Heresia! Gritaram os incondicionais do Mustang, o coupé desportivo mais vendido do mundo, um ícone com 55 anos. Mas agora há um novo Mustang, o Mach-E, com formato SUV e motor elétrico. Objetivo: bater a Tesla.

 

Nem todos gostam da Tesla, do desenho dos seus carros ou da personalidade do seu carismático líder, Elon Musk.

Há uma legião de fiéis, disso ninguém tem dúvidas, mas também há quem não aprecie a ideia de comprar um carro elétrico de linhas invulgares, habitáculo minimalista e, sobretudo, bastante caro.

É para esses que a Ford projetou o Mustang Mach-E, que se antecipa aquele que deverá vir a ser o Tesla mais vendido de todos, mas que ainda não foi apresentado, o SUV com base no Model 3, que se vai chamar Model Y.

Para conseguir esse objetivo, a Ford fez duas coisas essenciais, por um lado, ouviu os seus clientes em vários inquéritos confidenciais.

E depois decidiu arriscar a utilização do nome Mustang, sabendo que iria ser alvo de críticas dos muitos fãs do icónico desportivo.

A estratégia certa?

Mas era a única estratégia que poderia resultar com a Ford. É a maneira de acrescentar uma face emocional a um carro elétrico que, de outra maneira, seria totalmente racional e provavelmente enfadonho. Alguém iria deixar de comprar um Tesla para comprar um Mondeo SUV elétrico?…

Estive em Los Angeles para a apresentação mundial do Mustang Mach-E e pude ver de perto o resultado de cinco anos de trabalho dos engenheiros da Ford.

O estilo está à vista e é feito de detalhes “roubados” ao Mustang coupé, como o formato da falsa grelha, dos faróis, dos farolins traseiros e até dos “ombros” sobre as rodas de trás.

A silhueta é a de um SUV coupé, a fazer lembrar o Alfa Romeo Stelvio, quando visto de lado. Com 4,7 metros de comprimento, está alinhado com os rivais Audi e-tron, Mercedes-Benz EQC e Jaguar I-Pace. Mas não é um modelo premium.

Não é um premium

Ainda sem ter definido os preços para Portugal, o valor de referência para a Europa é de 45 000 euros, bem abaixo destes outros SUV elétricos.

A Ford queria fazer uma plataforma exclusivamente elétrica, o mesmo conceito do I-Pace, não do e-tron ou EQC, que adaptaram uma plataforma feita para motores térmicos.

Isto porque se ganha entre 30 a 40% no espaço disponível para colocar uma grande bateria sob o habitáculo.

Mas a Ford também queria limitar os custos, por isso fez a plataforma em aço e não em alumínio. Este material, mais caro, só o usa no capót e guarda-lamas da frente.

Também deixou de fora a suspensão pneumática, optando por molas e amortecedores convencionais, só a versão GT, mais potente, tem amortecedores ajustáveis magnéticos.

Habitáculo não é minimalista

Também no habitáculo há este equilíbrio, entre a presença do obrigatório monitor central tipo tablet, com 15,5” (maior que o do Tesla Model S) e a qualidade dos materiais empregues, quase todos duros, apesar de terem bom aspeto.

O espaço a bordo é bom em comprimento, mas o banco traseiro foi pensado para dois, não para três. À frente, há espaço e uma boa posição de condução.

A Ford ouviu os clientes, como disse, e uma das coisa que eles disseram foi que não queriam ter que aprender a lidar com um novo interface. Por isso o “tablet” central não tem menús escondidos, está tudo à vista e fácil de encontrar.

E os clientes também disseram que não gostavam de minimalismo, por isso continuam a existir botões no volante, um comando rotativo para a transmissão, colocado na consola e um painel de instrumentos, atrás do volante.

Tal como nos Tesla, o Mach-E também tem duas malas, a de trás com 402 litros e uma à frente, com 100 litros. Esta é feita de plástico lavável e até tem um ralo no fundo, para escoar a água no final.

Três modelos e cinco versões

O Mach-E vai estar disponível numa gama de três modelos base, que se desdobram em cinco versões, quando se começam a combinar as duas baterias disponíveis e as versões de tração atrás ou às quatro rodas.

O ponto de partida é o modelo de tração traseira, que usa um motor de 210 kW colocado entre as rodas e uma bateria de 75,7 kWh. Anuncia 258 cv e uma autonomia de 450 km.

Mas pode receber a bateria maior de 98,8 kWh, que aumenta a potência para os 285 cv e a autonomia para os 600 km.

Depois há uma versão 4×4, com um segundo motor de 50 kW para as rodas da frente que pode ser equipado com a bateria mais pequena, para obter 258 cv e 420 km de autonomia, ou com a bateria maior e fica com 337 cv e 540 km de autonomia. Este segundo será o First Edition, o primeiro a ser lançado.

Por último, o GT Performance tem dois motores de 210 kW para uma potência máxima de 465 cv e 500 km de autonomia, anunciando a aceleração 0-100 km/h em “menos de cinco segundos”.

Carrega a 150 kWh

Quanto a tempos de recarga, a Ford, como uma das fundadoras da rede Ionity – que anunciou 400 postos rápidos (até 350 kWh) instalados na Europa até final de 2020 – aconselha este processo de carga.

A bateria carrega em postos até 150 kWh e, nessas condições, acumula 100 km de autonomia em 10 minutos, o que equivale a 45 minutos para uma carga completa da bateria mais pequena.

Numa tomada doméstica não faz mais de 50 km de autonomia em três a quatro horas. O que equivale a dizer que demora dois dias a carregar a bateria dos 0 aos 100 %.

Vendas online

A venda do Mustang Mach-E será feita online, as reservas já começaram, mas apenas para os EUA e seis mercados do Norte da Europa, aqueles em que os EV mais se vendem.

Cada cliente tem que avançar uma caução de 1000 euros. Mas Portugal está na segunda onda do lançamento, esperando-se que as encomendas comecem no final de 2020, com as primeiras entregas estimadas para início de 2021.

Conclusão

É uma revolução para a imagem do Mustang, apesar não substituir o icónico coupé e descapotável com motores a gasolina, que continuará a ser vendido.

Pode parecer chocante que a Ford tenha usado este nome para um SUV elétrico. Mas o mercado dirá se foi uma boa ideia ou não. Na minha opinião, tem tudo para dar certo, pois o seu alvo não são os entusiastas dos Mustang tradicionais, são os compradores de carros elétricos.

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