Um milionário inglês da petroquímica queria continuar a fabricar o antigo Defender, mas a Land Rover não deixou. Por isso decidiu fazer o seu próprio 4×4 e adivinhe onde foi buscar inspiração. Entretanto a Covid-19 levou-o a desistir da fábrica em Portugal. Saiba porquê.

 

O Ineos Grenadier 4×4 tem sido notícia em Portugal sobretudo porque o grupo industrial do qual faz parte anunciou a construção de uma fábrica em Estarreja. Daí iriam sair componentes para a carroçaria e “chassis” do novo modelo.

As previsões da Ineos apontavam para um potencial de criação de 500 novos empregos em Portugal, mas tudo isto foi cancelado.

Porque a Ineos desiste de Portugal

A Ineos diz que, face às previsões de quebra de vendas de automóveis de 20 a 30%, devido à Covid-19, teve que redimensionar a sua operação e a fábrica em Estarreja deixa de ser necessária.

Segundo o Ineos, o Grenadier será feito inteiramente numa fábrica já com experiência de fabricação de automóveis, não numa nova fábrica que estava previsto ser construída em Bridgend, País de Gales.

Na mesma localidade, a Ford está a fechar uma unidade fabril, da qual a Ineos já contava ir buscar alguns trabalhadores e até tecnologia.

Com este anúncio, fica a ideia que a produção poderá ser integralmente feita na fábrica que a Ford vai fechar.

O plano era começar com 200 novos postos de trabalho, com potencial de chegar aos 500, com a produção a arrancar no final de 2021 e as primeiras unidades a ser entregues aos clientes no início de 2022.

Mas estas datas carecem agora de confirmação, apenas alguns dias após a Ineos ter mostrado as primeiras imagens do Grenadier.

Mas o melhor é fazer um “flashback” para perceber de onde veio esta ideia.

Grenadier em “flashback”

Sir Jim Ratcliffe é o dono do Grupo Ineos, com sede no Reino Unido e que inclui 34 empresas de áreas da petroquímica, químicos especiais e muito mais.

Tem 183 fábricas em 26 países e emprega globalmente 22 000 pessoas. Ratcliffe é de há muito um entusiasta por automóveis, especialmente 4×4, com larga experiência de condução off-road.

Sendo um adepto confesso do anterior Defender, quando em 2016 a Jaguar Land Rover terminou a produção do histórico 4×4, Ratcliffe propôs comprar a linha de montagem e continuar ele com a produção. Mas a JLR não aceitou.

Numa noite de copos com alguns dos seus amigos, que partilham a mesma paixão, no seu Pub preferido de Londres, o Grenadier, nasceu a ideia de “se não me deixam fazer o Defender, vou eu fazer o meu 4×4.”

Estilo revelado

Quatro anos depois, o estilo do Grenadier 4×4 é mostrado ao mundo e todos ficam a perceber o óbvio: o desenho pouco mais é do que uma evolução e atualização do Defender 110.

Quase se podia falar de plágio, não fosse o caso (muito bizarro) de a JLR não ter registado a patente do desenho do Defender.

Na verdade, o autor do desenho do Grenadier 4×4 nunca tinha feito um carro, sendo especialista em iates de luxo e arquitetura. Mas não se pode dizer que tenha feito um mau trabalho.

Talvez só falte mais personalidade à frente, onde um símbolo da marca a meio da grelha não ficava mal…

A Ineos diz que preferiu mostrar já o aspeto final do Grenadier 4×4, a 18 meses da sua comercialização, para poder levar a cabo os 1,8 milhões de km de testes que ainda faltam fazer, sem ter que se preocupar em camuflar o carro.

Utilitário, sobretudo

A prioridade do projeto foi ocupar o lugar deixado vago pelas versões de trabalho do antigo Defender, por isso a robustez e a versatilidade são as prioridades.

Há alguns detalhes que mostram isso mesmo. As portas são fáceis de desmontar, há uma calha na linha de cintura que serve para montar diversos acessórios, como jericans. Também há tomadas elétricas exteriores.

O tejadilho já tem reforços que permitem o transporte de alguns objetos, sem necessidade de montar um cesto de carga, que obviamente estará disponível.

Aliás, a Ineos terá uma linha de acessórios extensa, mas espera também que empresas externas façam mais uns quantos, compatíveis e autorizados.

