O Duster é um fenómeno de vendas, mas será que um pequeno motor 1.0 de três cilindros é suficiente para “puxar” por este SUV? Por 13 500 euros estava preparado para lhe desculpar muita coisa…

 

Já vai na segunda geração e continua a ser o SUV mais comprado pelos clientes particulares na Europa, aqueles que pagam do seu bolso, não os que recebem um “carro de serviço” selecionado de uma lista feita pelo gestor de frotas.

É claro que os preços baixos da Dacia são o o primeiro chamariz da marca, mas se os produtos não cumprissem o que deles se espera, não seriam os preferidos de quem paga. O Duster é também o segundo modelo (de todos os segmentos) mais vendido a particulares na Europa. O primeiro é… o Dacia Sandero!

Mas será que um pequeno motor 1.0 de três cilindros e 100 cv é suficiente para “puxar” por um SUV do tamanho de um Qashqai? Foi com esta pergunta na cabeça que parti para este teste. E que teste…

Família toda a bordo, mais a respetiva bagagem e rumo traçado a uns dias de descanço. Como se portaria o Duster 1.0 TCe 4×2 nesta prova da vida real?

Visual apelativo

O espaço interior não é fabuloso, sobretudo em largura e para as pernas dos passageiros do banco de trás. Herança de uma plataforma Renault com uns quantos anos de atividade. Mas a mala de 445 litros é ampla e não foi preciso sequer tirar a chapeleira.

O Duster sempre teve um visual de SUV musculado, insinuando que é capaz de mais do que se poderia pensar, olhando para a ficha técnica. Claro que esta versão só tem tração às rodas da frente e caixa manual de cinco relações.

Mas o aspeto da segunda geração é ainda melhor que o da primeira, com um grelha mais imponente e farolins traseiros maiores. Os alargamentos dos guarda-lamas, com as rodas colocadas à superfície da carroçaria dão-lhe uma pose bem assente no chão. E a boa altura ao solo de 210 mm parece ainda maior.

Claro que os pneus 215/60 R17 lhe ficam muito bem e estão bem adaptados a uma utilização de carro familiar, em estrada. O aspeto geral é daqueles em que não apetece mudar nada.

Por dentro melhorou muito

Para quem esteja à espera de um habitáculo austero, para usar uma palavra simpática, vai ter uma surpresa quando abrir a porta do condutor. Claro que os materiais usados são duros mas a montagem parece ser boa, a julgar pela ausência de ruídos parasitas.

Mas é o desenho e alguns detalhes que fizeram este Duster subir na qualidade apercebida, em relação ao primeiro. Painel de instrumentos fácil de ler, monitor central tátil com teclas piano por baixo para funções básicas e grandes comandos da climatização com acabamento em tom metálico. E nesta versão Prestige, a mais cara, nem faltam os bancos em pele.

A posição de condução é mais alta que a de uma berlina convencional, mas não muito. Aliás, esse sempre foi um dos méritos do Duster: boa altura ao solo, mas nenhum exagero na altura total. Volante com excelente toque e bem posicionado, o mesmo para a alavanca da caixa.

Motor muito suave

Motor em marcha e isolamento acústico muito bem feito, o que se confirma assim que se engrena primeira na caixa – que não é muito rápida, mas é suave – e se começa a andar. Pouco ruído de rolamento e da aerodinâmica. Mas alguma sensibilidade aos ventos laterais.

A direção é muito leve, não era precisa tanta assistência, sobretudo em autoestrada, onde se torna um pouco sensível e obriga a pega apertada do volante.

A sensação de conforto é muito boa, o Duster passa por cima da maioria das estradas em mau estado com notável indiferença, apesar de ter suspensão traseira de eixo de torção. Mas o curso longo e os pneus de alto perfil fazem muito bem o seu papel.

Sobretudo porque, quando se aumenta o ritmo e se “atira” o Duster para dentro de curvas mais fechadas, o controlo da carroçaria se mostra muito bom, mais ainda considerando que é um SUV. O Duster curva de forma muito composta, sem exagero de inclinação lateral e com uma sensação de estabilidade e progressividade.

Mas então e o motor de 100 cv?

O motor 1.0 TCe é dos mais recente da Renault, substituiu o anterior 0,9 litros e tem maiores ambições, como esta de mover um SUV médio. Claro que tem a tarefa facilitada pelo baixo peso deste Duster, que se fica pelos 1266 kg. E também pelo escalonamento acertado da caixa, que não está obcecada em fazer do Duster o campeão mundial de consumos.

Na verdade, a caixa explora muito bem o motor, que tem uma disponibilidade muito aceitável logo desde o arranque. Sendo turbocomprimido, não admira que se sinta um acréscimo de vontade por volta das 2500 rpm, altura em que a curva de binário se aproxima dos 160 Nm máximos.

Mas a sensação ao volante é que nunca “falta motor” para encarar uma subida mais íngreme, sem preocupações ou fazer uma ultrapassagem mais apertada, sem dúvidas. Claro que não é um “sprinter”, a aceleração 0-100 km/h anunciada é de 12,5 km/h e a velocidade máxima de 173 km.

Mas mesmo quando se leva o motor acima das 5000 rpm, para usar os 100 cv todos, nunca se sente qualquer tipo de vibração ou ruído associado aos tricilindricos do passado.

E os consumos

Não faltaram oportunidades para medir os consumos, neste teste. Em cidade, o computador de bordo andou em torno dos 8,5 l/100 km e em autoestrada depende muito da velocidade. Ficando pelos 90 km/h, o consumo registado foi de 6,7 l/100 km, acelerando para os 120 km/h, subiu para os 7,3 l/100 km.

Conclusão

Um boa mistura de peso contido, relações de caixa bem escolhidas e bom desempenho do motor a regimes intermédios, fazem deste Duster 1.0 TCe uma escolha acertada. Os preços começam nos 13 500 euros da versão base e chegam aos 16 580 euros da versão Prestige e não vejo por que razão uma família, mesmo em deslocações maios longas, precise de mais do que os 100 cv do 1.0 TCe.

Francisco Mota

Potência: 100 cv

Preço: 16 580 euros

Veredicto: 3,5 (0 a 5)

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