05/07/2019. A PSA colocou os seus maiores cérebros a pensar no futuro da mobilidade. No final, identificou as sete Mega-tendências, mas estão lá as respostas às nossas perguntas?

 

Para onde vamos? Será que os carros elétricos são o futuro? E os stands vão acabar? Vamos comprar carros na Internet? Ou vamos deixar de comprar carros?

Estas são as principais perguntas que passam pela cabeça de quem se interessa pela mobilidade, um termo sofisticado para aquilo a que antes se chamava… o transporte.

O foco da atenção está muito centrado no transporte diário de pessoas, a tal mobilidade que hoje se quer geminar com a eletricidade. Mas esse está longe de ser o único problema a resolver nos próximos anos.

À procura das Mega-tendências

Para tentar perceber quais são as “Mega-tendências” para os próximos anos, a PSA colocou os seus maiores cérebros a analisar o atual emaranhado de problemas, de soluções e de caminhos apontados por inúmeras entidades. E pediu-lhes que projetassem tudo isso no futuro próximo.

O objetivo era isolar as principais tendências, tentar perceber para onde vai a mobilidade humana, quais as escolhas e as condicionantes. Não foi um trabalho de adivinhação, mas teve que puxar pelo empirismo, por um olhar perspicaz sobre o que está a acontecer.

Ir além dos números

Um olhar que tinha de ir além dos números, dos relatórios e dos estudos, um olhar que efetivamente pudesse perceber para onde vamos.

Depois de vários meses de trabalho a PSA fez o anúncio das sete mega-tendências.

Sete áreas em que a mobilidade das pessoas vai evoluir. Sete áreas que englobam tantas perguntas como respostas.

O exercício não terá tido a ressonância mediática que merecia, apesar de os resultados terem sido profusamente publicitados ao longo do último ano, em variadíssimos eventos. Alguns dos quais em que estive presente.

A nova “Bíblia” e os sete pecados mortais

Para a PSA, isso quase se tornou na sua nova “constituição da República”, a sua nova “Bíblia”. Mas a verdade é que os resultados são aplicáveis a todos os atores relacionados com a mobilidade. Às marcas, aos governantes e aos simples utilizadores.

São também os sete “pecados mortais” para quem não lhe dê a devida importância no imediato.

Não contêm problemas de resolução no curto prazo, mas quem achar que ainda está tudo muito longe, só perceberá que estava enganado quando for demasiado tarde.

1 – Divergência dos mercados

Os grandes mercados de automóveis do passado foram sendo substituídos por outros, com a China a ser o principal exemplo.

Passou de uma zona quase irrelevante para o principal mercado mundial. Em poucos anos.

Mas outras áreas do globo estão já na linha da frente para lhe seguir o exemplo. A Índia é o mais óbvio, sabendo-se da apetência da população pela mobilidade e pela subida ao próximo nível de qualidade, no que a este setor diz respeito.

É preciso que os construtores tradicionais estejam atentos à emergência de novos mercados e se deixem de concentrar apenas nos tradicionais, que estão cada vez mais saturados e com dificuldades de crescimento.

2 – A partilha do automóvel

Já está na rua. Hoje, é possível utilizar um carro que está estacionado na rua e voltar a deixá-lo estacionado noutro sitio qualquer, para o próximo utilizador o levar.

É a partilha do automóvel, ou o “car-sharing” como muitos usam, pensando que o termo inglês dá mais credibilidade à ideia.

Este serviço entra em concorrência direta com a propriedade do automóvel, que passa a estar em causa: por que razão vou comprar um carro, se posso ter um disponível sempre e apenas quando precisar?

E sem ter nenhuma das preocupações habituais, como o estacionamento, os seguros, a manutenção e tudo mais.

Alguns especialistas afirmam que o desejo de posse continuará sempre a existir, mas parece-me que andam a falar pouco com gente nova.

3 – Ambiente e poluição

É um tema super-complexo, que joga desde logo com dois conceitos, nem sempre coincidentes: a poluição global e a poluição local.

Acerca da segunda, a que afeta as cidades e diretamente a saúde pública, todos estão de acordo.

São precisas medidas urgentes para tirar os carros com motor de combustão interna das cidades.

Isso já começou nos centros históricos, mas vai alastrar ao perímetro das cidades. O mais provável é que apenas possam entrar carros elétricos.

