Já foi um pequeno e atrevido coupé derivado do Fiesta. Agora voltou, mas é um SUV de cinco portas, maior e semi-híbrido. Ganhou peso com os anos, mas será que continua em forma?

 

A Ford recuperou o nome Puma de um coupé de duas portas feito com base no Fiesta no final dos anos 90, para o usar num novo SUV, que continua a ser feito com base no Fiesta.

É o segundo B-SUV da Ford em poucos anos, o Ecosport não terá sido o sucesso esperado, mas a presença do Puma até lhe está a dar outra visibilidade.

Alguns dos que vão ver o desenho felino e ousado do Puma, acabam por gostar mais do lado prático e discreto do Ecosport. Pelo menos é o que me dizem da Ford.

Guiei o novo Puma SUV nas estradas secundárias do Sul de França, numa região que a Ford usa para testar os seus carros, antes de os pôr à venda, e onde depois costuma regressar para organizar os primeiros ensaios de imprensa.

Também lá tinha guiado o Fiesta ST e o Focus, por isso tinha boas referências: será que o Puma estaria à altura da reputação da Ford na dinâmica?…

Fiesta em versão XL

Para começar, a plataforma é a do Fiesta, mas com dimensões alteradas: a distância entre-eixos é 95 mm maior, as vias são 58 mm mais largas, o comprimento aumentou 146 mm, e a altura subiu 54 mm, bem como a altura ao solo, em 30 mm. Na pratica, subiu meio segmento.

A suspensão manteve o eixo de torção atrás, mas é mais rígido que o do Fiesta, para fazer face aos 60 kg que tem a mais (25 são do sistema semi-híbrido). Por isso, os amortecedores também são maiores e os casquilhos mais duros.

O Puma só tem tração à frente e caixa manual de seis, mas uma automática não vai demorar. Quanto a motores, começa com duas variantes do 1.0 Ecoboost, de 125 e 155 cv, ambas semi-híbridas. Depois vai chegar um Diesel.

As estratégias do semi-híbrido

A grande novidade é o sistema semi-híbrido que utiliza um motor/gerador de 12 kW no lugar do alternador. Nas desacelerações e travagens, o sistema de 48 Volt gera energia que é acumulada numa bateria de iões de Lítio, colocada sob o piso da mala. Nas acelerações, pode adotar uma de duas estratégias.

Em condução calma faz “substituição de binário”, ou seja, o motor elétrico pode fornecer até um máximo de 50 Nm, reduzindo o esforço pedido ao motor a gasolina, o que se traduz numa diminuição da média dos consumos de 9%, segundo a Ford, contando ainda com a desativação de um cilindro.

A segunda estratégia é o “suplemento de binário”, aplicada quando se carrega mais no pedal da direita, situação em que o motor elétrico entrega até 20 Nm de binário, que funciona como um “boost” suplementar ao motor de três cilindros.

A baixo regime, isto pode significar um aumento de até 50% face ao binário que o motor a gasolina está a debitar.

Não anda em modo Elétrico

O Puma não tem um modo de circulação 100% elétrico, não é um “full-hybrid”. A taxa de compressão do tricilíndrico foi diminuída e o turbo é maior, otimizado para regimes mais altos, pois o motor elétrico ajuda nas rotações baixas.

Em cidade, a Ford anuncia uma redução de 15% nos consumos da versão de 155 cv, a que conduzi.

A posição de condução é 60 mm mais alta que no Fiesta. Mas, para B-SUV, é baixa e tem boas regulações de volante e banco. Atrás, há espaço suficiente, não mais que isso.

A mala de 456 litros (401 nesta versão semi-híbrida) é enorme e tem um chapeleira maleável presa à tampa da mala.

A Mega Box, o que é?…

Sob o piso, lá está a Mega Box, um “buraco” no fundo da mala, com 80 litros.

Dá para guardar objetos sujos, pois é forrada a plástico lavável e até tem um ralo, para poder ser lavada com uma mangueira. As capas dos bancos podem ser retiradas para lavar, puxando um fecho de correr.

No habitáculo é fácil encontrar plásticos de qualidade boa e outros menos boa. O painel de instrumentos digital de 12,3” tem leitura fácil e gráficos modernos, tal como o monitor central tátil.

O teto panorâmico ou os bancos com massagens, além do carregamento de “smartphone” por indução, são opcionais.

1.0 de 155 cv: muito bom

Para testar em França, tive ao meu dispor o 1.0 Ecoboost Hybrid de 155 cv, na versão mais equipada ST-Line X, com molas e amortecedores mais firmes que a Titanium.

O motor de três cilindros faz mais ruído que noutros Ford, mas os comandos principais mostram a mesma facilidade de utilização do Fiesta.

Os modos de condução são Normal/Eco/Desportivo/Escorregadio/Trilhos. No Eco, a andar devagar em cidade e autoestrada, gastou 5,2 l/100km.

A suspensão é bastante confortável, mesmo em piso imperfeito (e com jantes de 18”), a resposta do motor a baixos regimes é muito boa, percebendo-se perfeitamente o contributo da parte elétrica.

Em desaceleração sente-se alguma retenção do efeito regenerativo, que se pode confirmar num indicador do painel de instrumentos.

No modo Desportivo, o “suplemento” elétrico ainda se nota melhor, pois a resposta é sempre muito forte e linear a qualquer regime, sem nenhum atraso do turbo, a baixo regime, e “respirando” bem, perto do “red-line”.

Dinâmica está no topo

É claro que o centro de gravidade é mais alto que no Fiesta, mas a suspensão controla muito bem os movimentos da carroçaria, mesmo a andar mais depressa em estradas com curvas mais fechadas.

O comportamento é muito consistente, muito eficiente. Estável e tranquilo, quando foi isso que precisei, ou ágil e divertido, quando foi isso que lhe pedi.

Os limites de aderência são altos, a tração é boa, e quando se ultrapassam, as reações do Puma são progressivas. Deixam o condutor “brincar” um pouco, até que o ESP ache que já chega.

É o melhor SUV do segmento, para quem gosta de conduzir, e com uma boa vantagem.

Conclusão

O Puma voltou como B-SUV mas manteve intacta a reputação da Ford na dinâmica. A estética “felina” poderá ser um pouco ousada, para alguns, mas estão lá soluções de versatilidade válidas e equipamento digno de modelos maiores e mais caros. Agora resta ver como o mercado vai reagir a este novo rival do Renault Captur, que domina o segmento em Portugal há vários anos.

Potência: 155 cv

Preço: 26 669 euros

Veredicto: 4,5 (0 a 5)