O primeiro Cupra que não deriva de um Seat tem na versão 2.0 TSI de 310 cv um desportivo que dá prioridade ao estilo e à condução. Será a estratégia certa para um SUV como o Formentor?
O cabo Formentor, na ilha de Maiorca, deu o nome ao primeiro modelo da marca Cupra que não deriva diretamente da gama Seat. Trata-se de um SUV, como não podia deixar de ser, mas com um perfil baixo e esguio, silhueta coupé, capót longo e grelha vertical.
A distância entre-eixos não varia, face ao Ateca, pois ambos usam a plataforma MQB Evo. Mas o Formentor é 64 mm mais comprido e 88 mm mais baixo, tendo a mesma largura.
A utilização da cor bronze para o símbolo da marca, detalhes da carroçaria a maxilas Brembo dos travões dão-lhe um aspeto único. As jantes grandes, com pneus 245/40 R19 fazem o resto.
Por dentro, a posição de condução é mais baixa que no Ateca, com os excelentes bancos desportivos integrais a envolver bem o corpo.
Um toque de luxo
O volante tem um toque de qualidade e inclui dois botões redondos para os modos de condução e para ligar o motor. As patilhas da caixa de dupla embraiagem também são maiores que no Ateca.
O monitor central de 12” está no topo da consola mas a sua utilização não é isenta de críticas. Para chegar a algumas funções é preciso percorrer várias páginas e os botões táteis da climatização estão integrados no topo do ecrã, são pequenos e difíceis de usar.
Em frente do condutor está um painel de instrumentos digital e configurável em seis vistas, dependendo do modo de condução. Tem leitura fácil e é comandado através dos botões mais pequenos do volante.
Também no interior, a cor bronze encontra-se em detalhes como as costuras dos bancos em pele. A impressão geral de qualidade é muito boa.
Motor 2.0 TSI de 310 cv
Esta versão usa a última atualização do motor 2.0 TSI do grupo VW, aqui com 310 cv entre as 5500 e as 6500 rpm. A aceleração 0-100 km/h anunciada é de 4,9 segundos e a velocidade máxima de 250 km/h.
Apesar do tejadilho baixo, espaço é coisa que não falta, não só em altura como em comprimento para as pernas nos lugares de trás. A largura é menos generosa e não facilita o transporte de três adultos no banco de trás, tanto mais que o túnel central é volumoso. A mala tem 420 litros, o que é razoável.
Os modos de condução são: Comfort/Sport/Cupra/Off Road/Individual e fazem variar a assistência da direção (com cremalheira de passo variável), a sensibilidade do acelerador, gestão da caixa DSG e o amortecimento.
Suspensão confortável
Começando no modo Comfort, a suspensão independente às quatro rodas e o amortecimento na posição menos intensa proporcionam conforto.
E o mesmo se pode dizer da direção e caixa de velocidades: este Cupra tem um tato de condução refinado, mesmo com jantes de 19” e sobre bandas sonoras mais agressivas ou remendos de asfalto mal feitos.
O consumo medido em cidade foi de 11,6 l/100 km, um valor que se aceita tendo em conta o motor 2.0 turbo, sem nenhum tipo de auxílio híbrido.
Passando ao que interessa…
Para dar uso aos modos Sport e Cupra é melhor procurar estradas secundárias vazias. Aí, o Formentor continua a agradar pelo controlo da carroçaria e pelo conforto: mesmo com o amortecimento ajustável DCC no máximo, os pisos imperfeitos não o incomodam.
A fundo, o motor tem resposta rápida a baixo regime e força até ao “red-line”, mas uma banda sonora “falsa” que sai pelos altifalantes. A caixa faz passagens a propósito, em modo “S” e rápidas, usando as patilhas. Os travões Brembo dianteiros têm um tato civilizado e poder suficiente.
A direção tem um bom compromisso entre rapidez e conforto, sem nenhum nervosismo. A suspensão dianteira consegue meter o carro na trajetória certa sem hesitações, nem grande rolamento lateral. A agilidade da frente está mais próxima de um Leon que de um Ateca.
Só cede nos abusos
Boa resistência à subviragem, só com abusos para lá do razoável o ESP entra em ação, e com progressividade. Mas pode desligar-se. Depois, a carroçaria continua bem controla, com pouca inclinação lateral até ao final da curva.
Quando chega a altura de acelerar a fundo para sair da curva, a tração às quatro rodas faz o seu serviço sem interferência na direção. Põe o binário no asfalto e leva o Formentor para a próxima reta sem sair da atitude neutra.
A transmissão nunca envia potência suficiente para fazer rodar a traseira, pelo menos em asfalto seco e limpo. O condutor tem que ser mais ativo.
Com um levantar de pé brusco, já a entrar na curva, a traseira deixa-se deslizar uns centímetros. Mas a transmissão tipo Haldex não leva a deriva mais longe.
Melhor, guiado a 80%
O Formentor agrada pela potência do motor, pela eficiência a curvar, pelo desempenho da caixa e travões. Não pela atitude ousada. Mas consegue fazer esquecer que estou ao volante de um SUV, numa boa estrada.
Agrada mais quando guiado a 80% do que levado ao limite, altura em que a atitude SUV vem ao de cima. Quanto ao modo “off-road”, tendo em conta os pneus de estrada montados, não o confrontei com caminhos de terra ou pedra solta. Mas esse modo terá certamente utilidade em estradas nevadas.
Voltando à base pela auto-estrada, o tato sofisticado da suspensão, o ambiente refinado do habitáculo e o conforto mostram que este Cupra Formentor está perfeitamente à vontade em viagens mais longas.
Sobretudo escolhendo o modo Comfort, que nunca deixa a carroçaria demasiado “solta” quando aparecem depressões no piso. E o consumo desce para uns simpáticos 7,9 l/100 km.
Conclusão
A Cupra soube encontrar a sua identidade dinâmica e estética, apesar de partilhar o “hardware” com muitos outros modelos do grupo Volkswagen. Mas isso também lhe trouxe a vantagem de um preço final competitivo.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Cupra Formentor VZ 2.0 TSI DSG 4Drive
Potência: 310 cv
Preço: 48 930 euros
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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