Há 65 anos que a Toyota lançou o seu primeiro todo-o-terreno, aquele que viria a dar origem às sucessivas gerações do Land Cruiser. É muito tempo, muita tradição e muito trabalho, quase sempre feito longe dos holofotes da fama, mas perto das necessidades de muita gente em muitos sítios, alguns de acesso quase impossível.

Enquanto isto se passava, a Land Rover preocupava-se mais em eternizar o Defender, sem saber realmente o que fazer quando não fosse mais possível vender um carro com um conceito que não mudou o que devia, ao logo das décadas.
Talvez o Land Cruiser não tenha uma tribo tão ativa na celebração do seu modelo preferido, como tem o Defender. Mas não são precisos muitos quilómetros para o passar a admirar.

Um dinossauro

Claro que, num mundo de SUV, um TT a sério como o Land Cruiser parece um dinossauro. Desde logo pelas dimensões, pela altura da suspensão, pelas vias estreitas e por um estilo que parece ter sido desenhado há uns 15 anos. Abre-se a porta e lá está a pega no pilar da frente, para ajudar a içar o corpo para cima. O habitáculo é como a carroçaria, parece antiquado, com plásticos dourados (!) e madeiras claras que só quem esteve num hotel de luxo japonês pode entender. Piroso, pode parecer uma palavra pesada, mas é a melhor que consigo arranjar.
Para compensar, o banco é muito confortável e o volante está bem posicionado, apesar de a sua regulação em altura ser por “cliques”, o que é mesmo muito ultrapassado. Vê-se bem para fora, até fizeram uma rampa a meio do capôt para se ver um pouco melhor para diante.

Nem parece um motor novo, um quatro cilindros 2.8 D-4D de 177 cv e 450 Nm de força

Quando se faz arrancar o motor, lá está o “glá-glá-glá” do Diesel, nada disfarçado. Nem parece um motor novo, um quatro cilindros 2.8 D-4D de 177 cv e 450 Nm de força. A caixa é uma automática de seis, sem patilhas porque isso é uma modernice que não tem lugar aqui.
O que tem lugar são os modos de condução para estrada: Eco/Comfort/Normal/Sport S/Sport S+, que são demasiados e, pior que isso, as diferenças entre eles são pequenas, em condução normal. Direção um pouco pesada, para não tornar o carro instável em auto-estrada, e uma suspensão (com amortecedores ajustáveis, autonivelante atrás e barras estabilizadoras ativas) que passa por cima dos buracos das ruas com total desprezo. Lá em cima, os viajantes nem os notam.

Chassis separado

Com chassis de longarinas e travessas, eixo rígido atrás, mas já com braços sobrepostos na frente, o Land Cruiser não perde aquele bambolear típico dos TT antigos (uso sempre a mesma imagem, o leitor que me perdoe se já me viu a escrever isto…) que é como estar em cima de um escadote com alguém a abanar. Nunca há nenhuma sensação de insegurança, é uma espécie de embalo. Que desaparece quando se acelera o ritmo.
Surpreende como as 2,5 toneladas estão tão bem controladas quando chegam as curvas mais apertadas e eu decido não reduzir assim tanto a velocidade. Desde que não provoque a subviragem, nem tente instabilizar a traseira, ou seja, desde que não acorde o alarmista ESP, o Land Cruiser até se deixa levar numa toada bem despachada, mesmo numa boa estrada sinuosa. O ponto fraco é a caixa de velocidades automática de seis relações. Em geral é lenta em modo D, deixa cair as rotações sempre que se desacelera e, em modo manual (com a alavanca) nem sempre obedece. Claro que o motor tem mais força que potência, por isso os 0-100 km/h não baixam dos 12,7 segundos e os consumos dificilmente descem da casa dos 10,0 l/100 km.

Onde estão os obstáculos?

Como acontece com todos os bons TT quando os testo, estou sempre à procura de uma estrada de terra para os experimentar. Depois de uns dias de chuva, encontrei uns caminhos, com algumas passagens pedregosas bem difíceis, daquelas que fazem o fundo do carro roçar no chão; e alguma lama. Redutoras engatadas e o Land Cruiser parece que se agarra à terra como uma lapa a uma rocha. A facilidade, serenidade, precisão e conforto da progressão em solo rochoso é realmente de deixar a boca aberta de espanto.
O próximo passo é procurar obstáculos que exijam usar um dos cinco modos de condução “off-road” disponíveis. E mais ainda os bloqueios dos diferenciais central e traseiro. Não é tarefa fácil, a não ser que se inventem algumas situações para testar o cruzamento de eixos, que é fenomenal: levantar uma das rodas do chão não é frequente. O Land Cruiser dá a ideia que é capaz de passar por todo o lado. Só mais dois dados: a inclinação lateral máxima é de 42 graus e consegue passar ribeiros com 700 mm de profundidade, sem entrar água no habitáculo ou no motor.

Conclusão

Enquanto a Land Rover deixou envelhecer o Defender até já não ter salvação e depois entrou num beco sem saída, do qual ainda não sabemos como de lá vai escapar; a Toyota foi evoluindo o seu Land Cruiser, sem nunca deixar de ser um verdadeiro todo-o-terreno, com as características necessárias para ultrapassar os obstáculos mais difíceis. Esta mais recente versão do ícone japonês mostra que também consegue ser competente no asfalto, ser luxuoso e até levar sete adultos. Claro que tudo isto tem um preço alto, em parte devido às taxas que este tipo de automóveis tem de pagar no nosso país.

Potência: 177 cv
Preço: 110 575 euros
Veredicto: 4,5 estrelas