O português Carlos Tavares, que ocupará o lugar de CEO na futura empresa resultante da fusão entre a PSA e a FCA, começou a falar sobre o futuro. Para já, disse que não vai fechar fábricas, nem retirar marcas do mercado. Será a oportunidade para a Lancia voltar?

 

Não demorou sequer uma semana para que Carlos Tavares, o atual CEO da PSA, que ocupará igual posição na empresa resultante da fusão entre a PSA e a FCA, começar a falar sobre o futuro.

Numa entrevista à televisão francesa, o Português que hoje é considerado o líder mais influente da indústria automóvel europeia, fez algumas declarações esperadas.

A primeira das quais foi que não tenciona fechar fábricas, seja do lado da PSA, seja do lado da Fiat ou da Chrysler. É o seu habitual modo de trabalhar.

Mas não afastou a hipótese de ter que fazer despedimentos, para aumentar a rentabilidade das unidades fabris.

Tendo em conta que algumas das fábricas italianas da FCA estão a trabalhar a 50%, não me admira que o tenha que fazer. Resta saber se conseguirá cumprir a promessa de não fechar fábricas.

Governos Francês e Italiano de vigia

A verdade é que tem os governos Francês e Italiano muito atentos a todas as suas movimentações, pois são parte interessada em todo este negócio.

Os custos sociais da operação vão ter que ser bem pesados e Tavares não tem liberdade para fazer tudo o que entender.

Do seu lado, acena com os 3,7 mil milhões de euros que a nova empresa vai poupar em sinergias de vária ordem, para mostrar que o futuro pode ser risonho, assim todos os envolvidos queiram colaborar.

Mas Tavares disse outra coisa talvez mais interessante, quando afirmou que não tenciona tirar do mercado nenhuma das muitas marcas que vão habitar agora sob o mesmo teto.

Alguns observadores mais conservadores, ou menos atentos, já começaram com o habitual discurso de que algumas das marcas da nova fusão são concorrentes diretas e se vão “canibalizar”, um termo muito usado pelos comentadores.

Menos marcas que a VW

Tavares diz que não, que nem sequer vai chegar a ter tantas marcas como o grupo VW, o que é o melhor dos exemplos.

Ao longo dos anos, todas as marcas do grupo alemão souberam ganhar o seu espaço e expandir-se em diferentes mercados.

Todas, sem exceção, subiram nas vendas ao longo das décadas, apesar de partilharem quase tudo aquilo que o cliente não vê.

Tavares diz que tem sorte, pois todas as marcas do novo grupo têm imensa história, um valor que o português valoriza.

É com a história que se aprende e onde se vai buscar inspiração, diz ele, ou não fosse um reconhecido adepto dos automóveis clássicos.

Entusiasta de clássicos

São bem conhecidas as suas participações no Rali de Monte Carlo histórico, ao volante de clássicos da Peugeot, ou nas pistas, como aconteceu recentemente em Portugal, quando pilotou o famoso Lola “BIP” num evento internacional.

Tavares chega ao ponto de ter estabelecido uma empresa de carros clássicos no nosso país, uma demonstração do seu entusiasmo pelo mundo dos automóveis clássicos.

Por tudo isto, quando afirma que todas as marcas agora à sua disposição têm imensa história e que isso é um valor acrescentado ao negócio, muitas hipóteses se abrem.

A oportunidade da Lancia?

A mais incerta, imprevisível, difícil mas também a mais desejada, ansiada e potencialmente mais frutuosa seria o regresso da Lancia aos mercados internacionais, com uma gama completa de modelos.

A FCA colocou a Lancia em “coma induzido”, quando a retirou de todos os mercados, exceto do italiano, onde vende apenas um modelo, o Ypsilon.

A notícia recente de que, mesmo assim, a produção do Ypsilon ultrapassa a produção atual de todos os modelos da Alfa Romeo somados, mostra que a Lancia não está em “paragem cerebral”.

Tavares não será insensível ao potencial da Lancia. Quando era mais jovem, assistiu aos incontáveis sucessos do Integrale nos ralis do campeonato do mundo. E isso não poderá deixar de lhe dar ideias sobre o que poderá fazer com a Lancia.

Seguir o exemplo da VW

A exemplo do que aconteceu no grupo VW, no qual muitas marcas foram reanimadas e se tornaram em sucessos de vendas, sem paralelo nas suas respetivas histórias, também no novo grupo PSA/FCA isso poderá e deverá acontecer.

O plano não é olhar para os volumes de produção atuais, fazer as somas e ficar contente.

O plano é expandir cada uma das marcas, com base na redução de custos que este novo grupo permite. Tavares quer liderar o primeiro grupo mundial, não o quarto.

Conclusão

Por isso, digo eu, a Lancia volta a ter uma hipótese real de renascer. O maior custo nem vai ser técnico ou industrial, mas sim de marketing.

Para a minha geração, isso nem seria preciso, mas para aqueles que olham para um Integrale como um clássico, que só conhecem dos vídeos da Internet e dos jogos de consola, será necessário um pouco mais de trabalho.

Imaginar é fácil. Que tal um novo Lancia HF Integrale, com uma motorização híbrida, para começar, com mais de 400 cv e capaz de bater um Mercedes-AMG A45 S?…

Francisco Mota

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