A frente do novo BMW Série 4 Coupé tem gerado reações violentas, mesmo dos fãs da marca. Mas, para lá do enorme “duplo rim” há um carro que evoluiu e ganhou a sua identidade.

 

Desde o início da Série 3 em 1975 que a versão coupé era mais uma variante de duas portas da berlina de quatro, do que outra coisa qualquer. Mesmo se a marca garantia que poucos ou nenhuns painéis exteriores eram iguais, a verdade é que o Coupé sempre esteve colado à berlina.

Pois isso mudou, e de maneira explosiva, a julgar pelas reações violentas de muitos, que acham a nova frente “horrível”, para usar a palavra mais meiga que tenho visto nas redes sociais. Só que, há mais carro para lá da grelha com o enorme duplo rim, inspirado nos BMW mais antigos. Observe a foto do BMW 328 Roadster de 1936, um dos maiores ícones da marca e um carro belíssimo e vai perceber o que a BMW quer dizer.

O ponto fundamental é mesmo a maior diferenciação entre a Série 4 e a Série 3, pelo menos para já. Ou estou muito enganado ou o Série 3 vai acabar por receber esta frente também, quando já tiver sido melhor aceite.

Para lá da grelha

Para já, o Série 4 tem a via traseira 21 mm mais larga que o Série 3 e uma silhueta mais vincadamente coupé, com a zona traseira inspirada na do Série 8 coupé.

O Série 4 também foi acertado para ter uma condução mais desportiva que o Série 3, por exemplo com uma rigidez estrutural maior, casquilhos de suspensão mais firmes, maior camber negativo nas rodas da frente e um centro de gravidade 21 mm mais baixo.

A distribuição de pesos continua a ser 50/50, como habitual nos modelos de tração atrás da marca. A aerodinâmica também foi melhorada, com a redução da sustentação no eixo traseiro.

Motor Diesel foi melhorado

O primeiro Série 4 que testei foi o 420d, com o motor Diesel de 2.0 litros que foi melhorado a muitos níveis, os dois mais relevantes são a sobrealimentação e a hibridização.

No primeiro campo, a sobrealimentação passou a ser feita em duas etapas, num agregado feito por medida pela Borg Warner e que inclui um turbo de baixa pressão e geometria variável, montado em série com um turbo fixo com wastegate, para as altas pressões.

Quanto à hibridização, o sistema usa um motor/gerador elétrico de 11 cv, alojado na caixa de velocidades automática de conversor de binário e oito velocidades, a única caixa disponível no Série 4, não há caixas manuais.

Esta máquina elétrica regenera energia nas desacelerações e travagens e envia-a para uma segunda bateria. Daqui pode seguir para alimentar a rede de 12 Volt ou para dar um “boost” de potência quando necessário.

As vantagens do “mild hybrid”

Quando as travagens e desacelerações são raras, como em condução em autoestrada, o motor a gasóleo pode accionar a máquina elétrica e carregar a bateria, se estiver com carga muito baixa, mas apenas em alturas em que isso não prejudique a eficiência.

O sistema de 48 Volts permite ainda que o “start/stop” esteja ativo dos 15 km/h para baixo e torna mais suave o arranque, que era um problema do motor anterior. Além disso, permite também desligar o motor quando entra em ação o modo “vela”, que assim não se fica apenas por colocar o motor em ponto-morto.

O modo “vela” passa a estar disponível nos modos Eco Pro e Comfort e pode ser ativado pelo condutor, puxando a patilha direita da caixa prolongadamente, desde que não esteja a acelerar, como é óbvio. Este modo está disponível até aos 160 km/h.

Estão presentes os habituais modos de condução EcoPro, Comfort, Sport e Adaptative mas há uma nova função nova Sprint. Carregando demoradamente na patilha da esquerda, é chamado diretamente o modo Sport que fica ativo até o condutor baixar o ritmo.

Feio?… depende do ângulo

Ao vivo e a cores, devo dizer que o estilo do Série 4 Coupé me agrada, visto de traseira e visto de perfil. Quanto à frente… ainda tenho muitas dúvidas.

Do que não há dúvidas é da qualidade do habitáculo, tão alta como a do Série 3 e no topo do segmento. Os dois lugares de trás são formados por assentos muito envolventes e com amplo espaço para as pernas.

Entrar e sair não é tarefa muito fácil, mas isso não é de estranhar num carro de duas portas, apesar de até serem bem compridas. A mala tem 440 litros, só 40 menos que um Série 3.

Desportivo como sempre

Como é habitual, as unidades de demonstração da BMW para a Imprensa são configuradas com muitos opcionais, para que possam ser testados. Mas os bancos desportivos, com comandos manuais, são de série e proporcionam bom apoio lateral, inúmeras regulações e muito conforto.

