Numa altura em que as marcas se atropelam no lançamento de novos híbridos, é interessante olhar para a Lexus. A marca de luxo japonesa apresentou o primeiro dos seus híbridos há 15 anos, que hoje são 99% das suas vendas na Europa. Conheça o “segredo” da Lexus para chegar até aqui.

 

Em muitas áreas, a Lexus é um exemplo de como construir uma nova marca e atingir objetivos de qualidade, inovação e prestígio em muito poucos anos. O primeiro Lexus foi lançado apenas há 30 anos e, hoje, a marca é comparável a outras que têm histórias com mais de um século.

Se a qualidade foi a primeira prioridade, na altura do lançamento da Lexus, em 1989, rapidamente se juntaram outros valores importantes, como o da inovação tecnológica e do estilo.

A Lexus conseguiu criar o seu lugar no difícil mercado das marcas “premium” à custa de uma mistura equilibrada entre qualidade, tecnologia e um estilo diferenciador. Primeiro, conquistou o mercado dos EUA, depois fez o mesmo na Europa.

O SUV RX 400h foi o primeiro

Fundamental para o sucesso da Lexus na Europa foi a entrada no mundo dos modelos híbridos. Aos olhos dos consumidores, tudo começou em 2005, com o lançamento do SUV RX 400h. Mas, para trás, tinham ficado muitos anos de investigação e desenvolvimento.

Como é típico do grupo industrial em que se insere, a Lexus não arriscou lançar no mercado um modelo com uma nova tecnologia, se não tivesse a certeza da sua fiabilidade. Mas surpreendeu muitos concorrentes, que estavam ainda longe de pensar no assunto.

O RX 400h era uma nova versão do modelo RX, que estava no mercado desde 1998, com motores convencionais. Recebeu a primeira geração de motorizações híbridas na Lexus, usando um motor 3.3 V6 com 24 válvulas e 211 cv.

A parte híbrida estava a cargo de dois motores elétricos, um por cada eixo. O motor elétrico da frente complementava o V6 a gasolina fornecendo 167 cv; o motor elétrico do eixo traseiro tinha 68 cv e propulsionava as rodas traseiras.

A potência combinada era de 272 cv, suficiente para fazer os 0-100 km/h em 7,6 segundos, ao mesmo tempo que anunciava um consumo que variava entre os 7,5 e os 9,0 l/100 km.

Para comparação, a versão não híbrida deste motor anunciava 233 cv e consumia entre 9,8 e 13,0 l/100 km, sendo 0,3 segundos mais lenta nos 0-100 km/h.

Sem “plug-in” desde o início

Desde o início que a Lexus pôs de lado a hipótese de carregar a bateria de NiMH de 45 kWh através de fontes exteriores.

O carregamento era feito pela regeneração da travagem, através da patenteada engrenagem epicicloidal, um dos grandes segredos dos híbridos do grupo e que nunca outro construtor utilizou em produção em série.

A segunda geração do Lexus Hybrid System surgiu poucos anos depois. A Lexus percebeu o avanço que tinha sobre a concorrência e não abrandou o desenvolvimento. Em 2007, era lançado o LS 600h.

Um híbrido que parecia um V12

Desta vez, o plano era ainda mais ambicioso, pois em vez de um SUV, a Lexus aplicada o seu sistema híbrido ao seu modelo de topo, a berlina “Luxury Sedan” ou LS.

Pela primeira vez, um motor V8 servia de ponto de partida para este “full hybrid” com cilindrada de 4969 cc, duas árvores de cames por cabeça e 24 válvulas e injeção direta e indireta, debitando 394 cv.

O módulo híbrido incluía um motor elétrico de 224 cv, para uma potência combinada de 445 cv. O objetivo era concorrer com os motores V12 da concorrência, em prestações (0-100 km/h em 6,3 segundos e 250 km/h de velocidade máxima) e em suavidade de funcionamento; mas com um consumo muito mais baixo.

A Lexus anunciava gastos de gasolina entre os 8,0 e os 11,3 l/100 km. Muito mais baixos que os 7,9 a 16,5 l/100 km/h anunciado para a versão a gasolina LS460.

Modo manual da caixa

O próximo passo foi a evolução do RX400h para o RX450h, ao mesmo tempo que era lançado o GS450h, com o renovado V6, agora com 3,5 litros de cilindrada e 248 cv (mais 37 cv) e também dois motores elétricos mais eficientes, fazendo subir a potência total para os 298 cv.

Uma das novidades, por esta altura, foi a introdução de um modo manual de utilização da transmissão, que simula relações fixas, selecionáveis através de patilhas no volante, evitando o efeito sonoro da variação contínua.

A gama dos híbridos Lexus começava assim a ganhar dimensão com modelos disponíveis em três segmentos diferentes. A concorrência continuava a ignorar esta tecnologia.