Mas o mais urgente é que as entidades governamentais façam o seu papel na eletrificação dos meios de transporte público coletivos. Não é com trotinetes que se resolve o problema…

O segundo plano é o da poluição do planeta, com as emissões de CO2 à cabeça. O automóvel tem sido diabolizado neste ponto, apesar de contribuir com uma pequena parte. É preciso uma atitude mais séria em relação a este tema.

4 – Conetividade

Tudo começa e acaba no “smartphone”, os fabricantes da nova caixinha mágica pegaram-nos o vício e nós, os consumidores, ficámos “agarrados”.

Hoje, queremos (e podemos) fazer quase tudo no “smartphone” mas o que fazer quando estamos a guiar e não o podemos (devemos…) usar?

É aqui que entra a conetividade contínua, com o automóvel a ter que evoluir muito para manter o indivíduo conectado, sem complicações de incompatibilidades de sistemas, de protocolos informáticos e de outras maçadas que levam os condutores a preferir continuar a usar o “smarthopne”, em vez de o integrar no sistema de infotainment do carro.

É possível que estejamos perto do fim desses sistemas, substituídos por uma otimização do acesso ao “smartphone” enquanto se conduz. O comando por voz terá aqui um papel fulcral.

5 – Condução autónoma

Mais um dos temas preferidos da comunicação social. A utopia do piloto automático está cada vez mais próxima do automóvel, defendem alguns. Outros dizem o contrário, que ainda faltam décadas para um carro que se conduz a sí próprio ser realmente seguro.

Há vários cenários. O mais fácil será a criação de faixas próprias só para carros autónomos, de preferência isoladas, para não serem atravessadas por animais.

O segundo passo será nos transportes públicos coletivos com trajetos fixos e antes disso as autoestradas. O principal problema é a convivência entre condução autónoma e humana.

As possibilidades que esta tecnologia traz à fisionomia dos automóveis e à segurança são enormes. Mas é a desconfiança com a segurança que vai atrasar tudo.

6 – Digitalização

A interação entre o consumidor e o fabricante do automóvel põe em causa o papel do comerciante intermediário. Comprar um carro na Internet só depende dos hábitos dos compradores, a tecnologia está toda disponível.

Claro que o carro não vai chegar a casa numa caixa entregue em mão pelos Correios. Mas poderá ser entregue onde o comprador quiser.

O pagamento eletrónico está mais do que resolvido e tudo se joga na confiança dos clientes mais tradicionalistas. Depois, as garantias e o serviço de clientes lida com eventuais insatisfações.

Até a marcação da manutenção pode ser feita por via digital, com recolha e entrega do carro onde e quando o cliente pedir.

É o futuro dos concessionários que está aqui em jogo: aposta forte na manutenção e no acompanhamento do cliente à distância.

Imagine o que podem poupar em oficinas que o cliente deixa de ver, que podem passar a ser multi marca, sem necessidades de uma imagem de marca exclusiva e dispendiosa, só para ter uma fachada.

7 – Comportamento dos clientes

Talvez seja a maior das incógnitas. Até agora, o comportamento dos clientes é dominado pela oferta das marcas, mas espera-se que a situação se inverta e sejam os clientes a dizer aquilo que querem e quando querem.

Por exemplo, ter um carro elétrico para onze meses do ano e depois acesso a um Diesel para as deslocações mais longas, nas férias. É algo que já existe.

Ou ter acesso a um serviço VIP que faça o carregamento rápido das baterias do carro elétrico, enquanto o cliente dorme ou está a trabalhar: na China também já existe.

O acesso a vários tipos de mobilidade complementares é uma exigência já hoje, mais do que um pedido dos clientes. Diminuir as maçadas inerentes a usar um automóvel e potenciar os momentos de utilidade ou de prazer é o objetivo de todos.

Conclusão

Identificar as áreas de trabalho e fazer um diagnóstico rigoroso da situação é o primeiro passo para antecipar a resolução dos problemas.

A identificação das sete Mega-tendências da mobilidade é um trabalho que parece simples, mas que se reveste de enorme complexidade.

É também um exercício que tem um início, mas que não tem um fim à vista, nem sequer se pode garantir que tenha um percurso pré-definido.

As enormes mudanças que ocorreram na indústria automóvel nos últimos anos mostraram como podem surgir novas questões em muito pouco tempo, exigindo novas soluções.

Mas uma coisa é certa: este é um bom roteiro para quem queira começar a viagem.

Francisco Mota

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