Renault Arkana

A suspensão é firme, sobretudo no mau piso

Perfil coupé é único entre as marcas generalistas

Faróis em "C" são imagem de marca da Renault

Estão disponíveis jantes de 17 e 18 polegadas

O Arkana tem 200 mm de altura ao solo

Desenho original do portão traseiro

Ambiente conhecido de outros modelos da marca

Volante desportivo no R.S. Line

Painel de instrumentos digital

Caixa multi-modo automática

Linha coupé não penaliza espaço atrás

Mala tem 513 litros de capacidade

Sistema E-Tech "full hybrid"

Nasceu na Rússia em 2019, mas teve tanto sucesso que a Renault trouxe o Arkana para a Europa. Na verdade, a história deste SUV-Coupé que “imita” os premium é mais complicada do que isso…

 

A ideia de fazer um SUV coupé do segmento “C” para enriquecer a gama da Renault parecia perfeita para o mercado Russo, onde o segmento tem forte presença e tudo o que tenha aspeto premium desperta a atenção dos compradores.

O Arkana era isso mesmo: um SUV do segmento C com perfil coupé a “imitar” modelos do género fabricados por marcas premium.

Só havia um problema, para as condições meteorológicas e para a rede viária local, uma opção 4×4 era fundamental. Por isso a escolha foi para a plataforma BO, a mesma que serve de base ao Dacia Duster.

Só que o modelo despertou tanto interesse mais a Sul que a Renault decidiu trazer o Arkana para a Europa.

Mas aqui aparecia outro problema: a plataforma BO não tem o grau de sofisticação que se tornou obrigatório neste segmento, na Europa. Nem consegue atingir as cinco estrelas nos testes EuroNCAP, algo de que a Renault não abre mão.

Da Rússia para a Europa

A solução foi procurar outra plataforma e a escolha foi para a CMF-B, a mesma do Clio e Captur. Ou seja, o Arkana, modelo do segmento C, é feito com base numa plataforma até aqui usada para modelos do segmento B. Porquê?…

A resposta é simples. Por um lado, a CMF-B tem todas as funcionalidades que a Renault queria para o Arkana, em termos de versatilidade, eletrificação e ajudas à condução que totalizam doze funções e lhe dão as cinco estrelas EuroNCAP. Por outro lado, é mais barata de produzir do que a plataforma do Mégane, que seria a escolha natural.

Sendo assim, o Arkana (4568 mm de comprimento) posiciona-se acima do Captur e ao lado do Kadjar, na oferta SUV da marca, reforçando assim a sua presença no segmento “C”, que é uma das grandes prioridades da Renault para os próximos anos.

“Made in” Coreia do Sul

Mas a história do Arkana não acaba aqui, pois o modelo destinado à Europa não é fabricado na Europa, mas pela Renault Samsung Motors, na Coreia do Sul, partilhando tudo com o modelo homólogo da marca local, o XM3.

Entre os dois Arkana (o europeu e o russo) apenas o painel do tejadilho é igual, tudo o resto muda. Mas o estilo é muito semelhante, com uma frente genérica Renault a que se seguem pilares dianteiros bastante inclinados, um tejadilho baixo e uma traseira com farolins próprios.

Um ar de SUV “a sério”

Os 200 mm de altura ao solo e as jantes de 17” (18” em opção) dão ao modelo uma pose de SUV “credível”, apesar de não existir uma versão 4×4 e de a suspensão traseira ser de eixo de torção, como no Captur.

Mas a distância entre-eixos é 76 mm maior, o que se percebe de imediato ocupando os lugares da segunda fila: o espaço para pernas é amplo e mesmo a altura só é penalizada pelo tejadilho coupé na altura de entrar e sair do carro.

A mala tem uma capacidade de 513 litros (480 litros nas versões híbridas) mais 91 litros que o Captur e apenas menos 14 litros que o Kadjar. O aumento de peso face ao Captur é de 15 kg.

Ambiente conhecido

No habitáculo, encontra-se a mesma hierarquia de materiais do Captur, com plásticos macios apenas no topo do tablier e das portas da frente; o ecrã central pode ser de 8” ou 10”, mas, no início, apenas o mais pequeno estará disponível, devido à crise dos semi-condutores que afeta toda a indústria e de que escrevi na última Crónica à 6ª feira, que pode ler aqui:

Crónica – Falta de “chips” encolhe listas de opcionais

Pela mesma razão, o carregador por indução do smartphone também não estará disponível para já.

