02/08/2019 – Os números são arrasadores. O mercado chinês é o maior do mundo, por larga margem e a tendência é para crescer ainda mais. Marca que não vender na China, tem os dias contados.

 

Nunca se viu nada parecido na história da indústria automóvel. Há uns vinte anos, o mercado Norte-Americano era visto como a referência de crescimento e de progresso, com a taxa de carros por habitante a atingir valores nunca imaginados em nenhuma outra parte do mundo.

Só que foram precisas décadas e três grupos gigantescos, bem apoiados e protegidos, para se chegar à realidade do mercado dos EUA nos anos oitenta.

Mas comparar o crescimento do mercado americano com o da China, nem sequer faz sentido, tal é a desproporção entre os dois. Se pensa que estou a exagerar, só para prender a sua atenção e o levar a ler esta crónica até ao fim, posso dizer que está enganado.

Os números da China

Vamos diretamente aos números, para ficar tudo bem claro, começando com a evolução do mercado interno chinês nas últimas duas décadas. Em 1998, venderam-se em toda a China apenas 1,5 milhões de automóveis.

Dez anos depois, em 2008, o mercado chinês já valia 9,4 milhões de carros por ano, mas a linha acelera francamente nos últimos dez anos.

No ano de 2017, foram vendidos na China nada menos do que 28,9 milhões de automóveis! Em apenas nove anos, o mercado chinês de automóveis mais do que triplicou, uma subida como nunca foi visto em nenhum mercado, muito menos num com a dimensão do chinês.

VW líder destacada

Segundo dados oficiais, nos últimos dez anos, foram matriculados na China um total de 236 milhões de automóveis. E nenhum deste carros foi para exportação. Estamos a falar apenas do mercado interno.

O crescimento do mercado foi alimentado pela presença de marcas estrangeiras que se instalaram no território, sempre associadas a empresas locais, a maioria estatais, como manda a lei.

Segundo dados de 2018, a VW lidera o mercado com 3,1 milhões de carros vendidos por ano, ou seja, cerca de um terço das suas vendas globais. Há trinta anos que a VW é a marca preferida dos chineses, na verdade, desde que lá chegou.

Em segundo lugar vem a Honda, com 1,5 milhões e o pódio completa-se com a chinesa Geely, com 1,4 milhões. Se está a perguntar em que lugar está a Toyota, digo-lhe que vem logo em quarto lugar, com 1,3 milhões de carros por ano.

Uma conclusão que se pode tirar desde já é que a dependência da Toyota do mercado chinês é metade da que tem a VW. Se isso é bom ou mau, só o futuro o dirá.

Quantas marcas há na China?

Não se deve esquecer algo fundamental, que os carros vendidos na China são quase todos lá fabricados, alguns especificamente para o mercado local. A VW tem no Lavida o modelo campeão de vendas do país, feito a pensar no mercado chinês.

As marcas de origem chinesa têm aumentado ao ritmo da procura. Há dez anos, conheciam-se apenas 21. Hoje são 91 marcas diferentes, contando apenas com marcas de volume relevante e excluindo marcas novas, que ainda só apresentaram “concept-cars” e também os construtores de veículos que não precisam de carta de condução.

A última estimativa que conheço, diz que, somando tudo isto, facilmente se chegaria a um total de 280 marcas de veículos de quatro rodas registadas na China. Mas penso que ninguém sabe ao certo.

Muitas marcas são de alcance apenas regional, pois a população é tão grande que não é preciso montar um negócio nacional para fazer dinheiro.

Outras marcas são apenas isso, marcas, encomendando a produção dos modelos que vendem aos grupos industriais mais poderosos. Vale tudo…

Cópias estão a acabar

Até há pouco tempo até valia copiar descaradamente qualquer modelo europeu ou americano e invocar o pensamento local de que “a cópia é a mais suprema forma de elogio”.

Mas um tribunal chinês não foi na conversa e condenou o fabricante da mais famosa cópia do Range Rover Evoque. De então para cá, as cópias têm diminuído.

A verdade é que os compradores começam a ser mais exigentes. Se não podem comprar o original, já não querem uma cópia de fraca qualidade.

Começam a preferir artigos mais baratos, mas originais. Isto tem levado ao recrutamento de muitos técnicos e designers que trabalhavam na Europa e EUA, para irem dar nova vida a algumas marcas chinesas.

Mas a China está em queda…

De 2017 para 2018, o mercado chinês caiu 2,7%, o que tem sido atribuído à guerra aduaneira promovida pelo governo dos EUA. Foi a única vez que as vendas desceram, nos últimos 28 anos, na China. Esse é o maior ponto de interrogação sobre o futuro.

Mas se há indicador que mostra bem a margem de progressão que o mercado tem é a taxa de motorização, ou seja, o número de carros por 1000 habitantes. Na China, esse número está hoje nos 144 carros por cada mil habitantes, enquanto nos EUA, a taxa é de 830 carros por cada mil habitantes. Há muito por onde crescer e continuar a subir e a bater recordes.

Se, hoje, o mercado chinês vende 28 milhões de carros por ano, enquanto o dos EUA, o segundo maior mercado do mundo, se fica pelos 17,2 milhões, todos esperam que os chineses comprem ainda mais carros, não menos.

A China lidera também nos veículos elétricos, tanto na fabricação como nas vendas, estimando-se que já este ano os elétricos representem 10% das vendas de carros novos.

Conclusão

A dependência das marcas do mercado chinês não vai parar de crescer, obrigando-as a moldar a sua oferta segundo as preferência locais, o que já começa a acontecer. Só para dar um exemplo, a grelha desmesurada dos novos BMW Série e X7 foi um requisito dos clientes chineses, confidenciou-me uma fonte oficial da marca.

Por tudo isto, não é exagero dizer que o mercado chinês tem as marcas presas “by the balls” como dizem os anglo-saxónicos. Construtor que não investir lá, o mais certo é ter os dias contados.
Francisco Mota

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