Alfa Romeo Tonale 1.5 MHEV 130 (fotos de João Apolinário)

Os 130 cv não são suficientes para explorar o chassis

Posição de condução alta, mas bem centrada

Suspensão firme mas não é desconfortável

Ambiente tipicamente Alfa Romeo no interior

Patilhas enormes metálicas fixas à coluna

Painel digital evoca os de antigos Alfa Romeo

Ecrã tátil é baixo, para os padrões atuais

Bons materiais no habitáculo

Comandos físicos separados do ecrã tátil

Alavanca da caixa automática é uma... alavanca

Comando dos modos de condução A, D e N

Bancos da frente são confortáveis e têm bom apoio lateral

Espaço atrás é bom, para o segmento

Mala tem 500 litros e acesso razoável

O Tonale tem no X1, Q3 e Formentor os seus rivais diretos

A plataforma é a do Jeep Compass, mas modificada

Desenho junta detalhes da marca com a fisionomia SUV

Talvez a altura seja exagerada para um Alfa Romeo

A tradicional grelha da Alfa Romeo em destaque

Faróis de LED com três elementos

Tonale junta-se a Giulia e Stelvio

Luzes de trás replicam as da frente

“Salvar a Alfa Romeo” tem sido uma responsabilidade atribuída a vários modelos da casa Italiana nas últimas décadas. Mas o Tonale tem hipóteses de sucesso como nenhum outro: nasce dentro do grupo Stellantis e tem a fisionomia da moda, é um SUV. Teste à versão 1.5 MHEV de 130 cv, para ver se é desta…

 

A história da Alfa Romeo está tão recheada de feitos notáveis, sobretudo ligados à competição automóvel de alto nível – com títulos na F1 e Le Mans – como de períodos de dificuldades industriais e financeiras que a levaram muito perto do abismo, por várias vezes.

A entrada no super-grupo Stellantis terá sido o maior seguro de vida de sempre, para a Alfa Romeo. Pode ser que venha a perder alguma coisa em termos de identidade, mas ganhou segurança, deixou de ter a corda na garganta.

Tonale junta-se a Giulia e Stelvio

A estratégia já começou a mostrar que o futuro imediato vai no sentido certo, com o lançamento do SUV médio Tonale. Sendo certo que o projeto vinha da era pré-Stellantis e que sofreu atrasos com a pandemia.

Tonale está na rua

Mas o Tonale está na rua e o que me interessa agora é perceber aquilo que vale. Para já, começo com a versão 1.5 MHEV de 130 cv, a mais acessível da gama, vendida por 40 600 euros, na versão de lançamento Edizione Speciale.

Olhar para um carro estacionado numa rua conhecida e com as chaves no bolso, suscita uma abordagem bem diferente de o ver num palanque de um salão, ou mesmo frente a um hotel de luxo, numa apresentação internacional.

A tradicional grelha da Alfa Romeo em destaque

E o que posso dizer é que, na vida real, as linhas do Tonale geram curiosidade e aprovação de quem o vê. Não são precisas muitas explicações. A estética junta proporções convencionais de um SUV semi-desportivo, com uma interpretação moderna dos principais ícones da marca.

Os ícones estão lá todos

Lá está a grelha de triângulo invertido e a matrícula descentrada. As luzes da frente com três elementos, agora em LED, as jantes com círculos de grandes dimensões e as luzes de trás, também com elementos em LED e unidas por uma faixa transversal.

Patilhas enormes metálicas fixas à coluna

O vidro traseiro, mais inclinado que noutros SUV, dá-lhe algo de quase-coupé e apenas a generosa altura de 1601 mm poderá parecer um pouco exagerada para um Alfa Romeo, além de o atirar para a Classe 2 das portagens de auto-estrada, se não tiver Via Verde. Mas há uma razão forte para isso.

Plataforma do Jeep Compass

O Tonale é feito sobre a mesma plataforma do Jeep Compass, por isso a margem de manobra em termos dimensionais e de peso (1600 kg, nesta versão) não era muito grande. A diferenciação teve que ser feita ao nível dos painéis exteriores da carroçaria e do ambiente interior.

A plataforma é a do Jeep Compass, mas modificada

Isso foi bem conseguido, com um habitáculo onde se podem encontrar materiais de boa qualidade, com alguns detalhes decorativos que lhe dão aquele ambiente típico da Alfa Romeo. É um esforço que se aplaude, e que legitima as pretensões de posicionamento premium do Tonale.

Lá no alto

A posição de condução é alta, para o segmento C-SUV, beneficiando a visibilidade. O banco é confortável, tem bons apoios laterais e ajustes suficientes. A coluna de direção também não está demasiado inclinada, permitindo uma boa localização e ajustes amplos do volante.

Ambiente tipicamente Alfa Romeo no interior

A caixa de velocidades é uma unidade de dupla embraiagem e sete relações, com uma alavanca convencional na consola, que facilita as manobras face à nova moda dos “interruptores”. E ainda há duas enormes patilhas metálicas fixas à coluna, que os dedos acham irresistíveis.

Comandos físicos separados do ecrã tátil

Nos lugares da frente, o Tonale sente-se largo mas não demasiado alto. Na segunda fila, há espaço mais que suficiente para dois adultos e mesmo o eventual passageiro do meio vai conseguir suportar curtas viagens. A mala tem 500 litros, um Audi Q3 tem 530 litros.