Democratizar o conceito

Em 2013, surge a terceira geração híbrida da Lexus, com uma clara descida a segmentos mais acessíveis. Com o IS 200h, os híbridos deixavam de ser um exclusivo dos modelos mais elitistas.

O motor a gasolina era agora um quatro cilindros em linha com 2,5 litros e 181 cv, funcionando segundo o ciclo Atkinson, a que era associado um motor/gerador elétrico para atingir os 223 cv combinados.

A aceleração 0-100 km/h era feita em 8,3 segundos e os consumos anunciados ficavam entre os 4,3 e 4,5 l/100 km, praticamente iguais em cidade ou em estrada.

Por esta altura, todos os modelos da Lexus à venda na Europa já tinham recebido uma versão híbrida, com o NX e o RC a serem os modelos mais recentes a entrar no clube, em 2014. Mas ainda faltava uma surpresa, o coupé LC 500h.

O sistema Multi Stage

Lançado em 2017, o LC 500h marcava uma nova evolução do conceito. O motor a gasolina continuava a ser um 3.5 V6, aqui com 300 cv, a que se juntava um módulo elétrico com dois motores, perfazendo uma potência combinada de 359 cv.

Mas a grande novidade era a caixa de velocidades híbrida Multi Stage, que oferecia nada menos que dez relações, sendo apenas quatro delas mecânicas, as outras eram conseguidas com o sistema elétrico.

O objetivo era terminar com o efeito contínuo, sobretudo a nível auditivo, que alguns clientes não apreciavam.

Com aceleração 0-100 km/h em 4,9 segundos, o LC 500h ficava a apenas 0,3 segundos do LC500, que usava um V8 a gasolina de 477 cv.

Novos modelos entretanto lançado, como o NX, claro que receberam versões híbridas, bem como as novas gerações de modelos como o RX e LS. Mas a próxima revolução já estava marcada.

Recorde de eficiência

A quarta geração do sistema híbrido da Lexus foi lançado em 2019, estreada no ES 300h e no UX 250h. Foi projetado para ser usado em duas versões, uma 2.0 de 184 cv, que gasta 4,1 l/100 km, no UX 250h; e outra 2.5 litros de 218 cv, que gasta 5,3 l/100 km, no ES 300h.

O motor elétrico utilizado é mais pequeno, mais leve e com maior densidade de energia, tal como a bateria de iões de Lítio que o alimenta. Todo o sistema é mais compacto, com o motor e gerador colocados em paralelo, para ocuparem menos espaço.

Como aconteceu com a primeira geração, também esta quarta geração foi submetida a testes como só os japoneses têm a determinação de fazer: nada menos de 10 milhões de quilómetros percorridos por uma enorme frota de 60 protótipos.

Mas valeu a pena o esforço, pois esta quarta geração do sistema híbrido atinge uma eficiência como nenhum outro motor conseguiu até hoje, chegando aos 41%, um valor nunca atingido por nenhum motor.

Foi o resultado de inúmeras alterações no motor a gasolina, desde a variação elétrica e inteligente da abertura das válvulas de admissão, uma nova bomba de óleo de capacidade variável, sistema de arrefecimento adaptável e injetores de gasolina com mais orificios.

Elétrico em 50% do tempo

Quando muitas marcas apostam nos PHEV, os híbridos recarregáveis exteriormente, a Lexus mostra, com números, como consegue uma real redução de poluentes com o seu sistema “full hybrid”.

Na verdade, os híbridos da Lexus são capazes de circular até 50% do tempo com emissões zero, seja em modo de roda livre, seja em modo elétrico. Não é só nos arranques e nos primeiros quilómetros que o sistema elétrico move o veículo em exclusivo.

Em muitas situações de trânsito, nomeadamente as mais comuns que se encontram em cidade, como no “para-arranca” ou a circular a velocidade de cruzeiro moderada, o sistema elétrico desliga o motor a gasolina e consegue continuar a mover o “full hybrid”.

Conclusão

Em 2005, a Lexus tinha apenas um modelo híbrido, quando marcas rivais não tinham nenhum. Passados 15 anos, o capital de experiência que a marca adquiriu é incomparável. Hoje, a Lexus está na invejável posição de ter todos os seus modelos hibridizados, de ter deixado de vender motores Diesel e de ter uma imagem de fiabilidade que também passa pelo sistema híbrido. No total, já são mais de 1,6 milhões de híbridos que a marca vendeu em todo o mundo. Na Europa, a adesão dos clientes Lexus aos híbridos é total, com 99% das vendas a ser de modelos híbridos.

Para percorrer a galeria de imagens, clicar nas setas

Ler também, seguindo o LINK:

Lexus UX250h, mas que grande coincidência!