O portão traseiro está dividido em duas partes desiguais, com a maior a suportar a roda suplente e a mais pequena a abrir primeiro, para deixar guardar objetos pequenos com facilidade.

Até os para-choques têm resistência suficiente para quem se quiser sentar neles.

Interior ainda não foi mostrado

Do habitáculo pouco se sabe, além de que terá todos os equipamentos modernos de conetividade e assistência à condução, além de um piso lavável.

Interessante é o conceito defendido pela marca de que vai aproveitar todos os espaços no interior, não vai tapar uma determinada zona só para ficar mais agradável à vista.

Ratcliffe não terá construído o seu império industrial “atirando-se de cabeça” a cada novo projeto, e também não o fez com o Grenadier 4×4. Assinou acordos com os melhores parceiros para garantir a qualidade do produto final.

Quem são os parceiros?

Os motores a utilizar vão ser unidades de seis cilindros em linha e 3.0 litros fornecidos pela BMW, a gasolina e gasóleo.

As especificações finais ainda não foram divulgadas, mas estas famílias de motores B57 e B58, quando aplicadas nos modelos BMW, vão dos 260 aos 400 cv.

A caixa de velocidades é uma ZF automática de oito relações e o chassis é feito pela Gestamp.

Mas a parceria mais importante é com a Magna Steyr, conhecida pela sua competência no desenvolvimento e produção de séries de baixo volume. A afinação da suspensão vai ser um dos seus trabalhos.

A Ineos não anunciou volumes de produção, mas um dos seus responsáveis garantiu que 25 000 unidades por ano chegam para ganhar dinheiro.

Uma estrutura clássica

Em termos de conceito, o Grenadier 4×4 é bastante conservador, com uma arquitetura de chassis de longarinas e travessas, separado da carroçaria, que é feita em aço, com painéis de alumínio (portas e capót) e plástico.

Mais surpreendente é o facto de usar dois eixos rígidos, com molas helicoidais, numa altura em que até o novo Mercedes-Benz Classe G (com o qual partilha as dimensões gerais) já usa suspensão dianteira independente.

Terá também uma caixa de transferências separada e diferenciais bloqueáveis, além de controlo de tração.

Os objetivos são claramente garantir a maior competência na condução fora de estrada, o que determinou a colocação das rodas nos extremos da carroçaria e uma grande distância entre as rodas e os guarda-lamas. Consegue assim bons ângulos de ataque e de saída.

Outros detalhes relevantes para quem usar o Grenadier 4×4 como veículo de trabalho são a carga útil anunciada de uma tonelada e capacidade de reboque de 3,5 toneladas. O peso do carro será de 2400 kg, mas os primeiros protótipos estão ainda 80 kg acima.

Tão confortável como o Wrangler

Contudo, uma utilização diária em estrada não será um “martírio”, garantem os técnicos da Ineos que apontam para o Jeep Wrangler como equivalente em termos de comportamento dinâmico e de conforto de suspensão.

As primeiras carroçarias a vender em 2022 vão ser a Station Wagon de quatro portas e a Pick-up de cabine dupla. Mas é possível que uma versão curta de duas portas surja mais tarde.

Os mercados prioritários para o Grenadier 4×4 são o Reino Unido, EUA, Austrália, África do Sul e Alemanha. Para já, os preços ainda não foram anunciados.

Contudo, foi dito que não será tão barato como as pick-up fabricadas em grandes volumes na Ásia e que terá nos (poucos) 4×4 puros que restam no mercado os seus principais rivais.

No Reino Unido, a imprensa local avança com valores a partir das £40 000.

Conclusão

Ratcliffe diz que o Grenadier 4×4 é um veículo destinado a quem o quer usar para trabalhar. Não duvido que uma parte dos compradores tenham esse perfil.

Mas parece-me óbvio que muitos outros compradores vão ser atraídos pelo visual “puro e duro” do Grenadier, em si um certo “lifestyle”. Na verdade, tal como aconteceu com o seu antecessor espiritual, o Defender.

Teria sido melhor para o novo Defender seguir este caminho de estilo evolutivo, levemente nostálgico, que tomou o Grenadier e também o Mercedes-Benz Classe G?

A resposta não é fácil e está sobretudo ligada ao total reposicionamento do novo Defender, que o atirou para o segmento de luxo. O Grenadier pretende manter-se bem mais acessível.

(Atualizado a 4/6/2020)

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