A Covid-19 atrasou a rede 5G em Portugal, mas quando chegar vai revolucionar os automóveis e a nossa relação com eles. Saiba como…

 

O leilão da Anacom para atribuição da exploração da rede 5G aos operadores privados, estava agendado para Abril, mas a Covid-19 obrigou ao seu adiamento, ainda sem data alternativa.

O plano inicial, para a instalação da rede 5G em Portugal, passava por começar com algumas cidades, para finalizar os testes que já estão a ser feitos, prevendo-se depois que todo o país estaria coberto até 2025.

A Covid-19 veio atrasar este plano, não se sabendo qual poderá ser o novo calendário, mas não deverá demorar muito até se definir quando a revolucionária rede 5G estará disponível.

Rede 5G é uma verdadeira revolução

E quando digo revolucionária, não estou a exagerar. Bastam alguns exemplos de comparação entre as redes 4G e 5G, para perceber melhor.

Começamos pela velocidade. A 4G tem entre 150Mb a 300Mb, na versão 4G+. Pelo seu lado, a 5G oferece 20 Gb. Os downloads fazem-se a 20 GB enquanto os uploads se fazem a 10 GB.

A latência também diminui drasticamente dos 20 ms, na 4G para os 1 a 5 ms, na 5G. A latência é o tempo de resposta entre uma ordem ser dada e recebida.

Há um exemplo que mostra bem a evolução: um vídeo HD que demorava 1h00 a ser descarregado, com a 5G, passa a demorar um segundo.

Não é só mais rápida

Mas não é só de rapidez que vive a 5G, o número de dispositivos que se podem ligar em simultâneo é muito superior.

Hoje, estimam-se que estejam ligados nove biliões (nove milhões de milhões) de dispositivos. Com a 5G, vai ser possível ligar 20 biliões.

A densidade de ligações é de 1 milhão por cada quilómetro quadrado.

Resumindo, as grandes vantagens da rede 5G são maior velocidade, menor latência, menor consumo de energia, maior independência na IoT (Internet of Things) e também maior rigor no controlo de máquinas à distância.

Que vantagens para os carros?

Nas últimas vantagens da lista, já se começa a adivinhar as vantagens que vai trazer aos automóveis dos próximos anos. É uma verdadeira revolução que se aproxima, mais uma, para a indústria automóvel.

A drástica redução na latência (tempo de resposta) vai beneficiar muitas coisas nos automóveis, desde logo a atuação dos sistemas de segurança ativa, como a travagem de emergência.

Se pensarmos que a latência típica de um ser humano, é de 200 ms, com a 5G, esse tempo de reação diminui para 1 a 5 ms. Ou seja, um sistema eletrónico pode chegar a ser 200 vezes mais rápido que o ser humano a reagir.

O que se aplica à travagem de emergência, aplica-se a todos os sistemas do carro em que o tempo de reação seja fulcral, como a saída de faixa, ângulo morto ativo e muito mais.

V2X renasce com 5G

A outra área fundamental é o chamado V2X (vehicle to anything) a ligação via Internet do seu carro aos outros carros, a infraestruturas fixas ou a sinais móveis, por exemplo sinais temporários em zonas de obras na via.

É uma tecnologia que permite ao condutor ser informado com antecedência de obras no caminho, um carro parado, uma ambulância em marcha de emergência e muitas outras coisas, nem todas ligadas à segurança.

Mas esta tecnologia V2X está em desenvolvimento há mais de vinte anos por vários construtores, pois nunca teve à sua disposição uma rede tão rápida e fiável como a 5G para passar à produção em massa.

Ligação às máquinas

A rede 5G suporta, sem problemas, a comunicação entre objetos em movimento a alta velocidade, através de obstáculos, em ambiente com muitas interferências e é capaz de ser conectada a todo o tipo de máquinas.

Não é preciso dizer muito mais para perceber que a rede 5G será fundamental para o desenvolvimento e operação dos automóveis autónomos.

Alguns testes já provaram a eficácia da rede 5G na condução autónoma, nomeadamente no que concerne à comunicação entre automóveis.

Um programa de experiências feita pela Ericsson, 5GCAR, provou o quão eficaz a 5G é na sincronização entre automóveis, por exemplo numa entrada de autoestrada.

O programa 5GCAR da Ericsson

Este projeto 5GCAR demonstrou como é possível que carros a entrar na autoestrada se sincronizem com os que já lá estão a circular, sem travagens desnecessárias e mantendo o fluxo de trânsito o mais constante possível.

O mesmo programa de testes mostrou que é possível a um carro autónomo, passar aos que o seguem, as informações recolhidas pelos seus sensores, radares e lidares, de forma a que se possam preparar com mais tempo para as condições da estrada mais à frente.

Outra experiência mostrou como pode ser mais eficiente a ligação entre o automóvel e sensores fixos nas ruas, que podem passar informação sobre trânsito, semáforos ou peões prestes a atravessar uma estrada.

Seria uma maneira de otimizar os sensores embarcados que hoje fazem esse tipo de funções, com algumas limitações e, por vezes, um pouco “em cima da hora”.

Fase de transição

Mas claro que nem todos os carros vão estar equipados com tecnologia 5G nos próximos anos.

Vai ser preciso uma fase de transição em que carros com e sem 5G partilham as estradas. Mas ainda assim, os que já tiverem 5G vão poder beneficiar disso.

O plano é instalar câmaras nas bermas da estrada que possam monitorizar o movimento de carros não equipados com 5G e fornecer essa informação aos que já estejam equipados com 5G.

Conclusão

A implementação da rede 5G vai revolucionar a nossa relação com todo o tipo de máquinas, na IoT (Internet of Things) e que tem no automóvel uma das mais importantes. E será um acelerador para os carros autónomos.

Francisco Mota

Para percorrer a galeria de imagens, clicar nas setas

Ler também, seguindo o LINK:

ADAS: ajudas à condução do seu carro podem estar avariadas?