A posição de condução é excelente, com o volante (um pouco grosso) muito bem posicionado e de regulações amplas, sentindo-se mais baixa que no Série 3. O motor Diesel arranca sem vibrações e com um som muito bem camuflado. A resposta ao acelerador é ultra-suave e imediata.

O motor sobe de regime sem degraus, com enorme progressividade. Parte da explicação encontra-se no diagrama de fluxos de energia que mostra de onde, e para onde, está a circular a energia elétrica. Esta informação aparece no monitor central de 10,25”, que tem comando tátil, por voz e por gestos. E a BMW nem deixou de usar o comando rotativo, que continua a ser o meu preferido. É pena que o painel de instrumentos digital tenha perdido a opção dos clássicos mostradores redondos.

Motor suave e suspensão confortável

A direção desportiva é rápida, direta e precisa, sem nunca ser nervosa e com a assistência certa em todos os modos de condução. Nas ruas empedradas, a rigidez sente-se na ausência de trepidação e na maneira como a estrutura deixa a suspensão trabalhar.

O 420d Coupé que testei tinha a suspensão adaptativa opcional, que faz variar o amortecimento de acordo com os modos de condução. Em Comfort faz justiça ao nome, apesar de o carro ter montados pneus 225/45 R18, à frente e 255/40 R18, atrás. Só no piso muito degradado mostra os seus limites em termos de conforto.

A caixa automática Steptronic Sport de oito é um exemplo de suavidade em “D” e de obediência, usando as patilhas fixas ao volante. Quando se levanta o pé do acelerador sente-se uma ligeira retenção que em nada interfere com a boa progressividade da travagem. No final do teste em cidade, em modo EcoPro e com cautelas, o consumo foi de uns muito bons 6,2 l/100 km.

Preciso e ágil a andar depressa

Na autoestrada, a estabilidade é soberba, o ruído do motor continua sempre muito baixo e a disponibilidade dos 400 Nm entre as 1750 e as 2500 rpm é mais do que suficiente para aumentar o ritmo com o mínimo de aceleração. Rolando em torno dos 120 km/h o consumo foi de uns reduzidos 5,2 l/100 km.

Uma crítica vai para a manutenção de faixa de rodagem, que quase “tira” o volante das mãos, tal a decisão com que atua. Desligar o sistema é quase “obrigatório”.

O Série 4 Coupé também se distingue do Série 3 pela dinâmica, mas em parte devido aos opcionais incluídos na unidade que testei, como a suspensão adaptativa que ganha um controlo superior dos movimentos da carroçaria em modo Sport.

Estável e divertido

A distribuição de pesos 50/50 contribui para uma atitude em curva que começa por ser neutra e estável. A frente resiste muito bem antes de subvirar ligeiramente e pôr o ESP em cena, o que acontece com progressividade. Em modo Sport, passa a dar uma margem mais que aceitável para explorar a tração atrás e procurar um pouco de diversão.

No dia em que testei o 420d coupé em estradas mais exigentes, o piso estava molhado pela chuva recente. Ainda assim, a aderência e tração mostraram-se muito boas. Em modo Sport, com o ESP desligado e caixa em modo M, a sessão acabou por ser bem entretida.

Desde logo porque o motor sobe com facilidade até às rotações mais altas, fazendo os 0-100 km/h em 7,1 segundos. Os 190 cv são suficientes, mas o motor impressiona mais pelo binário.

“Feeling” de condução BMW

A frente consegue fincar os pneus na estrada molhada, nunca se mostrando pesada. Usando relações de caixa mais curtas, claro que a traseira desliza quando se carrega mais no pedal da direita. Mas as derivas são sempre progressivas e fáceis de controlar com pequenos movimentos de volante e doseando o acelerador.

Ficando por relações mais altas, obviamente que se ganha em tração, aumenta-se a velocidade e as derivas surgem a ritmos mais elevados, o que obriga a maior atenção, mas sempre com a sensação de que os acertos de suspensão e direção ajudam a controlar a situação.

Conclusão

O Série 4 Coupé propõe um estilo de condução mais dinâmico, mais preciso e mais reativo que o Série 3. O motor Diesel de 190 cv mostrou toda a sua atualidade, seja em termos de performance, seja de consumos. Quanto ao estilo, tem o mérito de dar ao Série 4 Coupé uma identidade própria e de lhe reforçar o perfil coupé. Quanto ao desenho da frente… ainda continuo com sérias dúvidas.

Francisco Mota

BMW 420d Coupé

Potência: 190 cv

Preço base: 53 200 euros

Veredicto: 4 (0 a 5)

Para percorrer a galeria de imagens, clicar na foto

Ler também, seguindo o LINK:

Nova grelha: BMW foi obrigada a mudar, saiba porquê