,1 l/100 km, rolando a 120 km/h.

Para último teste, do último Jaguar a combustão, ficou um certo sabor a desilusão. O novo F-Type tem origens demasiado antiquadas e o motor P300 apenas cumpre os mínimos.

A estética desta segunda geração também não vai deixar saudades, talvez por isso o seu autor, Julian Thomson, já tenha saído da marca.

Conclusão

O que nos reserva o futuro dos Jaguar desportivos? Terá o F-Type um sucessor elétrico? Um coupé e um descapotável de dois lugares? Bolloré é muito cético em relação ao assunto, tendo afirmado que não vê como a Porsche poderá fazer um 911 elétrico. Mas foi a Porsche que já mostrou como se pode fazer um desportivo elétrico extraordinário, com o Taycan. Talvez esteja aí a resposta à pergunta.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

Jaguar F-Type P300

Potência: 300 cv

Preço: 81 730 euros

Veredicto: 2,5 (0 a 5)

Ler também, seguindo o LINK:

Teste – Jaguar I-Pace: o último sobrevivente da revolução elétrica