Sistema Stop/Start (foto de João Apolinário)

Os sistemas stop/start, que desligam o motor durante paragens no trânsito, são hoje comuns. Mas duas perguntas subsistem: o que se ganha e quanto tempo duram? Fui à procura de respostas, com a ajuda de um fornecedor deste tipo de sistemas, e as respostas podem ser surpreendentes.

 

Longe de serem novidade, os sistemas stop/start equipam hoje a maioria dos modelos novos, contribuindo para baixar os consumos e as emissões poluentes da maneira mais simples: desligar o motor térmico, quando ele não é preciso.

Quem já guiou um carro equipado com sistema stop/start, sabe como funciona: no final de uma travagem, quando se imobiliza o carro numa fila de trânsito ou num semáforo, o motor é automaticamente desligado, sem intervenção do condutor.

Quando se levanta o pé do pedal de travão, num carro de caixa automática, ou carrega na embraiagem, num de caixa manual, o sistema volta a arrancar o motor de forma quase instantânea.

Ninguém acreditava

Quando estes sistemas começaram a aparecer, o ceticismo de alguns condutores punha em causa a duração das baterias, pois passavam a ter que fornecer energia para muito mais arranques por dia, do que em carros sem stop/start.

Considerando a vida útil do motor, estima-se que um carro sem stop/start faça 50 000 arranques, enquanto que um com stop/start fará 500 000 arranques.

Mas o sistema prevê a instalação de baterias maiores e devidamente aptas a cumprir esse trabalho, com uma longevidade igual. Só é preciso mudar a bateria por uma com as mesmas características.

Além disso, o sistema stop/start só atua se a bateria estiver com, pelo menos, 75% de carga. Contudo, alguns condutores ainda preferem desligar o sistema, num botão previsto para o efeito.

Medidas de proteção

Do lado do motor também há vária medidas para evitar o seu desgaste prematuro. A primeira é que o stop/start só funciona quando o motor estiver à temperatura normal de funcionamento. Se o A/C estiver no máximo, é provável que também não atue.

Além disso, o sistema de lubrificação do motor, nomeadamente da cambota, foi reforçado para melhor resistir aos constantes arranques, sem que isso tenha influência na eficiência do circuito de lubrificação.

Mild Hybrid de 48 Volt

Além da dúvida sobre a resistência da bateria e motor, surgia também a questão sobre a durabilidade do sistema de arranque do motor, a que se juntava a incerteza sobre os reais benefícios de usar um sistema como este.

Além dos sistemas de 12 Volt, surgiram os de 48 Volt que ganharam outras funções, a ponto de passarem a ser chamados MHEV, ou “mild hybrid” que numa tradução para português poderemos dizer híbrido suave, e acrescentando uma segunda bateria.

Neste caso, trata-se de um sistema que já ajuda o motor a combustão, mas que não está dimensionado para fazer mover o carro apenas com o motor elétrico. É uma ajuda em determinadas situações, aquelas em que o motor a combustão é menos eficiente.

Fácil de instalar

Estes sistemas “mild hybrid” de 48 Volts, são uma solução eficiente para poupar combustível, pois aproveitam as desacelerações para gerar energia, que é armazenada na segunda bateria, sendo usada mais tarde pelo motor elétrico para ajudar o motor a combustão.

Além disso, permitem um funcionamento muito mais suave do stop/start que os sistemas de 12 Volt. Do ponto de vista do construtor, são uma solução de fácil integração em mecânicas já existentes, por isso não acarretam grandes investimentos, face aos ganhos em termos de consumos e emissões, que determinam as taxas aplicadas.

Mais funcionalidades

Além disso, permitem incluir novos modos de funcionamento, como o “boosting”, no qual o gerador entrega energia extra ao motor de combustão, durante pequenos períodos, em situações como o arranque ou a condução a baixa velocidade.

Outro modo de funcionamento útil é o “coasting” em que o motor a combustão é desligado, em situações de velocidade de cruzeiro, ou seja, sem aceleração, deixando apenas o carro deslizar sob a sua inércia, ou com aceleração muito reduzida. Neste caso, o motor elétrico mantém também todos os periféricos a funcionar.

BAS é fulcral

O elemento fulcral do sistema é o BAS (Belt Alternator Starter), que funciona como motor de arranque ou como gerador, consoante as condições. Quando se inicia a travagem e se baixa dos 8 km/h, o motor de combustão é desligado.

O BAS faz depois o re-arranque do motor, aplicando binário elétrico diretamente na cambota. Segundo a Schaeffler, que é um dos fornecedores deste tipo de sistemas para a indústria automóvel, o sistema pode chegar a entregar uma potência de 15 kW e um binário máximo de 50 Nm.

Durabilidade e economia

Segundo a mesma fonte, a durabilidade não é um problema, pois os sistemas BAS estão preparados para durar cerca de 240 000 km, o que equivale a 850 000 arranques do motor.

Quanto aos benefícios, os valores apontados, em termos de utilização média, são de uma redução de 7%, tanto nas emissões de CO2, como na redução de consumos.

Conclusão

Pode parecer um ganho reduzido, mas quando se multiplica por todos os carros em circulação equipados com um sistema stop/start, os valores tomam proporções muito relevantes. Mais relevantes seriam se todos os veículos com motor a combustão que estão em circulação estivessem equipados com este sistema. Para isso acontecer, seria necessário reduzir a idade do parque automóvel rolante, o que só pode ser feito a curto prazo com incentivos ao abate. Mas essa é outra história.

Francisco Mota

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