O Presidente da Federação Internacional do Automóvel, Jean Todt, confiou ao Polo Storico da Lamborghini o restauro do seu clássico Miura. No recente salão Rétromobile em Paris, Todt recebeu as chaves de um carro em (muito) melhor estado do que se fosse novo.

Há restauros e restauros, uns feitos por “jeitosos” num qualquer barracão dos subúrbios e outros por técnicos reputados, em ateliers climatizados. E depois há os restauros dos departamentos de clássicos das próprias marcas, as que produziram o modelo quando ele era o último grito da moda.

Polo Storico

É o caso do Polo Storico da Lamborghini, criado em 2016 e que se dedica ao restauro de modelos clássicos da marca, todos os que foram fabricados até ao Diablo. Este departamento faz também a gestão dos arquivos da marca e a reprodução de peças antigas, que já não existem em stock. Os proprietários de Lamborghini antigos ficam gratos, mas não se pense que a marca, propriedade do grupo VW, faz isto como manobra de charme ou de marketing. É mais um ramo de negócio que, antes de existir o Polo Storico, era explorado por muitos especialistas (com e sem aspas) independentes.

Restauro & marketing

Em muitos casos, supõe-se que o sigilo seja uma das exigências dos proprietários, quando se dispõem a gastar milhões num restauro de um carro antigo. Mas, no caso do Miura de Jean Todt, tudo foi transformado numa belíssima ação de marketing, a que o presidente da FIA acedeu inclusivamente a dar a sua presença no stand do Polo Storico no Rétromobile, para a entrega pública da chave do seu carro. Quem lhe entregou o carro foi o atual CEO da Automobili Lamborghini, o seu ex-colega, delfim e que chegou a ser sucessor na Scuderia Ferrari, Stefano Domenicali. Certamente um bom negócio, para ambas as partes.

A história deste Miura

A história deste Miura foi agora contada pela marca e tem as suas curiosidades. Trata-se de um Miura SV, a versão mais potente produzida em série, lançada em 1971 e fabricada em apenas 150 unidades. Tinha 385 cv extraídos do V12 central transversal de 3.9 litros e atingia os 300 km/h, segundo os dados oficiais.
Esta unidade saiu da fábrica de Sant’Agata Bolognese em 11 de Novembro de 1972 e recebeu o número de chassis 3673, um número que já tinha sido atribuído a um outro Miura S de 1968, que ficara totalmente destruído num acidente. Este é um daqueles detalhes que poderia criar a confusão em alguns historiadores, mas que o Polo Storico, com acesso aos arquivos da marca, terá esclarecido sem margem para dúvidas, atribuindo assim o seu selo de autenticidade.

Um número, dois chassis?…

Nesta altura, era prática frequente usar números de chassis de carros destruídos para novos carros, por vários motivos: por um lado, havia a razão prática de se manter a matrícula e os documentos do modelo original, o que poupava em burocracia e tempo. Por outro lado, em alguns países, a importação de carros novos obrigava ao pagamento de taxas alfandegárias muito elevadas, algo que assim podia ser contornado. Um “esquema” muito latino. Não se sabe se seria este o caso, quando o Miura SV 3673 foi entregue, em finais de 1972, ao seu primeiro dono, o senhor Mecin que residia na África do Sul.

Restaurar em vez de substituir

Quarenta e sete anos depois, o Miura SV, que tinha saído da fábrica pintado de Rosso Corsa com a parte inferior em dourado, chegou às mãos de Jean Todt e do Polo Storico.
Numa primeira avaliação, concluiu-se que o carro estava completo, mas com claros sinais de que as décadas tinham passado por ele.

Os técnicos em Itália desmontaram totalmente o Miura, peça por peça, confirmando todos os códigos e as referências dos vários componentes nos livros de registo do arquivo da marca. Tudo estava em ordem, “matching numbers” como dizem os especialistas, por isso foi possível seguir o lema deste departamento, que é o de dar prioridade à reparação e ao restauro das peças originais, em vez de avançar logo para a sua substituição por peças novas ou recondicionadas.

Melhor que novo

O trabalho de restauro demorou apenas 13 meses e no final, não será exagero dizer que o Miura SV está melhor do que quando era novo. Num restauro com este, tudo é feito com o maior dos cuidados, pois os técnicos sabem que estão a trabalhar num carro que hoje tem uma cotação altíssima, no mercado de carros clássicos.

Pelo contrário, os seus antigos colegas da linha de produção, nos anos setenta, teriam outras preocupações. A prioridade seria certamente fazer o trabalho o mais depressa possível, nem que para isso fosse preciso ir buscar o maço e aplicar uma ou duas marretadas certeiras em alguma peça que se mostrasse mais teimosa em ocupar o seu lugar no Miura.

Conclusão

As fotos que pode ver, feitas em alguns dos locais mais emblemáticos de Paris após o restauro, mostram a excecional condição a que o Miura SV chegou, sendo só por si uma fonte de prazer para os olhos de quem gosta de clássicos e do Miura em particular. Para Jean Todt, que coleciona automóveis clássicos, é a certeza de possuir uma peça realmente única, com um inegável potencial de valorização. E só o posso felicitar por, ao contrário do que alguns fazem ao Jaguar E-Type, não ter cedido ao politicamente correto e não ter dado ordem para substituir o V12 por um motor elétrico e uma bateria.

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