Muito provavelmente é o Mercedes-Benz mais elegante de todos, o CLA Shooting Brake entra na segunda geração com mais versatilidade e mostrando que o Diesel ainda está para durar.

 

A história das “Shooting Brake” começa no Reino Unido dos anos cinquenta, quando os nobres decidem que precisam de um veículo tão elegante quanto funcional para utilizar nas suas caçadas.

Os melhores carroçadores da altura arregaçaram as mangas e dedicaram-se ao novo negócio: transformar berlinas de luxo – tipicamente Rolls Royce e Bentley – naquilo a que hoje chamamos carrinhas.

Na década seguinte, a clientela começou a pedir algo ainda mais especial e os carroçadores passaram a fazer as suas transformações com base em coupés desportivos e luxuosos.

Nasceram assim as Shooting Brake com base em modelos tão raros e dispendiosos como o Aston Martin DB4 ou o Jaguar XJS, para citar apenas dois exemplos. Os preços destas transformações colocavam as Shooting Brake ao alcance de muito poucos. Mas depois veio a crise dos anos setenta e o fim destes carros.

Mercedes-Benz recupera o conceito

Muitas décadas depois, a Mercedes-Benz recuperou o conceito, primeiro com o CLS e depois com a primeira geração do CLA. Foi assim que chegamos ao novo CLA Shooting Brake ou SB, para os amigos.

Sendo um dos derivados da segunda geração da Classe A, que tem uma invulgar variedade de carroçarias, beneficia de todas as evoluções registadas naquele que foi em 2019 o segundo modelo mais vendido em Portugal, só superado pelo Renault Clio.

É claro que o desenho da frente não muda, mas tudo o resto é bem diferente do Classe A, ficando mais próximo do CLA, com o tejadilho mais baixo, possível pela inexistência de aros nos vidros das portas.

Depois tem aquela silhueta esguia que fica algures entre uma carrinha e um coupé, que se tornou ainda mais elegante nesta segunda geração.

Interior de grande nível

Por dentro, o painel de instrumentos com o enorme display digital único, que integra o painel de instrumentos e o monitor central continua a impressionar pela facilidade de leitura e de comando das suas funções.

As ordens podem ser dadas através de botões táteis no volante, de um “touchpad” na consola, ou através de comandos vocais.

Basta dizer “Olá Mercedes” para iniciar o sistema de voz, o melhor que se pode encontrar na indústria: fica a um passo de se poder ter um conversa com o carro…

A sensação de tejadilho baixo alimenta um ambiente desportivo que todos os quatro ocupantes podem sentir. O quinto irá mais preocupado com o pouco espaço que lhe resta.

Para o condutor, está reservada uma posição ao volante muito boa, com amplas regulações, banco com encosto de cabeça integrado e generoso apoio lateral.

Mais racional… um pouco

Até a visibilidade para trás, através do retrovisor, que era um ponto crítico na anterior geração, foi claramente melhorado. Aliás, o aumento de racionalidade do CLA SB fica também patente na maior altura disponível nos lugares traseiros, a que corresponde maior facilidade de acesso.

A mala também melhorou um pouco, passando dos 495 para os 505 litros. O acesso não é brilhante.

Diesel ainda “mexe”

A motorização que testei é a 200d, o Diesel intermédio com motor 2.0 turbo e 150 cv. Na oferta a gasóleo, acima, fica o 220d com o mesmo motor a debitar 190 cv e, abaixo, fica o 180d com o motor 1.5 turbo de 116 cv, partilhado com a Aliança Renault/Nissan/Mitsubishi.

O 200d é vendido exclusivamente com a caixa 8G-DCT de dupla embraiagem e oito relações, com patilhas no volante e o preço base é de 45 150 euros, ficando a meio caminho entre os 41 375€ da versão 180d e os 49 050€ da 220d, ambas com caixa automática.

Depois é uma questão de ir somando opcionais, pois a lista disponível é longa e a unidade ensaiada tinha vários, dos quais o pacote exterior AMG é o mais visível.

