13/12/2019 – Não contentes com as exigentes normas anti-emissões que estão previstas até 2030 os políticos europeus anunciaram que as vão tornar ainda mais duras. Consciência ecológica, oportunismo político ou suicídio das estruturas sociais dos estados?

 

A pressão dos grupos ditos ecológicos está a ter um efeito crescente na sociedade, com os políticos a serem os primeiros a sucumbir a esta febre.

Alguns ativistas geram o pânico entre alguma população, convencendo-a a aderir a uma nova “religião” que, tal como as outras, anuncia o caos, a calamidade, o fim do mundo.

Alguns “orgãos de informação” vão atrás da notícia imediata e transmitem tudo o que sai da boca desses arautos da desgraça, sem o mínimo de contextualização, sem auscultar o contraditório, assumindo tudo como a verdade absoluta, a religião.

Os políticos vão atrás do voto fácil, claro. Se o assunto mexe com a população, há que fazer aquilo que a população acha que deve ser feito. Mesmo que esteja mal informada.

Dar ao votante aquilo que o votante quer é a eleição a torna-se num qualquer produto de venda massificada.

Talvez seja a luz ao fundo do túnel, para uma classe política velha de hábitos que acelera a fundo para a irrelevância, castigada pela abstenção galopante.

Uma fuga para a frente ou (mais uma) cedência a lóbis e poderes dissimulados. Ontem era a indústria do petróleo que mandava, hoje é a indústria do combate ao CO2.

Redução de CO2 vai de 40% para 65%

Vem isto a propósito do anúncio que as normas anti-poluição previstas para os próximos anos, afinal podem ser alteradas.

Em vez de uma diminuição de CO2 de 40% entre 1990 e 2030, agora os politicos começam a falar em reduzir esse valor em 55 a 65%, para o mesmo período.

A meta é a neutralidade em 2050. Mudam-se as regras a meio do jogo e exige-se ainda mais de todos, incluindo dos construtores de automóveis.

É claro que a poluição gerada pelos automóveis, entre muitas outras, tem que ser travada. O convívio, no mesmo espaço, de motores térmicos e de seres humanos tem o resultado que se conhece: o maior problema de saúde pública na Europa.

As doenças dos foros respiratório e cardiológico têm, em grande parte, origem na poluição que atinge quem vive nas cidades.

Cidades que são cada vez maiores, com mais habitantes e mais carros. E isso tem um custo, muito elevado, para os sistemas de saúde pública.

Os custos da transferência energética

A transferência energética tem o poder de resolver esse assunto, sem dúvida. Mas não através da simples substituição dos carros com motores térmicos por carros com motores elétricos.

Essa é apenas uma parte da solução e nem sequer é a mais importante. Mas é a mais fácil de implementar. Para a política, fica apenas o papel de estabelecer regras e depois de as alterar ao sabor das pressões públicas.

A verdadeira transferência energética, no que ao transporte de pessoas diz respeito, passa por transformar por completo o paradigma da mobilidade. Não é substituindo o motor térmico por um motor elétrico num carro que se resolve tudo.

Transportes públicos coletivos elétricos

A mobilidade sustentada e não poluente passa sobretudo pela reformulação do transporte público coletivo.

É urgente que a oferta aumente de quantidade e de qualidade. É urgente que os transportes públicos coletivos se tornem mais flexíveis, mais pontuais, de melhor qualidade.

É urgente que se tornem elétricos. É urgente que sejam suficientemente bons, para que o transporte privado individual seja redundante.

Mas tudo isso implica investimentos públicos avultados, significa desviar fundos de obras de fachada para uma área que não dá votos no imediato.

Direito de ter um carro

É sabido que, sempre que se melhora um pouco os transportes públicos, a adesão dos utentes cresce e a resposta do sistema volta a ser deficiente.

Aliás, esse aumento da procura demonstra o contrário daquilo que alguns defendem: que as pessoas têm o direito de optar pelo transporte privado individual. É claro que têm o direito!

Mas a verdade é que o crescimento da utilização privada e individual do automóvel foi a resposta à degradação da oferta de transportes públicos. Não foi uma escolha, foi um remédio.

É preciso um investimento sério e consistente nos transportes públicos coletivos elétricos para se começar a resolver o problema da mobilidade sustentada, a caminho das emissões zero locais.

Incentivos são pouco democráticos

Em vez disso, vemos os políticos a oferecer incentivos a empresas que comprem veículos híbridos “plug-in” e a perdoar impostos a quem compre um dispendioso carro elétrico.

Os construtores de automóveis dizem que estão a ficar asfixiados, que as exigências súbitas de redução de emissões poluentes os vão obrigar a fazer investimentos colossais.

Que os vão obrigar a deixar de produzir alguns modelos de automóveis, nomeadamente os mais pequenos e mais baratos, pois o custo de lhes reduzir as emissões poluentes nunca consegue ser amortizado nas minúsculas margens de lucro.

Por mais irónico que possa parecer, vão ser os carros com motores térmicos que menos poluem, os primeiros a deixar de ser produzidos.

Os construtores não se podem dar ao luxo de produzir modelos que emitam CO2 acima da média que são obrigados a cumprir. E a solução mais fácil será retirar esses modelos da produção. Os desportivos estão em grande risco, como é óbvio, mas os SUV também.

Menos produção, menos fábricas, mais desemprego

Menos modelos produzidos implica menos fábricas a funcionar e mais desemprego. Mais desemprego implica mais custos sociais, a equação não parece difícil de resolver…

Mas talvez os políticos, vorazes de votos, ainda a não tenham resolvido.
Talvez ainda não tenha chegado a altura em que os custos sociais com o desemprego sejam tão altos que os obriguem a fazer marcha-atrás.

A acontecer, será a pior das notícias. Será um cenário de incompetência absoluta, um cenário em que não se resolveu a questão da poluição nas cidades, mas se agravou o desemprego e os custos sociais, colocando de imediato uma subida de impostos no horizonte.

Conclusão

É um verdadeiro “harakiri” em que está transformada a proclamada transferência energética, alimentada pela incompetência da classe política europeia. Enquanto isso, os seus homólogos asiáticos e Norte-americanos, com mercados automóveis maiores, vão sorrindo por não terem apanhado esta “febre” do CO2.
Francisco Mota

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