Aparecem sob todas as formas e feitios e quase todos os carros os usam, mas será que os spoilers fazem realmente alguma coisa, ou são só para enfeitar, como as bolas numa árvore de Natal?
Não há construtor que resista a colocar um spoiler nos seus novos modelos, nem que seja uma coisa pequena, sobretudo quando falamos de versões desportivas. A sua primeira intenção é óbvia, os spoilers estão ligados à ideia de aerodinâmica, que por sua vez se liga diretamente ao conceito de velocidade, pela via dos carros de competição, com os Fórmula 1 no topo. É tudo marketing. Será assim?…

F1 andam no teto de um túnel

Confundir um minúsculo spoiler com uma asa de um F1, estudada durante horas em simulações de computador ou em túneis de vento, seria um erro crasso. O efeito da aerodinâmica num F1 é de tal forma elevado que as suas asas geram uma “downforce” (força vertical dirigida para baixo, ou sustentação negativa) superior ao seu peso. Ou seja, um F1 poderia ser conduzido no teto de um túnel, sem cair. Num carro de todos os dias, o tejadilho ia direitinho para o chão do túnel, como é claro.

Asa vs. spoiler

É bom não confundir uma asa, ou perfil alar, que tem uma secção desenhada para fazer um avião subir, ou empurrar um carro contra o chão, com um spoiler. Um spoiler não é mais do que uma barreira ao escoamento do ar em torno do carro. Como o próprio nome indica (em inglês) o spoiler “spoils the airflow”, ou seja, perturba o escoamento do ar.
Os spoilers podem ser úteis na zona traseira do carro, para reduzir o fenómeno do “lift”, ou sustentação, que é a tendência de a traseira do carro ser empurrada para cima, quando se circula a velocidade mais alta. Isto acontece naturalmente na maioria dos carros, pois o ar que circula entre o carro e a estrada, vai mais lento (com maior pressão) do que aquele que contorna o carro por cima, que vai mais depressa (com menor pressão). Isto gera uma diferença de pressões, entre a parte de cima e a parte de baixo que tende a empurrar a zona traseira do carro para cima.

O caso do Audi TT

Este fenómeno pode gerar instabilidade a velocidades acima dos 120 km/h, se for demasiado intenso. E está muito dependente do formato do carro. O primeiro Audi TT foi um exemplo de um carro com muito “lift”, um problema que foi resolvido com a colocação de um spoiler na tampa da mala.
Este tradicional spoiler na tampa da mala, faz uma barreira ao escoamento do ar, diverge-o e gera uma pressão localizada que contraria o tal “lift”, ou seja, faz um pouco de “downforce”. Mas, tão ou mais importante do que este efeito, que depende em muito do formato da carroçaria, é o facto de gerar uma zona de baixa velocidade de escoamento de ar, e alta pressão, imediatamente à sua frente, reduzindo por si só o prejudicial balanço de pressões e o “lift”. Esta bolsa de ar turbulento que ali fica estagnada, acaba, por outro lado, por obrigar as camadas de ar que circulam mais acima a nunca lá entrarem, acabando por ter o efeito de mudar virtualmente a silhueta do carro, diminuindo assim a resistência ao avanço, o famoso “drag”, em inglês, uma força do ar que vai contra o carro e que é variável com a velocidade, área frontal e coeficiente de forma, ou Cx. Mas isso fica para uma próxima oportunidade.

Muitos dos spoilers que vemos em alguns carros, são apenas adereços estéticos

Um bom spoiler, como o da foto que pertence ao novo Audi A7 (cujo “Hoje Guiei Um…” estará aqui no Targa 67 em breve) tem um motor elétrico que o faz subir acima de uma dada velocidade, apenas quando pode ter algum efeito, posicionando-se num ângulo preciso face ao escoamento de ar e num local muito bem estudado. Reduz a sustentação, o mais possível e aumenta a resistência ao avanço, o mínimo possível.

Conclusão

Para um spoiler típico ter algum efeito positivo, a não ser o de aumentar a resistência ao avanço e diminuir a velocidade do automóvel, tem que ser muito bem posicionado e dimensionado, o que só é possível se tiver sido estudado em simulação de computador e/ou em túneis de vento. Muitos dos que vemos em alguns carros, são efetivamente apenas adereços estéticos. E não pense que, se comprar um spoiler qualquer e o mandar colocar na traseira do carro, lhe vai trazer benefícios imediatos, o mais certo é baixar a velocidade e subir os consumos.