Numa das versões mais desportivas do A7, a Audi trocou o motor V8 a gasolina do S7 por um Diesel, uma decisão polémica. Conheça as razões para esta revolução e se foi boa ideia.

 

O anterior Audi S7 era movido por um motor 4.0 V8 biturbo a gasolina com 450 cv, que anunciava um consumo combinado de 13,2 l/100 km. Mas com “potencial” para gastar o triplo, dando uso à performance disponível.

Numa decisão que não deixou de gerar alguma polémica, a Audi decidiu trocar o motor a gasolina por um motor Diesel, o mesmo 3.0 V6 TDI que equipa as versões 45 e 55 TDI, mas devidamente modificado.

Um programa de redução dos atritos internos, com substituição de algumas peças móveis foi o ponto de partida. Depois adicionou um sistema “mild-hybrid”, com uma máquina elétrica de 11 cv (motor de arranque/alternador) que ajuda nos arranques e nas recuperações.

É alimentado por uma bateria de 0,48 kWh, recarregada nas travagens e desacelerações, e consegue mover sozinho o S7 por períodos máximos de 40 segundos, entre os 55 e os 160 km/h. Desde que o perfil da estrada seja plano.

Compressor elétrico

Mas a grande modificação foi a sobrealimentação. Além do normal turbocompressor de geometria variável, o V6 Diesel recebeu um compressor elétrico que roda até às 70 000 rpm.

Este compressor elétrico é accionado pela rede de 48V e tem por missão compensar o tempo de resposta do turbo convencional a baixas rotações.

O seu funcionamento termina quando o motor a gasolina supera a barreira das 1650 rpm, altura em que o turbocompressor já se aproxima da pressão ideal, levando o motor ao binário máximo de uns incríveis 700 Nm, constantes entre as 2500 e as 3100 rpm. O anterior V8 biturbo a gasolina tinha “só” 550 Nm.

Claro que a aceleração máxima piorou um pouco, dos 4,6 para os 5,1 segundos, mas meio segundo não me parece que seja algo de muito importante a este nível. A velocidade é limitada em ambos aos habituais 250 km/h.

Gasta muito menos

Ou seja, o S7 manteve as prestações de “míssil da autobahn” gastando muito menos combustível (anuncia média combinada de 7,9 l/100 km) e reduzindo as emissões de CO2. Uma aposta ganha, não fosse o estigma que os políticos decidiram colar aos motores Diesel.

Para mim, interessava-me sobretudo conhecer a experiência de condução do novo S7 Sportback TDI quattro, mais do que discutir política. E a primeira crítica vai para o visual.

O S7 merecia uma maior diferenciação em relação aos A7 menos potentes, faltam detalhes que lhe dessem uma aparência mais desportiva. Mas isso é a minha opinião. Quem o compra, provavelmente prefere que o S7 seja o mais discreto possível.

Uma coisa é certa, não são as quatro saídas de escape falsas – são mesmo falsas, estão tapadas, não são saídas de nenhum gás – que o favorecem.

Interior de alto nível

As portas sem aros nos vidros e o tejadilho baixo fazem do S7 um coupé de quatro portas, por isso a posição de condução é mais baixa que no A6 ou A8. Mas não tanto quanto isso.

Sentado ao volante, dei por mim a procurar baixar mais o banco do que é possível. O volante em sí tem boa pega, mas o diâmetro parece exagerado e tem a base plana que não serve para nada. Isto já se tornou num dos meus ódios de estimação, admito…

De resto, o interior tem a habitual qualidade da Audi, transmitindo a sensação de que todas as peças estão muito bem montadas, apresentando um acabamento mate de muito bom aspeto.

O monitor central tátil deixou de ter o anterior comando rotativo, mas tem o efeito háptico que consiste em simular a resistência de um botão físico, quando se carrega em algum ícone.

A Audi usa este sistema em vários modelos, mas não vejo que tenha alguma vantagem: continua a ser preciso desviar os olhos da estrada para ver onde o dedo tem que carregar e tem que se fazer mais força que nos monitores táteis comuns.

Um grande motor

Motor em marcha e logo se começa a usufruir do excelente trabalho de insonorização feito no S7: só as frequências agradáveis do motor chegam aos ouvidos, devidamente trabalhadas por um sintetizador que emite som através dos altifalantes.

Já em andamento, a sensação de estar isolado do mundo continua com a diminuição dos ruídos aerodinâmicos e de rolamento ao mínimo.

Com pneus 255/35 R21 e suspensão desportiva (mais baixa 10 mm que nos outros A7), o conforto em mau piso não é fabuloso, mesmo em modo Comfort, que altera o amortecimento.

Os outros modos de condução são Efficiency/Auto/Dynamic/Individual, sendo o segundo o mais usado: faz as escolhas corretas na altura certa. Além disso, a caixa automática de oito relações também tem modos D e S e o ESP tem posições on/sport/off.

