15/11/2019 – Nem era preciso um estudo, mas está feito e os números foram divulgados. Mais de 70% dos portugueses usa o smartphone enquanto conduz. O que podemos fazer para mudar isto?…

 

A Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) prepara uma campanha de sensibilização para o não uso do smartphone enquanto se conduz. Algo do estilo da famosa campanha anti-álcool ao volante de há uns anos: se conduzir… não beba.

Neste caso, a língua portuguesa não ajuda: se conduzir… não use o smartphone – não é uma frase tão orelhuda como a antiga, nem dá para inverter. Se beber… não conduza, resultava bem, para quem não se queria privar do néctar dos Deuses.

Mas “se usar o smartphone… não conduza” também não soa bem. Veremos como os criativos vão descalçar esta bota.

O caso, no entanto, não é para brincadeiras. Estamos a falar da segurança ao volante, a de quem prevarica e a dos outros utilizadores da estrada, que facilmente se podem tornar vítimas da voracidade da comunicação de que hoje (quase) todos somos alvos.

Portugal lidera no estudo

Esta semana, foram revelados os resultados de um estudo patrocinado pela Liberty Seguros, realizado em cinco países europeus (Portugal, Espanha, França, Irlanda, Reino Unido) e nos EUA, para um total de 8010 condutores inquiridos.

A primeira pergunta era se os condutores usavam o smartphone enquanto conduziam. Adivinhe a posição de Portugal neste ranking?…

Pois é, estamos em primeiro lugar com 74% dos condutores a confessar que usam o smartphone enquanto conduzem.

A seguir vem a Irlanda e EUA (67%), França (58%), Espanha (55%) e Reino Unido (47%). Comum a todos os países é o dado de que, pelo menos cerca de metade dos condutores usa o smartphone enquanto conduz.

Millennials são os piores

A faixa etária em que isso mais acontece é a dos Millennials, com nada menos do que 83% desses condutores a usar o smartphone enquanto conduz.

Dizem as conclusões do estudo que estes condutores sofrem de uma “doença” a que se chama FOMO (Fear Of Missing Out), o que em português corrente pode ser traduzido como medo de estar a perder alguma coisa.

E quando se fala em “perder”, fala-se de perder a última notícia, a última foto, o último comentário, a última futilidade e tudo aquilo que hoje nos inunda a toda a hora.

A lista das ilegalidades

Exatamente quais são as ilegalidades  que os condutores fazem ao volante é algo muito preocupante e pode ser visto nesta lista:

Ler SMS e chamadas – 69%
Ler notificações – 52%
Ler emails e SMS – 26%
Enviar mensagens audio – 25%
Usar aplicações – 20%
Escrever e enviar emails e SMS – 19%
Usar redes sociais – 18%

Claro que todas estas ações desviam a atenção da estrada e da condução com os resultados a que todos assistimos quando andamos na estrada: carros a ziguezaguear como se o condutor tivesse desfalecido.

Experiências diárias

Falo da minha experiência, já tive algumas vezes que travar, buzinar e atirar o meu carro para a berma enquanto um carro que circulava no sentido oposto se dirigia perigosamente para a minha frente.

Também já tive que me desviar de um carro que circulava na faixa ao lado, no mesmo sentido, quando o senti a aproximar-se exageradamente.

E perdi a conta ao número de vezes em que tive de travar e ficar à espera do que ia acontecer ao carro que seguia à minha frente no tal ziguezaguear suicidário.

O estudo tem mais alguns dados curiosos, o melhor para mim é a típica contradição à portuguesa.

Os números dizem tudo, 37,4% dos condutores admite que fala ao telemóvel segurando-o com a mão. Mas apenas 1,6% diz que acha isso aceitável.

Ou seja, sabe que está a fazer mal, mas faz na mesma. Afinal, em Portugal todos sabemos que os acidentes só acontecem aos outros.

Mãos-livres não é solução

Segundo a PRP, a utilização de sistemas de mãos-livres está longe de resolver o problema, pois o grau de atenção cognitiva que exige é idêntico.

Por isso, os 65,7% de condutores que afirma usar sistemas de mãos-livres, está livre da multa mas não está livre do perigo.

O “vício” de usar o smartphone em todo o lado não conhece barreiras, nem sociais, nem de segurança, como é o caso. Apenas 13% dos condutores portugueses diz que coloca o smartphone fora do alcance enquanto conduz, para não o usar.

O resultado de tudo isto está claro nas tabelas de sinistralidade dos últimos tempos, que voltaram a subir no número de acidentes e de fatalidades.

Apesar de todos os progressos feitos na segurança passiva pelos construtores, isso de pouco serve quando o condutor desiste de olhar para a estrada e se expõe a um acidente muito mais severo do que se for a guiar com atenção.

Como contrariar a tendência?

Contrariar esta tendência não é tarefa fácil. A fiscalização é virtualmente impossível, na maioria das situações.

O apelo à consciência de cada condutor é aquilo a que a campanha que aí vem vai apelar. Mas duvido que tenha algum efeito.

A outra hipótese seria criar sistemas dentro dos automóveis que inibissem o funcionamento do smartphone, mas isso colide com todo o tipo de leis sobre liberdades individuais, proteção de dados e, certamente, de muitas outras de que nem tenho conhecimento.

As ajudas eletrónicas à condução, cuja variedade e disseminação nos segmentos de carros mais acessíveis não pára de crescer, parece ser a única maneira de evitar uma escalada dramática dos acidentes.

Mas até que o parque automóvel circulante passe a dispor de todas essas ajudas, ainda vai demorar muito tempo.

Conclusão

Na verdade, voltamos sempre ao mesmo tema. Desde que o primeiro condutor pode guiar um carro sozinho, utilizando apenas a sua habilidade, o seu bom senso e a sua educação que a principal causa de acidentes foi exatamente a falta disso tudo. Com os condutores que usam o smartphone ao volante, o que se passa é exatamente a mesma coisa.

Francisco Mota

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