Mais que um “mild hybrid”

O painel de instrumentos é digital mas o seu contorno lembra os painéis usados nos Alfa Romeo do passado e faz animações de início e fim de sessão. O ecrã tátil central não é grande mas é relativamente fácil de usar.

Comando dos modos de condução A, D e N

O motor 1.5 turbo de quatro cilindros tem sistema “mild hybrid” que inclui o habitual motor/gerador no lugar do alternador e acrescenta um segundo motor elétrico de 20 cv e 135 Nm integrado na caixa de velocidades de dupla embraiagem.

Fica assim um degrau acima dos sistemas MHEV vulgares. Isso permite-lhe circular em modo 100% elétrico durante algumas centenas de metros, o que os MHEV “normais” não conseguem.

Ecrã tátil é baixo, para os padrões atuais

Mas só se a bateria estiver carregada, se se acelerar com muita suavidade e se for abaixo dos 30 km/h. São muitos “ses” mas num estacionamento de supermercado ou no “para-arranca” muito lento, funciona.

Regeneração rápida

Apesar de a bateria ter apenas 0,8 kWh de capacidade, e estar entre os bancos da frente para não roubar capacidade à mala, a regeneração é muito rápida.

É comum ter a bateria acima dos 50%, porque o motor/gerador também a carrega em aceleração, para ter sempre a performance máxima disponível.

O Tonale tem no X1, Q3 e Formentor os seus rivais diretos

O sistema dá uma ajuda nas recuperações. E nem é preciso estar sempre a olhar para o indicador dos fluxos de energia para perceber o contributo elétrico, que se reflete também nos consumos.

Consumos controlados

Isso mesmo pude comprovar no meu habitual teste de consumos em cidade que indicou um bom valor de 6,3 l/100 km. A insonorização está bem feita e a condução em cidade é suave, excepto a frio, altura em que a caixa mostrou algumas hesitações e soluços.

Bancos da frente são confortáveis e têm bom apoio lateral

A Alfa Romeo trabalhou bastante na afinação da suspensão e mesmo no aumento de rigidez da plataforma do Jeep Compass e os resultados aparecem logo quando se circula em maus pisos.

Mesmo com jantes de 20” e pneus 235/40 R20 o conforto não foi demasiado prejudicado. O Tonale não “salta” sobre as tampas de esgoto desniveladas ou nos buracos e também não tem aquelas oscilações longitudinais típicas dos SUV mais altos, sobre bossas. A suspensão traseira independente tem aqui os seus méritos.

Direção muito leve

Em cidade, a direção pareceu-me muito leve e demasiado direta, ao ponto de ficar um pouco nervosa. Mas é uma “escola” da marca, comum com o Giulia e Stelvio. Há quem goste…

Alfa Romeo Tonale 1.5 MHEV 130 (fotos de João Apolinário)

O diâmetro de viragem grande (11,5 metros) não ajuda nas manobras mas a câmara de marcha-atrás resolve a maioria das situações.

Passando à autoestrada, o Tonale mantém uma postura muito bem controlada e livre de oscilações parasitas. Sente-se “agarrado” ao chão, apesar de também se perceber que o Centro de Gravidade não é propriamente baixo.

Os 130 cv não são suficientes para explorar o chassis

Rolando a 120 km/h constantes, o consumo subiu aos 7,3 l/100 km, pois neste tipo de condução, o sistema “mild hybrid” tem menos oportunidades de participar.

E a dinâmica?…

Mas a parte deste teste que me gerava mais curiosidade era mesmo a condução rápida em estradas secundárias sem trânsito. E passando ao modo Dymanic no enorme comando rotativo da consola, que tem também os modos A e N, com diferenças notórias na resposta do acelerador.

Posição de condução alta, mas bem centrada

A primeira impressão vem novamente da direção, muito direta mas que coloca a frente em curva sem subviragem, com os pneus Pirelli PZero a fornecer excesso de aderência.

A carroçaria tem pouca inclinação lateral em curva, a suspensão mantém tudo sob rigoroso controlo, numa atitude que resulta neutra. Os 130 cv desta versão surgem de forma progressiva, com uma ligeira preferência para a vizinhança das 5000 rpm. Os 240 Nm estão lá desde as 1500 rpm.

Mais chassis que motor

Mas a verdade é que o motor não entusiasma e as patilhas acabam por não dar ordem a passagens de caixa muito rápidas, por vezes é msmo preferível deixar o modo automático tratar das mudanças.

Suspensão firme mas não é desconfortável

O som do motor podia ser mais melodioso, tratando-se de um Alfa Romeo, mas pelo menos não é falso. A aceleração 0-100 km/h está anunciada em 10,0 segundos.

Conclusão

A Alfa Romeo fez um bom trabalho, dado o ponto de partida que tinha no início do projeto. Esta versão de 130 cv que testei deverá ser claramente suplantada pela de 160 cv, que utiliza o mesmo “hardware” e que deverá ser a versão a comprar, pois a diferença de preço é de apenas 2000 euros. Num próximo teste, espero dar resposta a essa questão.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

 

Alfa Romeo 1.5 MHEV Edizione Speciale

Potência: 130 cv

Preço: 40 600 euros

Veredicto: 3,5 (0 a 5)

 

Ler também, seguindo o Link:

Primeiro teste – Alfa Romeo Tonale: Um SUV para “salvar” a marca