Sem “turbo-lag”

O contributo do compressor elétrico é bem evidente, com uma resposta ao acelerador muito pronta desde o arranque e sem vestígios de “turbo-lag”.

Em cidade é super suave, tal como a caixa de velocidades de conversor de binário, capaz de decisões acertadas em todas as alturas.

O melhor que consegui em termos de consumos em cidade foi 10,0 l/100 km, mas com algum cuidado, pois o mais normal foi andar en torno dos 12,0 l/100 km.

Grande contributo para a facilidade de utilização em meio citadino, sobretudo em manobras, é dado pela direção às rodas traseiras, que faz o S7 parecer bem mais curto que os seus 4,979 metros de comprimento.

Curvas desertas

Mas o apelo de ir testar o S7 em estradas sem trânsito e com curvas não me deixou muito tempo às voltas no trânsito citadino. E, aí, o binário do motor é o primeiro a impressionar.

Quase desde parado, o motor tem sempre uma resposta muito forte, quando o compressor elétrico passa o testemunho ao turbocompressor, a impressão de força ainda se torna mais impressionante.

O binário máximo fica estável entre as 2500 e as 3100 rpm mas o motor sobe até ao “red-line” com imensa facilidade, mostrando que não tem alergia os altos regimes. Nem parece um Diesel.

A caixa, usada com as patilhas fixas ao volante, é muito obediente e acrescenta ao prazer do exercício, o que nem sempre acontece em motores Diesel de alta performance.

Tudo isto, usando o modo Dynamic, altura em que o sintetizador duplica o ronco do motor, talvez até com algum exagero.

Curva como um Audi

A seguir impressiona a eficiência em curva, sobretudo tendo em conta os 2085 kg de peso. É um Audi típico, bastante rápido a entrar na trajetória, com uma direção precisa e obediente mas sem muito tato.

Claro que se nota o peso da frente, assim que se exagera mais na velocidade que se quer levar para dentro da curva.

Mas a intervenção do ESP, sobretudo em modo Sport, é muito subtil e cooperativa, nem sendo realmente necessário desligá-lo.

A segunda parte da curva faz-se de pé direito a fundo, deixando a tração às quatro rodas e o diferencial traseiro desportivo fazer os seus passes de mágica.

A subviragem inicial é progressivamente transformada numa atitude neutra que termina num indício de sobreviragem que ajudar a rodar o carro, sem necessidade de correção.

Um quattro eficiente

O sistema quattro parte de uma distribuição de binário de 60/40 (frente/trás) mas consegue chegar aos 70% para o eixo da frente ou aos 85%, para o eixo de trás.

Parte do teste foi feito em asfalto molhado, condições em que o S7 impressionou ainda mais.

Não só pela excelente tração em todas as situações, mesmo em curvas muito fechadas, como pela transferência de binário para as rodas de trás, auxiliada também pela vectorização de binário.

Mesmos numa ou outra situação em que o exagero levou a pensar que medidas extremas de esquiva iriam ser necessárias, a tração acabou por resolver o problema. E os travões nunca mostraram reticências face ao peso.

É a atitude habitual dos Audi quattro, talvez não seja a mais recreativa, mas impressiona sempre pela eficiência, pela ajuda que dá ao condutor nas piores situações.

No final desta fase do teste, anotei no meu bloco um consumo em condução desportiva de 23,5 l/100 km.

Parece muito, mais o V8 a gasolina gastaria muito mais, na mesma situação e não daria muito mais gozo de condução.

Rei na autoestrada

Claro que o S7 nasceu para a “autobahn”, para rodar dezenas de quilómetros acima dos 200 km. Esse teste não o fiz, como é lógico, mas nem é preciso tanto para perceber o desempenho irrepreensível em autoestrada.

Mais uma vez, muito pouco ruído exterior entra no habitáculo, o motor rola com uma reserva de potência extraordinária e a estabilidade nas mudanças de faixa bruscas é perfeita, com a direção às rodas de trás e a asa traseira elevatória a ajudar.

A suspensão mantém a carroçaria isolada das lombas e bossas do piso, o que diminui a sensação de velocidade e aumenta a de segurança. Mais uma vez, o típico Audi.

Conclusão

O S7 Diesel supera as expetativas em todo o tipo de condução, com o alto binário, amortecimento regulável e direção atrás a dar uma sensação de facilidade e ausência de esforço à condução.

O compressor elétrico permite montar um turbocompressor mais ambicioso, sem o problema da resposta a baixo regime. Perfeito, então?…

Para quem gosta de um pouco mais de emoção na condução, será difícil esquecer o som do V8 a gasolina, tanto a ronronar a baixos regimes, como a gritar enquanto escalava pelo conta-rotações.

Francisco Mota

Potência: 349 cv

Preço: 114 560 euros

Veredicto: 4 (0 a 5)

Para percorrer a galeria de imagens, clicar nas setas

Ler também, seguindo este LINK:

Audi e-tron: o que se ganha com a versão Sportback?