As patilhas da caixa de velocidades tornaram-se quase banais. Desde que a caixa não seja manual, elas lá estão, para dar aquele toque desportivo. Mas quantas vezes as usa?…

 

As caixas de velocidades com patilhas apareceram pela primeira vez nos Fórmula 1, no final dos anos oitenta. Uma ideia genial para resolver um problema com que todos os pilotos se deparavam na altura.

Com o aumento da carga aerodinâmica, as forças a que o piloto estava sujeito eram cada vez maiores. Tanto as que sentia no pescoço, durante as curvas mais rápidas, como a força que tinha que fazer com os braços, para virar a direção, que ficava cada vez mais pesada. Ainda estavam longe as primeiras direções assistidas…

Manuais davam trabalho

De cada vez que um piloto tinha que largar a mão direita do volante para meter uma mudança na caixa manual, obrigava o braço esquerdo a trabalho redobrado e perdia sempre alguma precisão na condução.

Tudo isto era ainda pior porque as caixas manuais dos fórmulas nunca foram um exemplo de facilidade de utilização, por uma razão simples: da alavanca, posicionada no centro do carro, até à caixa, na extremidade traseira, vai uma distância considerável, tornando o trabalho dos tirantes e dos cabos, que ligavam uma coisa à outra, muito complicado e pouco preciso.

Patilhas na Fórmula 1

A ideia genial de montar uma caixa sequencial num Fórmula 1 e colocar duas patilhas no volante para o piloto fazer as passagens, foi da Ferrari que a estreou no 640 em 1989, ganhando a sua primeira corrida.

Os italianos foram imediatamente seguidos por todas as outras equipas da Fórmula 1. De um momento para o outro, tudo ficava mais simples e a condução de um Fórmula 1 deu um salto como não dava há muitos anos.

A transferência das caixas verdadeiramente sequenciais para os carros de estrada, nunca aconteceu, porque eram, e são, demasiado bruscas para ser usadas no dia-a-dia.

Melhores para a ergonomia

Mas isso não impediu que o conceito ergonómico das patilhas chegasse aos carros de produção em série, mas só oito anos depois.

Com a introdução das caixas manuais robotizadas, nas quais a embraiagem não é comandada pelo condutor, surgiu a oportunidade perfeita para introduzir as patilhas.

O condutor de um carro normal podia agora ter algumas das sensações de um piloto de F1, mas só algumas, pois a rapidez das passagens de caixa das primeiras unidades robotizadas de embraiagem simples, era tudo menos fulminante.

Um bom condutor, conseguia ser igualmente rápido com uma caixa manual. A estreia das caixas com patilhas nos carros de estrada coube também à Ferrari, com o 355 F1 de 1997.

Casamento perfeito

Quando as caixas de dupla embraiagem chegaram ao mercado, as patilhas ganharam um novo interesse, era o casamento perfeito. Agora os tempos de passagem de caixa já eram realmente muito curtos – menos de um décimo de segundo – e até podiam ser totalmente suaves.

Isto se os construtores não tivessem optado por software de mudanças mais brusco, sobretudo nos modos mais desportivos, para impressionar os clientes.

E as caixas Tiptronic?…

Em paralelo, a Porsche percebeu que também podia dotar as suas caixas automáticas de conversor de binário com patilhas. Na verdade, no 911 da geração 993, eram botões no volante das versões equipadas com as caixas Tiptronic. Foi preciso muito tempo e os clientes pedirem até aparecerem as verdadeiras patilhas na Porsche.

Depois chegaram as caixas de dupla embraiagem, as famosas PDK que a marca andava a testar nos carros de corridas de resistência desde os anos oitenta. Mas nessa altura, faltava a eletrónica para tornar tudo viável nos carros de produção.

Patilhas em tudo

Hoje, há patilhas em todas as caixas que não sejam manuais: nas de dupla embraiagem, nas automáticas de conversor e até nas CVT de variação contínua.

Nas CVT é um artificialismo puro, pois as “mudanças” são apenas posições pré-determinadas no mecanismo de variação contínua. É uma maneira de desviar a atenção da “banda sonora” típica dos motores com caixas CVT: aquela subida de regime contínua, que não agrada aos ouvidos.

Mas é um contra-senso, face ao objetivo das CVT, que é oferecer uma mudança contínua e sem interrupções da relação de transmissão.
A verdade é que as patilhas da caixa estão por todo o lado, mas será que os condutores realmente as usam?…

São só um “brinquedo”?

Quando o sistema é novidade para o condutor, a curiosidade leva a experimentar as patilhas para ver como funcionam e para tornar uma ou outra aceleração mais emocionante.

Mas o mais comum é o condutor deixar de as utilizar, quando a “brincadeira” já não é novidade, e confiar à gestão automática da caixa esse trabalho.

No máximo, é possível que usem as patilhas numa descida íngreme, para escolher uma relação mais curta e ter a sensação do travão-motor.

E, hoje, as caixas com comando automático, seja de que tipo forem, estão cada vez melhores: mais suaves, mais “inteligentes” e até ajudam a poupar combustível. Em teoria, podem também ajudar a aumentar a fiabilidade.

Úteis nos desportivos…

As exceções à regra são sobretudo os condutores de carros desportivos, para os quais as patilhas acabam por ser realmente uma ajuda, quando se quer extrair o máximo da condução.

Uma redução feita precisamente na altura em que o condutor deseja ou uma passagem a subir antes do tempo normal, para garantir a tração e aproveitar o binário, são apenas duas situações em que as patilhas se tornam realmente úteis.

… e úteis nos SUV

Mas não são só os desportivos que ganham com as patilhas. Por exemplo os SUV, quando guiados fora de estrada, podem ter aqui um bom auxílio.

Em situações muito específicas de condução “off-road” pode ser benéfico dar ao condutor a possibilidade de ser ele a escolher a relação mais apropriada, em vez de deixar a responsabilidade à caixa automática.

Mas as patilhas também podem ser um aliado dos condutores que querem reduzir os consumos ao mínimo possível, podendo escolher o momento das passagens de forma a deixar entrar para o motor a menor quantidade possível de combustível.

Conclusão

Em termos ergonómicos, as patilhas das caixas de velocidades foram uma evolução extraordinária no mundo da competição automóvel, não só na F1. Para os carros do dia-a-dia, são sobretudo um “brinquedo” para os condutores mais entusiastas pela condução.

São uma real vantagem para os desportivos, mas nem todos gostam delas. Por alguma razão a Porsche voltou a disponibilizar uma caixa manual no seu desportivo 911 GT3, depois de uma fase em que o modelo só era vendido com caixa de dupla embraiagem e patilhas.

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