É um sucesso de marketing, mas a verdade é que ninguém sabe se a Mini alguma vez deu lucro, desde que foi comprada pela BMW. O Grupo BMW não revela resultados financeiros das suas marcas em separado, por isso, fora da companhia, ninguém sabe se a Mini alguma vez deu lucro. Que se trata de um fenómeno de marketing, disso ninguém tem dúvidas, desde que a marca foi relançada pela BMW em 2001. Foi a primeira a oferecer um produto premium no segmento dos utilitários e a primeira a disponibilizar aquilo que hoje muitos copiam: a personalização do automóvel, com base em múltiplas escolhas de cores e de opcionais. Quando a primeira geração do novo Mini foi lançada, o mercado reagiu muito bem a esta reinterpretação do Mini original, que teve uma longa carreira de 41 anos. Apesar de o conceito dos dois modelos ser completamente o oposto.

Escalada social

O Mini original, era um automóvel 100% racional, destinado a oferecer aquilo a que hoje se chama mobilidade, a uma franja do mercado que, de outra maneira não teria acesso a um automóvel novo. O Mini “by” BMW surgiu como um utilitário “fashion”, mais caro e mais sofisticado que os outros modelos do mesmo tamanho.
Cedo se tornou claro que a marca não iria sobreviver com apenas um modelo e foi estabelecido um plano de lançamentos: descapotável, Clubman, Countryman, Roadster, Coupé, Paceman juntaram-se ao hatchback de três portas para formar uma gama de sete modelos. O problema é que todos esses modelos se situavam, mais ou menos, no mesmo segmento. Por isso, muitos dos compradores que aderiram a esta primeira geração, com o crescimento das suas próprias famílias, ficaram sem opções na gama Mini e saíram para outras marcas. A BMW esperava que essa transferência de clientes se fizesse para os BMW Série 1, mas a maioria dos clientes entusiastas pela Mini não se revia na imagem conservadora da BMW e fugia para outras marcas.

Tudo repensado

Do lado da produção, a fábrica inglesa de Oxford também não conseguia reduzir os custos, sobretudo quando tinha variantes tão específicas como o Roadster, Coupé e Paceman, que vendiam muito pouco para serem rentáveis. No final da segunda geração, foi decidido repensar a marca, abandonando esses três modelos. A terceira geração do Mini de três portas levou a um relançamento da marca em 2015, que passou por uma reorganização da oferta em duas vertentes, dividindo os modelos por duas plataformas.

Os pequenos são feitos com base na plataforma UKL1, ou seja, o três portas e o cinco portas. os maiores têm por base a plataforma UKL2, ou seja, o Clubman e o Countryman.

Este dois últimos modelos foram particularmente significativos a vários níveis. Em primeiro lugar, porque trouxeram a Mini para o segmento “C”, oferecendo agora aos seus clientes dois modelos que podem perfeitamente ser usados com o único ou o principal carro da família. Em segundo lugar, mas sendo realmente a razão mais importante, estes modelos partilham a plataforma com os BMW Série 2 Active Tourer e, num futuro muito próximo, a UKL2 servirá de base também ao próximo Série 1 de tração à frente. Acresce a isto a partilha de motores entre a Mini e a BMW, o que não acontecia no início, quando a Mini começou por usar motores Chrysler a gasolina, Toyota Diesel e PSA.

Às mil maravilhas

Fontes da Mini dtêm vindo a dizer que está tudo a correr bem. As vendas em 2016 registaram um valor recorde desde que a BMW pegou na Mini, de 360 000 unidades e o total de Mini produzidos destes últimos 16 anos já ultrapassou os quatro milhões de unidades, muito próximo dos 5,4 milhões que o Mini original vendeu durante quatro décadas.
No último salão de Frankfurt, a marca mostrou um protótipo do seu Mini elétrico, com data de lançamento marcada para 2019, isto depois de já ter tido um projeto piloto de um modelo deste género. A marca parece querer apostar cada vez mais no “car-sharing” preparando inovações a este nível, de forma a integrar ambas as tendências da melhor maneira. Mas trata-se de duas áreas em que ainda está por provar que se possa realmente ganhar dinheiro suficiente para os investimentos necessários, sobretudo para quem começa agora.

Parceria com a Great Wall?

Só que começam a aparecer notícias de que não é bem assim. Aparentemente, a BMW começa a pensar que o volume de produção da Mini não é satisfatório, para os custos de produção. Só isso justifica as notícias que surgiram de que os alemães estão a estudar uma parceria com os chineses da Great Wall para a partilha de uma nova plataforma, mais pequena e mais barata que as UKL. A ser assim, o Mini até podeia passa a ser produzido (também) na China, um mercado onde a marca identifica um potencial ainda por explorar, sobretudo no que aos elétricos diz respeito.

Conclusão

Ao longo dos anos, tive a hipótese de guiar vários Mini antigos e também todos os que a BMW lançou desde 2001. A BMW sempre colocou a tónica da dinâmica dos seus Mini numa agilidade muito própria, que realmente nunca foi igualada por outros modelos. Ainda hoje, mesmo no Countryman e no Clubman, apesar das suas dimensões muito pouco mini, se pode identificar um tato de condução característico da marca e que faz alusão ao do modelo original. Talvez o mais interessante é que, no Mini original, a dinâmica era apenas um efeito secundário do incrível aproveitamento de espaço que orientava o projeto e que obrigava a que o carro fosse muito baixo e quase quadrado.