06/03/2020: Com o cancelamento do salão de Genebra, a organização decidiu compensar as marcas e fez uma versão digital, no seu site. O resultado foi tão bom que pode ter condenado o salão real.

 

Na semana passada, poucas horas após o anúncio do cancelamento do salão automóvel de Genebra 2020 (seria a 90ª edição) escrevi na Crónica da 6ª feira que ainda estavam por apurar todos os prejuízos, para as marcas e para os organizadores e como isso poderia condicionar as contas e o futuro do salão.

A organização do GIMS (Geneva International Motor Show) usou os três dias que faltavam para a data em que o salão devia ter aberto e fez aquilo que parecia a sua obrigação.

Em coordenação com as marcas, manteve o horário das conferências de imprensa que estava marcado e decidiu emiti-las no seu site.

Conferências à distância

As marcas, em vez de fazerem as conferências no salão, fizeram-nas nas suas instalações, algumas escolhendo os centros de estilo, outras tornando a conferência num debate ou até num pequeno programa ao estilo televisivo.

Cada uma aproveitou os 15 minutos habituais da melhor maneira e foi para o ar em direto à hora programada. Para os jornalistas, foi perfeito!

Em vez de andar de site em site à procura da transmissão de cada marca, bastou ficar no site da GIMS e assistir em direto, na hora programada, à conferência de cada marca.

Com uma vantagem extra: se falhasse a transmissão em direto, tinha lá no site a conferência gravada, para ver quando quisesse, ou até rever, para tirar alguma dúvida.

Para quem gosta de seguir as conferências dos salões, como é o meu caso, porque os mais altos responsáveis das marcas acabam sempre por dizer alguma coisa interessante, além da apresentação dos novos modelos, resultou muito bem.

O salão virtual/digital

Este autêntico salão automóvel virtual ou digital, foi uma solução muito mais prática do que andar a correr de stand em stand, lutando com os outros jornalistas por um lugar para conseguir ver e ouvir os oradores.

Foi também muito menos cansativo do que ficar em pé o dia todo a escrever no bloco de notas aquilo que os CEO e outros quadros de topo tinham para dizer.

É verdade que não foi possível tocar nos carros, abrir a porta e sentar lá dentro, apreciar as novas soluções técnicas “in loco” e avaliar a qualidade, ou a habitabilidade de cada novo carro.

Mas a verdade é que, com a quantidade de “jornalistas” que são aceites no dia reservado à imprensa, essa é uma tarefa cada vez mais difícil e inconclusiva.

Pelo Skype fez-se o resto

Para completar os méritos desta versão virtual/digital do salão de Genebra, as marcas disponibilizaram depois conferências mais restritas e até entrevistas individuais com os seus especialistas, através do Skype.

Eu fiz as que tinha marcadas sem ter que estar à espera na fila para entrar num cubículo minúsculo, como acontece sempre nos stands do salão.

Em vez disso, sentei-me confortavelmente à minha secretária e fiz tranquilamente as perguntas que queria.

Quando o Skype falhou usei aquela tecnologia de ponta que hoje quase se esquece: a chamada telefónica!

Funcionou bem de mais?

Para fazer o trabalho jornalístico, esta versão virtual/digital do salão de Genebra funcionou perfeitamente. Talvez tenha até funcionado bem de mais.

As marcas também devem ter percebido isso e comparado os custos deste operação com o que tinham gasto na versão “real”, que acabou por se tornar num prejuízo total.

Não será fácil convencer os responsáveis pelos orçamentos de comunicação a voltar a Genebra em 2021, com os habituais custos colossais de um salão clássico, depois da experiência digital deste ano.

Por isso, a organização do GIMS poderá ter dado o derradeiro tiro no pé.

Ao querer compensar as marcas, acabou por mostrar que, com a versão digital, ganha-se mais do que se perde, face à versão real.

E o futuro?…

No futuro, veremos quantas mais edições reais do salão de Genebra vão existir, mesmo com os preços de presença das marcas a descer, como se espera.

É claro que na versão digital, a organização do GIMS nunca vai poder cobrar às marcas aquilo que cobrava pelo aluguer do espaço nos pavilhões da Palexpo. E isso vai fazer mossa no orçamento.

O modelo de negócio mudou e redimensionou-se em baixa. Mas nem tudo são obrigatoriamente más notícias para o GIMS.

Se investir no desenvolvimento de raiz de uma futura versão digital, poderá voltar a atrair todas as marcas que já tinham desistido de estar presentes nos últimos anos na Palexpo.

Conclusão

Talvez o Covid-19 tenha matado o salão de Genebra, mas os anti-corpos que foram gerados, podem ter a capacidade de fazer aquilo que ninguém tinha feito até agora: reinventar os salões internacionais do automóvel.

Francisco Mota

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