Só há em versão de cinco portas, tem direção às rodas traseiras e caixa de dupla embraiagem, é maior e mais confortável. Será que a Renault conseguiu “estragar” o Megane RS?…
Na apresentação internacional, em Espanha, já o tinha guiado em estrada, mas em estradas que conhecia mal e durante apenas uma manhã. Nessa altura, as impressões foram boas, mas por vezes acontece que, quando mais tarde guio o mesmo carro nas minhas estradas nacionais preferidas, as conclusões acabam por ser outras. Por isso estava curioso em guiar o novo Megane RS em terreno conhecido, onde lhe podia colocar questões mais difíceis.

Suceder a um mito

O anterior Mégane tinha uma receita simples mas que fez dele um herói na classe dos desportivos de tração à frente: motor 2.0 turbo possante, suspensão afinada quase como num carro de corridas e uma estrutura rígida. O resultado era um carro eficaz e divertido de guiar, tanto em estrada como em circuito. Passei boas horas ao seu volante, tenho que confessar.
O novo, parte de uma base maior, porque todos os carros crescem e como a nova geração deixou de ter carroçaria de três portas, o RS levou por tabela e também só está disponível em cinco portas. Pergunto-me: haveria clientes para uma carrinha RS?…
O interior também tem mais espaço, mais conforto e mais “tecnologia”, como hoje se chama a tudo o que é “gadget”. Mas lá estão os bancos desportivos, com tanto apoio lateral que chega a ser difícil sair de lá. Não que haja muita vontade de largar o volante. A posição é melhor que no anterior RS, com o volante mais ajustável e a coluna de direção menos inclinada.

Uma EDC como deve ser

A versão que guiei tinha a caixa de dupla embraiagem EDC de seis relações, que é suave e civilizada, em cidade. Aliás o que começa por surpreender é o conforto da condução, com uma direção leve e até a suspensão passa pelo mau piso sem atirar o carro ao ar. Claro que o amortecimento é firme (e não é regulável) mas sem ser nunca seco e desagradável. Os travões exigem força. Mas, a verdade é que o novo Megane RS tem um tato mais “caro”, mais sofisticado que o anterior, o que deixa logo a dúvida: será que se aburguesou?
Até nas manobras tudo se passa com suavidade e facilidade, seja pelo lado da leveza da direção, pela docilidade da caixa ou pelo reduzido raio de viragem, oferta da direção às rodas traseiras. Mais motivos para desconfiar.
Só havia uma maneira de tirar as dúvidas, ir para as “minhas” estradas nacionais e ver aquilo em que se tornou o Megane RS.

Modo Race e vamos a isto!

Escolher o modo de condução, em estrada seca, não tem dúvida: Race, que desliga o ESP, deixa o acelerador mais sensível e a direção ligeiramente mais pesada. Depois é escolher o modo manual na caixa de dupla embraiagem e começar a disparar patilhadas.
O motor, que agora é o mesmo 1.8 turbo do novo Alpine, continua a ser cheio e forte, sobretudo nos regimes médios. Nos altos, nem por isso. Em reta, em aceleração total, as rodas da frente não têm dificuldade em meter os 280 cv no chão e fazer o Megane RS disparar até aos 100 km/h em 5,8 segundos, com as “shift lights” a acender no painel de instrumentos digital. No monitor central há páginas e páginas de parâmetros para ler, não há é tempo.
A cada patilhada, o motor corta por milésimos e o escape “embrulha-se”, a cada levantar de pé, dispara uns sonoros “ratéres” para o ar. É só ruido, não acrescenta nada, a não ser um ambiente que mais parece estar ao volante de um WRC, em plena classificativa.

A parte boa é que o temperamento não se fica pela eficácia. Há aqui um potencial de “brincadeira” muito considerável

As primeiras entradas mais rápidas em curva, mostram que, afinal, foram feitas muito devagar. Repito o exercício e a subviragem continua a não chegar. Em modo Race, as rodas traseiras continuam a virar ao contrário das da frente até aos 100 km/h, o que dá uma agilidade incrível em estradas sinuosas de segunda e terceira velocidade. Claro que, exagerando muito, o Mégane RS lá começa a sair de frente, mas de uma maneira fácil de recuperar, basta levantar o pé direito. A parte boa é que o temperamento não se fica pela eficácia. Há aqui um potencial de “brincadeira” muito considerável. Basta atrasar a travagem para o momento em que já se está a virar o volante, para mandar a traseira numa deriva que pode ser pequena ou maior, de acordo com o gosto do condutor. É daqueles carros em que se pode fazer a curva quase toda com o volante direito, só com a traseira a deslizar e a apontar a frente para a saída. Quando chega a altura de acelerar a fundo, mesmo sem o autoblocante da versão Cup, a tração é muito boa, mas são os pneus que acabam por ceder, quando o ritmo é alto a a aderência do asfalto é boa. Na verdade, são também os pneus que deixam a traseira rodar desta maneira, se fossem melhores obrigariam a aumentar a velocidade para ter sensações semelhantes.

Conclusão

Para grande alívio meu, confirmei em território caseiro as impressões que tinha tido quando guiei o Megane RS pela primeira vez, em Espanha. De todas as qualidades que o carro tem, a que mais me impressiona é a calibração do sistema de direção às rodas traseiras 4Control: o resultado do seu trabalho é excelente, sem que o funcionamento o faça sentir artificial.

Potência: 280 cv
Preço: 38 272 euros
Veredicto: 4,5 estrelas