Ao volante… bem baixo

A primeira sensação ao volante é que vou sentado realmente baixo, mas sem problemas de espaço ou de visibilidade.

A direção tem o peso certo, a caixa é suave nas manobras e decidida na maioria das recuperações.

A muito baixa rotação, os 320 Nm de binário máximo do motor fazem-se esperar durante uma fração de segundo, mas a caixa automática dá-lhe uma ajuda.

Os travões são fáceis de modular e têm um ataque muito forte, na frente os discos são ventilados e perfurados.

Na cidade, as jantes de 18” com pneus 225/45 R18 não causam tanto desconforto quanto seria de esperar. A razão está na suspensão que, nesta motorização, é independente às quatro rodas.

Além disso, este exemplar tinha as molas opcionais, mais baixas mas em configuração “Comfort”. Tira de um lado… e dá pelo outro.

Muito perto do chão

Único problema, a proteção do cárter fica a menos de um punho de altura do solo, por isso é preciso passar nas bandas sonoras realmente devagar, para não bater no chão.

Nas ajudas eletrónicas à condução, não gostei da travagem automática apenas de um lado, quando o carro se aproxima do limite da faixa: o efeito é brusco e ruidoso.

Também nas manobras a baixa velocidade, a travagem automática se mostra demasiado zelosa: para evitar tocar nos carros à frente ou atrás, acaba por travar antes do tempo.

Estão disponíveis os habituais modos de condução que regulam a resposta do motor, caixa de velocidades, assistência da direção e ESC.

Em autoestrada, a suspensão faz um bom trabalho, mantendo a serenidade a bordo, mesmo nas bossas mais pronunciadas.

Em estradas secundárias, passando ao modo Sport, ganha-se mais prontidão do motor que permite explorar melhor o acerto dinâmico.

Muito bom controlo de estabilidade

Em geral, a atitude é muito neutra, com a frente a seguir fielmente a trajetória escolhida, sem subvirar, a não ser que o condutor entre em curva com velocidade muito exagerada.

Nesse caso, o ESC entra em ação de forma muito competente: em vez de se limitar a travar e baixar a velocidade, ajuda o carro a rodar e entrar na curva, através da travagem seletiva, desde que o condutor continue a acelerar.

Se levantar o pé do acelerador a meio da curva, a traseira pode deslizar, mas apenas um pouco e, mais uma vez, para ajudar a recuperar a trajetória.

A carroçaria nunca inclina muito em curva, mantendo tudo muito controlado. Há aqui uma agilidade e uma precisão de movimentos que agrada e transmite confiança.

Motor Diesel ainda vale

Os 150 cv podem não parecer muitos, tendo que “puxar” 1570 kg através das rodas da frente. A tração é boa, mas em curvas mais fechadas, o controlo de tração foi chamado a intervir algumas vezes.

Nas curvas longas, com relevo ondulado, a suspensão mostra o seu lado “Comfort” e deixa o CLA SB bambolear mais do que esperava, mas já estamos a falar de velocidades altas.

Numa condução rápida, o CLA 200d SB satisfaz pela precisão e agilidade, com boas prestações (0-100 km/h em 8,4 segundos) e uma travagem fabulosa. A caixa reage bem às “patilhadas” mais bruscas e o motor dá o melhor de si nos regimes intermédios.

Numa toada mais tranquila, o consumo médio que registei ficou pelos 7,5 l/100 km, sem preocupações de bater recordes de economia e sempre com o A/C ligado.

Conclusão

O CLA 200d Shooting Brake, com o seu motor 2.0 Diesel e turbo de geometria variável, vale bem os 3775€ que custa a mais face à versão 180d com caixa automática. A diferença para um Classe A200d é maior, chega aos 6250€. Talvez não se justifique racionalmente, mas o desenho da Shooting Brake apela a uma parte emocional que só cada comprador poderá avaliar. Por mim, vale bem a diferença.

Potência: 150 cv
Preço: 45 150€
Veredicto 4,5 (0 a 5)

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