Os rumores de que Ayrton Senna tinha contrato assinado com a Ferrari para a época de 1991 são antigos. Mas agora o jornalista Carlo Caviccchi, da revista italiana Quattroruote, revelou quem tramou Ayrton e o impediu de passar da McLaren para a Ferrari.

 

Trinta anos depois dos factos ocorridos, a história da contratação de Ayrton Senna pela Ferrari é confirmada pelo mais alto dirigente da marca na altura. E quem minou o acordo.

Numa entrevista exclusiva concedida ao jornalista Carlo Cavicchi, da revista italiana Quatroruote, Piero Fusaro, na altura presidente da Ferrari, após o falecimento do fundador Enzo Ferrari, conta a história toda.

Na altura, Fusaro respondia diretamente ao proprietário da marca de Modena, ou seja, a Fiat na pessoa de Gianni Agnelli através do seu braço direito, Cesare Romiti.

Outro nome famoso na hierarquia da Ferrari e das marcas do grupo Fiat, Cesare Fiorio, então director desportivo da Scuderia de F1, contrata Alain Prost para correr pela equipa italiana a partir de 1990, depois de ter ganho três campeonatos com a McLaren.

Prost decide sair da McLaren

O último tinha sido em 1989, após o controverso acidente com Ayrton Senna, então seu colega de equipa na McLaren. Os dois carros bateram no Grande Prémio do Japão e Senna acabaria por ser desqualificado.

Na McLaren, a vitória de Prost sobre Senna não foi o resultado ideal, sobretudo para a Honda, que fornecia os motores e tinha pelo piloto brasileiro uma grande paixão.

Prost percebeu que o ambiente não era o melhor para si e saiu para a Ferrari. A manobra quase resultou em cheio.

Em 1990, a equipa Italiana mostrou-se muito competitiva face à McLaren, com Prost a vencer cinco corridas, contra seis de Senna até que chegou novamente o GP do Japão.

Senna envolve-se num novo acidente direto com Prost e a desistência de ambos entrega o campeonato ao brasileiro.

Senna assina com a Ferrari

Por esta altura, já Cesare Fiorio tinha conseguido aquilo que a Ferrari lhe tinha pedido: a assinatura de Senna num contrato com a Scuderia para 1991.

Fiorio só revelou que Senna tinha tudo acertado com a Ferrari para 1991 numa entrevista que deu muito mais tarde, em 2011. Mas numa versão diferente da avançada agora por Fusaro e que pode ler seguindo este LINK:

https://www.motor24.pt/sites/jornal-dos-classicos/senna-assinou-pela-ferrari/437915/

A verdade é que, no contrato com Senna continuava a faltar a assinatura de Piero Fusaro, da Ferrari. Porquê?…

Prost vai falar com Agnelli

Em Julho de 1990, Prost estava com o seu Ferrari na liderança do campeonato, Senna já tinha assinado com os italianos mas eis que algo inesperado acontece.

Passando por cima do presidente da Ferrari, Piero Fusaro, Prost pede uma reunião diretamente a Gianni Agnelli e o grande patrão decide recebê-lo. O que quer Prost?…

Prost reuniu-se com Agnelli para falar do seu futuro e, no final, afirmou publicamente que o seu contrato tinha sido confirmado para 1991.

Diz Fusaro que, respeitando as hierarquias, pergunta a Romiti, o braço direito de Agnelli, o que fazer com o contrato já assinado por Senna?

Por uma razão simples: o contrato de Prost excluía expressamente a contratação de Senna para seu companheiro de equipa.

Agnelli não sabia de Senna

Segundo Fusaro, Agnelli não estaria informado de que Senna já tinha assinado com a Ferrari, por isso terá dado o “sim” informal ao francês, mas tornado muito público por Prost.

Afinal, o francês liderava o campeonato de F1 com fortes hipóteses de o vencer, algo que não acontecia à Scuderia desde 1979, por isso a reação de Agnelli fazia sentido.

A entrada de Senna para a Ferrari não trazia apenas vantagens em termos desportivos, mas também comerciais, sobretudo para o mercado brasileiro. Senna na Ferrari iria significar subidas nas vendas da Fiat Brasil e por isso Fusaro insistiu com Romiti.

Respeitar as hierarquias

Mas a decisão de assinar o contrato com Senna foi sendo adiada até que chegou um “não” e a reconfirmação de Prost. A decisão final era oficialmente atribuída a Agnelli.

A decisão é depois assumida pelo comité executivo da Ferrari, onde tinham assento Romiti, Fusaro, Montezemolo e Piero Ferrari e que esteve sempre ao corrente das ações de Fiorio.

Piero Fusaro explicou assim à Quattroruote as razão pelas quais se gorou aquele que poderia ter sido o contrato do século na F1.

Conclusão

A manobra estratégica de Prost, quebrando hierarquias e antecipando-se aos acontecimentos, tramou Senna.

Mas a máquina lenta e pesada das hieraquias da Fiat nos anos noventa, também não ajudou a que a comunicação interna se fizesse em tempo útil.

E depois há a questão essencial de manter a face: mesmo não estando informado sobre a assinatura de Senna, quem ousaria fazer o contrário do que tinha dito Agnelli, o patrão máximo? São as conclusão de Fusaro, trinta anos depois.

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