Ao volante

A versão que guiei foi o R.S. Line, com bancos e volante revestidos a Alcantara, acabamentos em imitação de fibra de carbono, frisos específicos e iluminação com várias cores. Um ambiente desportivo que fica bem ao Arkana.

A posição de condução é boa, o banco é confortável e tem bom apoio lateral; o volante tem regulações suficientes e está razoavelmente bem posicionado. O painel de instrumentos é digital com 9,3” e a leitura é fácil.

O ecrã central é o conhecido do Captur, com disposição vertical e um friso de botões de plástico com alguns atalhos úteis, como o dos modos de condução. A visibilidade não perde muito com o tejadilho mais baixo. A consola tem pouca arrumação.

Versão E-Tech de 145 cv

Este primeiro teste decorreu entre Oeiras e Melides, usando autoestrada e longas retas de estrada nacional com pavimento por vezes muito (e mal) remendado. A motorização foi o E-Tech Hybrid, o “full hybrid” já conhecido de outros modelos da marca, com 145 cv de potência combinada.

Este valor é conseguido juntando um motor 1.6 atmosférico de 94 cv a gasolina, um motor elétrico de 36 cv e um motor/gerador de 15 cv.

Tudo combinado pela original caixa de velocidades “multi-modo” da Renault, que tem um máximo teórico de 15 relações diferentes, entre as relativas ao motor elétrico e as do motor a gasolina.

Elétrico e suave

Suavidade no arranque em modo elétrico é a primeira impressão deste sistema híbrido em paralelo, capaz de circular em cidade 80% do tempo em modo zero emissões locais. A resposta a baixas velocidades é boa, com o contributo do motor elétrico a ser fácil de perceber.

Há um modo “B” de maior intensidade na regeneração, que sobe claramente a retenção quando se desacelera, sem dispensar a utilização do pedal de travão, mas com uma boa rapidez de recarga da bateria de 12 kWh.

O amortecimento e os pneus 215/55 R18 mostraram firmeza excessiva em mau piso, mas só a andar devagar. Quando se aumenta o ritmo, tudo ganha uma melhor consistência. A direção também se dá melhor com gestos mais decididos, mostrando alguma falta de tato no ponto neutro.

Os modos e a caixa

Há três modos de condução: My Sense, Sport e Eco. O primeiro é o equivalente ao normal e gere tudo segundo o algoritmo do sistema, dando prioridade ao modo elétrico, sempre que possível. Em cidade, a resposta do sistema é pronta e suave. A aceleração 0-100 km/h é anunciada em 10,8 segundos.

Em autoestrada, sobretudo nas subidas, a caixa pode começar a fazer mais reduções do que parece necessário, subindo as rotações do motor a gasolina e aumentando o ruído. Isto acontece em modo Sport, mais que nos outros, mas os consumos parece não serem afetados, tendo registado 6,0 l/100 km.

Em estrada, parece existir uma “barreira” aos 120 km/h. Abaixo, o sistema comporta-se de forma mais linear e confiando mais na componente elétrica. Acima, as passagens automáticas da caixa tornam-se mais lentas e o sistema mais preguiçoso.

Nas poucas curvas do percurso, o Arkana pareceu ter razoável controlo dos movimentos da carroçaria, com o controlo de estabilidade a entrar em ação relativamente cedo, como se espera num SUV. Claro que o condutor tem pouco controlo do que se passa, pois o sistema não pode ter patilhas no volante para a caixa.

Conclusão

O Arkana não tem uma versão Diesel, além deste E-Tech de 145 cv (35 200 euros) há um 1.3 TCe micro-híbrido de 12V e 140 cv (31 600 euros), ficando para mais tarde os TCe de 140 e 160 cv. Tanto na Rússia como na Coreia do Sul, a procura dos dois Arkana tem sido grande, esperando a Renault que o mesmo aconteça na Europa e em Portugal. Uma coise é certa, face ao Kadjar, o Arkana tem um apelo emocional muito maior e sabemos como isso é importante, na altura de comprar automóvel.

Francisco Mota

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